Os dados do nosso setor externo são desfavoráveis e tendem a ficar piores, mas os segmentos do mercado de câmbio, tanto futuro quanto à vista, parecem tendentes a um marasmo e sem muito espaço para movimentos oportunos visando ganhos rápidos.
Algo meio “sem graça”, visto que o BC ainda detém capacidade de intervenção via mercado futuro e tem nos bancos geradores da liquidez que o substituem no mercado à vista, atrelados às suas posições vendidas proporcionando-lhes ganho de arbitragem.
Desta forma predomina ainda no nosso mercado de câmbio o real com preço apreciado ante a moeda americana, absolutamente desconforme com a realidade de uma economia em forte estado de deterioração de sua atividade e de um setor externo com dados negativos e baixíssimas, para não dizer nenhuma, capacidade de reversão no curto prazo.
A sensação que passa é que a taxa cambial prevalecente no momento seja rigorosamente normal e compatível com o contexto da economia do país, e, que o BC tem absoluto controle sobre a formação do seu preço.
Mas esta aparente calmaria está bem distante da realidade e das perspectivas para o nosso setor externo.
Na realidade toda a sustentação está sedimentada em bases frágeis e um movimento adverso numa das pedras do tabuleiro e a tranquilidade do jogo poderá ser dissipada de forma rápida.
Ainda há no país um grande volume de capitais especulativos que, em regra, constituem potencial montante de dólares a sair do país, que acreditamos poderão passar a exercer maior demanda no mercado à vista a partir de agosto próximo. Vemos este movimento se concentrando no período agosto/setembro antecedendo à eleição, face às incertezas crescentes e sabidamente os capitais especulativos não convivem bem com incertezas.
Teremos então o incremento da transição das posições protegidas por “hedge” no mercado futuro se deslocando para saírem do país passando a pressionar o mercado à vista, ao mesmo tempo em que cairá a demanda no mercado futuro, salvo se os bancos continuarem sendo os supridores da liquidez, o que os levará a buscar proteção para o aumento de exposição de suas posições vendidas.
A demanda por “swaps cambiais” tende a diminuir, mas embora o BC venha deixando saldo a rolar nas posições vincendas, não se pode deixar fora da conta a oferta diária que realiza de contratos de “swaps cambiais” novos. As rolagens tendem a ser menores do que se observa atualmente.
Por isso, o que parece lógico como a ideia de redução da taxa SELIC para incrementar a recuperação da economia em estágio letárgico, pode ser um risco de desmonte imediato da estratégia de sustentação do preço da moeda americana depreciada na medida em que impactará desestimulando operações com o real, e ainda, pode afetar o comportamento das taxas do cupom cambial, provocando o desinteresse dos bancos na manutenção da pratica de posições vendidas para gerar liquidez ao mercado à vista pela inviabilização das arbitragens.
Ainda há na margem a situação da economia americana, sendo que um sinal de antecipação pelo FED americano da possibilidade de mudanças na política econômica brasileira poderá estimular saídas de recursos dos países emergentes, entre os quais o Brasil.
As perspectivas para este segundo semestre são bastante complexas e pouco favoráveis e, embora estejam “no radar”, os contratempos possíveis ainda não repercutiram na formação do preço da moeda americana pela expectativa, o que mantém o risco de ajustes abruptos.
Antes do entusiasmo repetitivo que se observa de menção de fluxos para o país, aconselhamos observar que ingressaram recursos brutos este ano da ordem de US$ 395,665 Bi e só restaram liquidamente US$ 108,0 M até agora e ainda há muito capital especulativo a sair do país, com baixa perspectiva de incremento de ingressos.