O Brasil terá dificuldades para atrair o capital estrangeiro em 2015, o que pode levar o dólar a R$ 3,20 ao final deste ano. A disparada da moeda americana nesta semana, porém, teve muita influência de especuladores, que estão antecipando dificuldades mais graves que o governo pode enfrentar para colocar a economia nos eixos.
A avaliação é do economista Sidney Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO, que vê o câmbio de R$ 2,80 como “justo” no momento.
Folha – A taxa de câmbio reflete a situação econômica atual?
Sidney Nehme – O meu conceito é que R$ 2,80, para o final do trimestre, seja o dólar justo, compatível com a situação econômica do país. O dólar precisa ter o seu valor adequado e, assim, ajudar a indústria. Se não para alavancar as exportações, porque exportar é um processo um pouco mais lento, mas para recompor a presença da indústria no mercado interno. O Brasil precisa conter as importações porque tem um ano pouco promissor nas contas externas.
Por quê o sr. vê deterioração das contas externas?
O país está pouco atraente para investimentos na conta capital, que é o investimento produtivo, e sem a oportunidade efetiva de trazer capital especulativo. E mesmo para o capital especulativo, o real valorizado era um fator quase impeditivo, porque trazia o risco de uma oscilação brusca anular o ganho de quem veio buscar rentabilidade em juros. O dólar mais alto elimina esse receio do investidor, e ele tende a vir [ao Brasil]. O país precisa aumentar o fluxo favorável e, neste momento, não pode escolher qualidade.
O governo está trabalhando nesse sentido?
O Levy [Joaquim Levy, ministro da Fazenda] deu o sinal de que não quer o dólar artificializado. E o mercado ajustou-se. O estado da nossa economia justifica esse ajuste, mas o mercado também procurou precificar a tempestade que pode vir. Aí entra o especulador. A minha previsão é que o Brasil chegue no final do ano com o dólar a R$ 3,20, mas isso será consequência de uma série de desapontamentos que devem ocorrer neste ano.
Que tipo de frustrações?
Quando se consumar que temos menos fluxo e ruído nas contas externas, vai refletir na taxa de câmbio, principalmente se não formos capazes de gerar o superavit primário. O dólar vai buscar no novo preço o grau de dificuldade que se tenha. O que não pode é partir do pressuposto de que nada vai dar certo. Estamos começando o ano, tem que ter um pouco mais de paciência.
Então a forte alta do dólar nesta semana foi especulação?
Você nota que foi por especulação porque o fluxo cambial de janeiro a fevereiro está positivo. Não houve nenhuma demanda exacerbada em termos líquidos que justificariam a pressão efetiva sobre o preço do dólar. Houve um excesso, que vai acabar sendo ajustado, com um pouco de volatilidade.
Está faltando um voto de confiança ao governo?
O nível de confiança está muito baixo. Não falta confiança no ministro, mas na capacidade do governo colocar em prática tudo isso [o ajuste fiscal], já que se vê a própria base de sustentação do governo tendo uma posição contrária. À medida que se verifique a possibilidade de não se cumprir o superavit, aumenta o risco de perda do grau de investimento e aí você tem um fator de alavancagem da taxa. Mas eu não posso precificar isso agora. Está faltando sensatez.
![]() |
Fonte: Folha de São Paulo Link: http://folha.com/no1589887 Autor: Tatiana Freitas Data de publicação: 14/02/2015 |