O mercado financeiro anseia por uma mudança forte de atitudes do governo Dilma na área econômica, e rumores propagados pela mídia insinuando troca do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo Presidente do BC, Alexandre Tombini, e, este dando lugar a Henrique Meirelles, provocaram um efeito positivo nos humores dos negócios, e, o dólar foi operado em depreciação e a Bovespa ganhou fôlego.
Um choque de credibilidade, assim foi entendida a eventual mudança comentada, a partir de novos gestores da política econômica do governo, ponto que tem sido foco de severas críticas internas e externas, pois o país patina sem conseguir o desejado crescimento e, sem conseguir, convincentemente, promover a convergência da curva inflacionária para baixo.
O quadro da economia brasileira é bastante desfavorável e altamente complexo, dada à absoluta dificuldade de viabilizar, em concomitância, os objetivos de crescimento e contenção inflacionária, que são inquestionavelmente antagônicos.
A situação que o país se depara no momento tem este contexto conflituoso, e assim corre o risco de duplo insucesso, continuando com baixo crescimento e sem sucesso por focar ações para este ou aquele setor e não algo macro, abrangente e maior. A estratégia na forma de “colcha de retalhos” ou “tapa buracos” fulmina a política fiscal sem conseguir impulsionar o crescimento, e, promove gastos excessivos que acabam impulsionando a inflação.
Evidentemente, nova estrutura de pessoas e poderes pode reabilitar a credibilidade de que poderão imputar novas diretrizes na política econômica do país, porém, não há milagres, os “danos” havidos demandarão tempo para serem reordenados, justamente num momento em que o cenário internacional é bastante desfavorável para o Brasil.
Os efeitos imediatos numa eventual confirmação de mudança serão de otimismo, mas isto precisará ser transformado em novos planejamentos e novas estratégias, que poderão ter maior aderência dos setores econômicos, mas não devemos esperar algo fora do comum, pois antes de construir a nova trajetória, será necessário reconstruir o que está mal feito no caminho, ágoras, antes, há um passivo a ser resgatado.
O Brasil cresceu num momento em que havia enormes flancos ociosos na produção nacional e na capacidade de consumo da população. Aproveitou o todo possível, desta forma cresceu sem necessidade de grandes investimentos, bastou ocupar a capacidade ociosa da indústria e estimular a concessão de crédito para alavancar o consumo, principalmente daqueles que nunca tinham tido acesso a financiamentos.
O modelo parece esgotado, na parte da oferta de há muito, visto que as importações tem cumprido o papel da complementação da oferta nacional para atender a demanda, seja na forma de insumos, seja na forma de bens de consumo.
A indústria nacional não reagiu com os níveis de investimentos requeridos e acabou quase sucateada, ao perder espaço para os importados, com a ajuda adicional de uma política francamente pró-apreciação do real, com o objetivo de conter a inflação pressionada pelos gastos excessivos do governo.
O governo não conseguirá fugir do drama da “Escolha de Sofia”, pois precisará priorizar o que deseja fazer primeiro, pois não há truques que permitam crescimento sustentável num contexto que impõe medidas anti-inflacionárias.
Mas ontem houve mais do que isto.
A China amenizou os indícios de pressão sobre os bancos, pois os ruídos foram intensos demais.
E, nos Estados Unidos, Presidentes de FED´s regionais buscaram mitigar os efeitos das declarações do Presidente maior, Ben Bernanke, sobre o término do programa de incentivos monetários.
Isto acalmou um pouco as exacerbações puxadas pelos especuladores e mais apressados, mas, no fundo são fatores reais presentes no cenário global, aliviados só na forma de comunicação.
O Brasil atual difere do Brasil de anos pré-crise internacional de 2007/2008. Consumimos toda a “gordura” existente, sobrou o osso, e este só com os investimentos que não foram realizados poderá restabelecer a linha de crescimento.
O mundo financeiro global perdeu atratividade pelo Brasil, que passou a ser observado mais por suas fragilidades, pontuadas de forma severa pelo mercado financeiro internacional e que estão merecendo atenção especial das agências de “rating”, primeiro a S&P, depois a Moody´s e agora a Fitch que deve se manifestar ao final de julho. Todas não descartam a possibilidade de rebaixamento, que pode chegar a perda da condição de grau de investimento. Isto seria traumático para o país.
O Brasil claramente perdeu o “timming” para reabrir-se ao capital estrangeiro de fluxo mais intenso, e, assim dos pressupostos “tsunamis” chegou à “ressaca” de dólares.
Tardiamente, pelo menos com um semestre de atraso, revogou as barreiras tributárias com o IOF de 6% nos ingressos direcionados para renda fixa, e, o IOF de 1% incidente sobre os derivativos.
Os resultados até o dia 19 deste mês de ingressos direcionados à renda fixa até surpreenderam com os US$ 4,9 Bi, mas passaram quase desapercebidos, visto que foram neutralizados pelas saídas da Bovespa da ordem de US$ 3,5 Bi. Contudo, não se nutre grande expectativa de fluxos na sequência, pois as taxas de juros “yeld” dos T-Bills americanos passaram a competir fortemente, e a liquidez internacional que fomenta o “carry trade” está ameaçada pelo FED.
Mas, de toda forma, o fluxo e suas perspectivas ainda são bem menores do que o país precisa para fazer face às perspectivas crescentes de aumento do déficit em transações correntes, que poderão levar o governo a ter que utilizar recursos das reservas cambiais.
Ontem à noite, o governo anunciou a retirada do compulsório incidente sobre as posições vendidas dos bancos que excedessem a US$ 3,0 Bi no mercado à vista, otimizando uma via de tomada rápida de empréstimos de curto prazo na forma de linhas externas, que poderá motivar os bancos, na margem, a operar focando a apreciação do real.
É uma estratégia antiga, praticada à larga pelo governo quando desejou apreciar o real ao extremo.
Para os bancos é uma operação interessante, visto que captam linhas junto aos banqueiros estrangeiros a custo interessante com as quais dão suporte as posições vendidas que estabelecem operacionalmente, e, captam reais a custos compostos por algumas variáveis, mas que resultam baratíssimos. Operacionalmente atuam focando a apreciação do real para com a variação cambial favorável anular o custo externo da linha.
Teoricamente, perfeito. Contudo, os tempos são outros. As linhas externas tendem a não serem tão fartas e baratas no novo contexto de perda de liquidez do mercado internacional, e, as perspectivas de fluxo intenso para cobrir futuramente as posições vendidas não existem mais, o que dificulta a atuação pró-apreciação do real.
A falta de linha externa poderá ser suprida pelo BC com leilões de venda e recompra conjugada. A insegurança quanto à variação cambial poderá ser suprida pelo BC que poderá fornecer “swaps cambiais” para proteção das posições vendidas, mas isto anularia a tendência de apreciar o real.
Ficar exposto na posição vendida em tempos de “ressaca” é temeroso.
E, na ponta final, dependeriam de dólares efetivos, cash, aquele que não é representado por “swaps cambiais” que são somente instrumentos financeiros indexados a variação de juros e câmbio e liquidados por diferença localmente em reais, quando desejassem zerar as posições vendidas.
O BC, na falta, estaria disposto a fazer leilões de venda de dólares efetivos?
Estamos fazendo um “retorno ao passado” no mercado de câmbio, mas o presente está bastante diferente daquele passado. Mudou o Brasil, mudou o mundo global.
A tendência crescente de aumento do déficit em transações correntes coloca em perspectiva esta eventual necessidade, e isto, tem efeito alimentador da alta do preço da moeda americana em visão prospectiva.