Os inúmeros segmentos globais ainda parecem reticentes em adotar uma atitude mais drástica de repúdio à disputa política americana, que envolve a questão fiscal do país e acaba por gerar incertezas, especulações e um clima indefinido no curto prazo.
Parece-nos que para por fim a esta relutância entre republicanos e democratas americanos, o mercado global precisa ficar efetivamente de mau humor e sinalizar isto com intensidade através seus números.
O mercado global precisa “piscar” e esta parece ser a senha para que a convergência entre os políticos ocorra , amenizando as divergências repetitivas e cheias de picuinhas e estratégias políticas presentes.
E esta perspectiva de mau humor acentuado se vier a se tornar efetiva pode causar fortes oscilações, principalmente nos preços das moedas e por isso muito temerário para o Brasil que está no momento, face ao contexto externo e mais acentuadamente face aos seus próprios problemas com as contas externas bastante deterioradas, muito vulnerável a estes eventuais movimentos e, além disto, esta praticando uma taxa cambial com excessos de apreciação do real, portanto fora do ponto de equilíbrio face ao “status quo”.
Não podemos perder de vista que os “comprados” no mercado futuro vem mantendo suas posições, principalmente os investidores estrangeiros, pois tem uma visão prospectiva de que o Brasil poderá ter pressões sobre o preço da moeda americana e, inegavelmente, há fundamentos para tanto.
Esta semana, mais precisamente dia 17 próximo, o teto de endividamento do governo americano será alcançado e, não é razoável imaginar-se que até lá não será alcançado um acordo, mesmo que frágil e temporário, e que depois vá se arrastando por períodos, sem uma solução consensual absoluta.
Ainda restará a questão do orçamento americano, mas o “recado” que o mercado global pode emitir também tenderia a impulsionar a solução desta questão.
Foi assim num passado não tão distante em que vivenciamos contexto quase semelhante, quando as bolsas americanas apresentaram dantescas quedas e as moedas oscilaram fortemente, assim como outros ativos relevantes e as moedas grande volatilidade.
Acreditamos que possa haver repetição de mau humor generalizado no mercado global extrapolando suas apreensões com o embate político atual no Estados Unidos, e a partir do qual tudo será agilizado para que se alcance a superação do impasse.
Por outro lado parece consensual que as mudanças no programa de incentivo monetário do FED americano serão postergadas para o ano que vem, e esta é quase considerada uma decisão dada considerado o perfil da nova Presidente do FED americano, a partir de janeiro do ano que vem, e dos indicadores econômicos atuais do Estados Unidos que não sancionam mudança já.
Dependendo da solução que seja alcançada para a questão do teto do endividamento americano, este fato poderá dar fôlego e oportunidade para que os países emergentes deixem de perder de imediato capitais estrangeiros que detêm aplicados e ainda atrair um pouco mais, mesmo que especulativos, promovendo um alivio temporário, em especial para o Brasil que tem situação bastante desconfortável com as suas contas externas.
Mas, esta é uma questão que deve permanecer sobre a mesa ao longo de 2014 e dependendo do “timing” e intensidade poderá ter impactos fortes no preço da moeda americana e no juro no mundo todo, avançando sobre os preços das “commodities” colocando-os em baixa, afetando ainda mais a nossa vantagem na relação dos preços de troca, hoje já não tão exuberante, e que poderá fazer estragos significativos nas nossas contas externas o ano que vem, salvo se o governo conseguir atrair investimentos estrangeiros para a revitalização da nossa infraestrutura em volume considerável.
Em suma, há prospectivamente um viés de alta no preço da moeda americana no nosso mercado para o ano que vem, e há possibilidade de oscilações expressivas ainda este ano se o mercado global revelar humor intenso negativo com a questão americana, tendo em vista que estamos praticando um preço para o dólar com excessiva apreciação do real.
R$ 2,17/R$2,18 está absolutamente fora do ponto de equilibro razoável para o contexto atual. O Presidente Tombini do BC já tem manifestado que o programa de oferta diária de liquidez poderá continuar em 2014, e isto deixa evidente a visão bastante clara que tem a respeito do cenário adverso que poderá afetar o Brasil.
Não há razões criveis para este otimismo presente e para termos esta taxa cambial neste momento. A tendência atual é que os bancos assumam posições “vendidas” bastante expressivas até o final do ano para que o BC não seja levado a ter que vender dólar à vista ao mercado. Esta será uma atenuante, mas longe de ser uma solução sustentável.
Há com o que se preocupar no curto, médio e longo prazo no mercado cambial. O preço da moeda americana poderá vir a sofrer uma apreciação repentina, pois havendo sinais de alta certamente se intensificará a demanda no mercado a vista e no futuro de dólar, sem desconsiderar que os “comprados” podem pressionar especulativamente.
Continuamos projetando um preço de dólar de R$ 2,30 para o final do ano, mas, efetivamente, já estivemos mais convictos do que neste momento, pois com o real excessivamente apreciado e havendo uma mudança de comportamento global pode ocorrer oscilação brusca e isto provocar demanda imprevista tanto no mercado a vista quanto no futuro de dólar.
Hoje é feriado nos Estados Unidos, e assim sendo haverá somente 3 dias para solução do impasse em torno do teto do endividamento. Se o mercado global passar a demonstrar sua inquietação com o impasse e mudar fortemente de humor será a partir de amanhã.
O BOLETIM FOCUS, divulgado hoje com data de 11 do corrente pelo BC, eleva a projeção do IPCA para os próximos 12 meses de 6,23% para 6,24%,enquanto que para o final do ano reduziu de 5,82% para 5,81%. No câmbio, reduziu a projeção de R$ 2,30 para R$ 2,29, o que nos parece sem sentido, pois não há fundamentos para esta redução. Manteve a projeção da SELIC em 9,75% e elevou a projeção do PIB 2013 de 2,47% para 2,48% e a produção industrial de 1,70% para 1,80%.
Nos quesitos déficit em transações correntes manteve a projeção negativa de US$ 79,0 Bi e dos IED´s em US$ 60,0 Bi, tendo realizado discretíssima redução da projeção de saldo da balança comercial de US$ 2,0 Bi para US$ 1,99 Bi.