Nos Estados Unidos, onde a confiança do consumidor subiu em agosto e os dados do PMI trouxeram otimismo, em linha com o PIB que está em ritmo de 4,2% anualizado, a criação de vagas no mês de agosto teve forte desaceleração criando tão somente 142 mil novos postos de trabalho, menor em 8 meses e quebrando uma sequência de 6 meses acima de 200 mil, contra projeção de 225 mil, dando mais razões para que um cauteloso FED aguarde mais tempo antes de elevar as taxas de juros. A taxa de desemprego recuou de 6,2% para 6,1%.
O dado é relevante, mas quanto pesará na propensão do FED vir a alterar a política monetária americana?
Contudo, ao mesmo tempo o BCE reduz o juro para 0,05% e negativo de 0,20% para os depósitos que acolher dos bancos, ao mesmo em que anuncia um programa de compra de ativos, inclusive lastreados em ativos do setor privado (hipotecas e financiamentos para pequenas empresas) que só será dado a conhecer em detalhes em outubro próximo.
Em tese, segundo manifestação do Presidente do BCE, Mario Draghi, o programa poderá chegar a US$ 1,0 Tri, num esquema em que os bancos fariam empréstimos que, posteriormente, seriam reunidos em títulos que seriam negociados com o BCE. O anseio do BCE é que as instituições forneçam mais crédito para empresas e pessoas físicas.
Em junho o BCE já havia criado linha de crédito de Euros 400,0 Bi para os bancos emprestarem às empresas.
Porém, há um fator extremamente relevante que conspira contra os objetivos do BCE: a demanda extremamente fraca. A economia da euro zona está estagnada, há excesso de capacidade de produção em toda região que corrói os efeitos da política monetária.
O efeito imediato foi desvalorizar o euro frente ao dólar aumentando a competitividade dos produtos exportáveis principalmente para os Estados Unidos, onde a economia sinaliza recuperação, o que poderia ajudar a reduzir o excesso de capacidade de produção.
A medida provoca a valorização do dólar, pois passa a ser demandado no mercado internacional para aplicação dos recursos com remuneração negativa se depositados no BCE.
Teoricamente, a ação do BCE tenderia a fortalecer as moedas emergentes consubstanciada na ideia de que a liquidez global seria mantida substituindo a que vinha sendo proporcionada pelo QE americano. Contudo, há o fator da demanda fraca por tomada de recursos na Europa e também o fato dos europeus serem mais conservadores e buscarem comprar papéis dos países da própria região ou então os T-Bills americanos.
O Brasil paga a maior taxa de juro real do mundo, mas há muitas incertezas presentes e custos adicionais de “hedge” que afetam o juro real, e este contexto pode tornar o país não tão atraente como se possa imaginar, deixando, pelo menos neste semestre de ser tão interessante quanto parece.
Importante lembrar que há neste momento uma indisposição de humor da União Europeia em relação ao Brasil, em razão da busca de ocupação do seu espaço no fornecimento de produtos agrícolas à Rússia.
Então, a ação do BCE sugere moderação por parte dos países emergentes, incluindo o Brasil, pois os fluxos poderão não fluir para os mesmos.
O acordo de cessar fogo entre os rebeldes pró-Rússia e a Ucrânia pode promover revisões nas restrições impostas à Rússia, até porque a Europa tem interesse em retomar as exportações e as importações, inclusive de gás, da Rússia.
E no Brasil a inflação de agosto pelo IPCA apontou 0,25% e reconduziu no acumulado dos últimos 12 meses a taxa ligeiramente acima do teto máximo da meta apontando 6,51%.
Por outro lado, as pesquisas eleitorais amenizaram o otimismo exacerbado do mercado financeiro.
E, como dissemos na semana passada, o Brasil, a despeito de tudo que ocorra no cenário externo, terá um movimento de saída de recursos, em especial especulativos, revertendo os fluxos dos primeiros meses deste ano e ocorrendo uma retração nos fluxos de investimentos, por razões já expostas.
Há um quadro prospectivo de curto/curtíssimo prazo muito complexo para ser gerido pelo BC, havendo riscos e tendência de elevação sustentável do preço da moeda americana.
Observando o movimento que denominamos de “transição da demanda do mercado futuro para o mercado à vista” observamos que até 5ª feira os “estrangeiros” haviam reduzido em mais US$ 1,2 Bi suas posições compradas no mercado futuro, o que sugere que continuam retirando recursos do país.
Continuamos com as nossas antigas convicções de que haverá um quadro complexo no curto/curtíssimo prazo para o câmbio, propenso a “trepidações” que levarão o preço da moeda americana à apreciação, e que colocarão à prova a estratégia presente que vem sendo praticada pelo BC.