Análise do Mercado - 23/05/2011
O mercado financeiro internacional ressuscita seus “fantasmas adormecidos” e retornam os temores com os quais conviveu recentemente, que sem terem sido adequadamente superados renovam-se e fazem presente, outra vez, o clima negativo, quase desanimador quanto a encontrar-se solução para os desmandos fiscais cometidos por inúmeros países.
A crise na zona do euro refaz-se com maior intensidade e preocupação, visto que já foi objeto de operações de grande monta de “socorro” financeiro pela comunidade europeia e FMI e não lograram sucesso, o que a faz mais grave.
Na sexta-feira, a Agência de classificação Fitch cortou o “rating” de crédito da Grécia por três graus, passando-o a “altamente especulativo”, colocando-o em território “junk bonds”. Na mesma data, a Agência de classificação S&P reduziu a perspectiva da Itália de “estável” para “negativa”. Portugal já foi objeto de ajuda na semana passada.
Na Espanha, o governo sofreu expressiva derrota nas eleições do final de semana, o que corresponde a uma reprovação pública.
Estes fatos, combinados com uma leitura mais fraca que o esperado na produção na Europa, dado liberado hoje, renova e intensifica as preocupações sobre a crise da dívida da zona do euro, que não se restringe aos países propriamente ditos, mas a toda cadeia de instituições credoras dos mesmos, que poderá ser atingida de forte expressiva.
Consequência imediata, todas as bolsas mundiais operaram e operam em baixa, enquanto o dólar americano se valoriza frente ao euro e os T-Bills se valorizam fechando a curva da remuneração “yeld”, e na ponta as “commodities” ensejam mais uma rodada de queda de preços nas bolsas.
O Euro estava sendo cotado a US$ 1,4038 em queda de 0,86% e o petróleo cedia 2,46% cotado a US$ 97,64 o barril na Nymex.
Por outro lado, a indústria manufatureira da China anunciou o seu nível mais baixo em 10 meses, sinalizando que pode estar ocorrendo uma desaceleração na atividade econômica do país.
Como o mercado global sustenta posições extremamente especulativas e alavancadas, convive com o temor da iniciação sustentável dos ajustes, fica sempre o temor aos investidores se este não é o momento da saída.
Isto provoca volatilidade e oscilações muito bruscas, que nem sempre se sustentam fortes.
O “Financial Times” que, em meados da semana passada, fez uma matéria sinalizando que a “fachada de prosperidade“ brasileira esconde problemas mais profundos, abordando a situação vulnerável dos pequenos bancos, hoje, ganha novo foco com a entrevista do Diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, salientando que o BC prevê novas aquisições e fusões de bancos menores. Embora sensata a entrevista, não deixa de fomentar a ideia de que há problemas em perspectivas com a sustentabilidade destes pequenos bancos, que vinham se mantendo com repasses de carteiras de empréstimos para os grandes bancos, agora um tanto arredios a continuar com esta prática, o que afeta drasticamente a liquidez destes pequenos bancos.
Por outro lado, o mesmo conceituado jornal inglês, realiza matéria em que “especula” que a lua de mel entre Brasil e China dá sinais de que possa estar acabando, pois há conflitos de interesses consideráveis nas relações comerciais.
Por outro lado, o Ministro Mantega, em entrevista reproduzida por vários jornais, parece ter “jogado a toalha” quando afirma que o país não precisa de mais medidas para conter a demanda e o crédito e que o pior momento da inflação já passou, mas a maioria dos analistas está visualizando uma queda nos próximos 3 meses e uma retomada na sequência, quando ocorrem inclusive os vencimentos dos dissídios salariais das classes trabalhadoras mais fortes e organizadas.
Quanto ao real, teria afirmado: “quanto eu não sei, mas o real vai se desvalorizar”.
O fato é que o governo reduziu a previsão para o crescimento da economia neste ano em relação à estimativa feita dois meses atrás. A revisão bimestral do Orçamento, divulgado pelo Ministério do Planejamento, revê reduzindo a expectativa do crescimento do PIB para este ano de 5,0% para 4,5%, ainda acima da projeção do Boletim FOCUS que está em 4,0% e de várias consultorias que situam entre 3,5% e 4,0%.
O sentimento predominante é de que o ritmo da economia continua, ainda, muito aquecido, com o crédito fluindo e a demanda sendo mantida pelos consumidores, e, desta forma torna-se difícil a convergência necessária na curva da inflação.
As medidas prudenciais parecem ter sido suplantadas pelo sistema financeiro que encontrou meios adequados para reabilitar a liquidez, que poderia ter sido afetada com o aumento dos depósitos compulsórios, mantendo assim o crédito em patamares acima do desejado, e como consequência, também o consumo.
O Boletim FOCUS de 20 de maio, divulgado hoje pelo BC, reduz a projeção para os próximos 12 meses de 5,22% para 5,11% e na mesma linha para este ano de 6,31% para 6,27%. O dólar é mantido em US$ 1,62, o mesmo ocorrendo com a SELIC em 12,50%, o crescimento do PIB em 4%, a Produção Industrial em 3,73%, o déficit em transações correntes em US$ 60,0 Bi e os IED´s em US$ 50,0 Bi. Discreta alta no saldo da balança comercial de US$ 19,5 Bi para US$ 20,0 Bi e discreta queda na relação DPL/PIB de 39,26% para 39,23%.
O fato é que numa economia mundial que está “pisando nos seus cacos” e que precisaria estar retirando o volumoso aporte financeiro promovido pelos governos para restabelecer a vitalidade das mesmas desde 2008, de certa forma, o estado presente é desanimador e deixa extremamente confusa e imprevisível qualquer nova perspectiva que se deseje formular, provocando a intensificação das incertezas e provocando o aumento da volatilidade.
É temerário que num quadro confuso como este, os especuladores possam promover o desmanche de suas posições especulativas, o que tornaria ainda mais crítica à situação.
Por isso, nos parece que a afirmativa do Ministro Mantega de que “quanto, eu não sei, mas o real vai se desvalorizar” parece compatível com o momento, pois ante a incapacidade do governo de promover o que o mercado não vem permitindo, somente o inusitado e imprevisto poderá fazê-lo.
Afinal, se ocorrer uma revigoração da crise iniciada em 2008, o Brasil de hoje está muito diferente, precisa jogar na “retranca” na expansão dos gastos e no rigor da política fiscal, para não ir junto na onda, e isto, se ocorrer, repercutirá no preço dos ativos, inclusive do dólar.
A alta expressiva do dólar no nosso mercado repercutindo o cenário externo denota que há preocupações de especuladores com o quadro, valendo lembrar que os “hedge funds” continuam apostando a favor do real no cupom cambial-DDI com posição liquida “vendida” de US$ 10,3 Bi e mais US$ 7,0 Bi no dólar futuro.
Cada vez mais fica evidente que esta não é uma boa temporada para continuar especulando com o real.