Ao deixar o dólar disparar e chegar a R$ 2,15, governo desorienta o empresariado, alimenta a inflação e prepara a próxima barbeiragem do Banco Central: a alta desnecessária dos juros. Não faz sentido. Checar a cotação do dólar na tela do computador é uma obsessão para o empresário Marcel Visconde, presidente da Stuttgart Sportcar, importadora da Porsche no Brasil. Sua preocupação com a oscilação cambial é proporcional ao valor dos carros, que varia de R$ 300 mil a R$ 800 mil.
Ao deixar o dólar disparar e chegar a R$ 2,15, governo desorienta o empresariado, alimenta a inflação e prepara a próxima barbeiragem do Banco Central: a alta desnecessária dos juros. Não faz sentido
Checar a cotação do dólar na tela do computador é uma obsessão para o empresário Marcel Visconde, presidente da Stuttgart Sportcar, importadora da Porsche no Brasil. Sua preocupação com a oscilação cambial é proporcional ao valor dos carros, que varia de R$ 300 mil a R$ 800 mil. Uma alta de 6,5% do dólar, como a que aconteceu em maio, significa um reajuste na tabela de preços em reais ou um aperto nas margens de lucro. Por causa dos custos elevados em operações de hedge no mercado financeiro, Visconde prefere não se proteger do risco cambial. Assim, vive uma angústia a cada 40 dias, que é o tempo médio que um modelo da Porsche leva para ser fabricado na Alemanha e chegar ao Brasil.
“A cotação mais importante é a do dia em que o veículo é liberado na alfândega”, diz Visconde. “Não tem jeito: uma alta repentina do dólar freia imediatamente o consumo de carros importados.” As fortes emoções cambiais estão sendo influenciadas por questões econômicas internas, como o crescente déficit em conta corrente, e por expectativas externas, como a possível retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos, que valoriza o dólar mundo afora. No Brasil, o problema é que o governo Dilma embaralha o jogo ao não definir claramente um norte para a política cambial. É uma barbeiragem atrás da outra.
Desde o começo do governo Dilma Rousseff, o câmbio já viveu períodos de longa sobrevalorização e de repentina depreciação (leia quadro ao final da reportagem). A alucinação cambial chegou ao limite na quarta-feira 5, quando o dólar oscilou entre R$ 2,09 e R$ 2,15 durante o pregão, após intervenções no mercado e entrevistas de integrantes do governo. Some-se a isso a equivocada barreira de proteção tributária erguida em 2011 contra as importações de veículos e tem-se uma situação lamentável, em que um erro pode levar a outro pior. Ao permitir a alta exagerada do dólar, o Banco Central encarece as importações, turbina a inflação e prepara sua próxima barbeiragem: a alta desnecessária dos juros, já iniciada pelo BC com o aumento da taxa Selic para 8% em maio.
Se não for interrompida, a manobra cambial coloca em risco a principal conquista do governo Dilma: a tão sonhada queda da taxa de juros. Desde já, mais uma medida atabalhoada foi adotada na esteira do dólar mais caro. Na quarta-feira, o ministério da Fazenda eliminou a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para aplicações de investidores estrangeiros em renda fixa. Foi uma tentativa de corrigir a intervenção feita em 2012, quando o governo exagerou nas barreiras contra um tsunami monetário que nunca existiu. “O capital especulativo, que foi repudiado no passado, agora é bem-vindo”, diz Sidnei Moura Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio. Faz sentido? Não.
A presidenta Dilma negou que a medida tenha o objetivo de segurar o dólar. “Eu queria informar que esse país adota o regime de câmbio flexível”, afirmou Dilma, em Brasília. A frase foi suficiente para atiçar os especuladores de plantão, levando o dólar ao patamar de R$ 2,15. Um pouco antes, a cotação estava em queda por causa da mudança no IOF. No mesmo dia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que “a medida é de longo prazo”. “Não é para ter efeito imediato”, afirmou. Tais declarações levaram o Banco Central a intervir no mercado futuro, suavizando a valorização da moeda americana. Durma-se com um barulho desses. Ao contrário do senso comum, a desvalorização cambial não necessariamente ajuda o setor industrial, que seria beneficiado pelo aumento das exportações.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 22% dos insumos são importados. Uma alta do dólar, portanto, encarece a produção nacional e agrava o endividamento externo de bancos e empresas. “Só a Petrobras captou um recorde US$ 11 bilhões em maio”, lembra Celso Grisi, presidente do Instituto de Pesquisas Fractal. Segundo o BC, a dívida externa do setor privado em abril era de US$ 199 bilhões. Embora torça para que o dólar permaneça acima de R$ 2,00, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, reclama do ioiô cambial. “A volatilidade da taxa de câmbio é um mal extremo para qualquer planejamento”, diz Moan. E sem planejamento, como se sabe, não há investimento.
Fonte: Isto é Dinheiro Link: http://migre.me/eZ9yU Autor: Luís Artur Nogueira Data de publicação: 07/06/2013 |