Os indicadores econômicos americanos com destaque para o emprego, afora outros de relevância indicam que o ambiente está propício até para que o FOMC possa determinar o “tapering” já na reunião dos dias 17 e 18 deste mês, ou seja, iniciar a redução do programa de incentivo monetário operacionalizado pelo FED com foco na recuperação da atividade da economia americana.
Nesta fase de eventos favoráveis para a economia americana, até os democratas e republicanos do Senado americano que participam das negociações orçamentárias disseram ter alcançado um acordo para evitar que o governo americano, mais uma vez, corresse o risco de uma suspensão parcial de atividades. O acordo envolve cortes de gastos automáticos e os níveis de déficit em US$ 23,0 Bi em dois anos. O acordo ainda precisa passar por votação da Câmara dos Representantes na sexta-feira, bem como pelo Senado.
O acerto confere uma rara dose de estabilidade, pelo menos para 2014 e 2015, no que diz respeito à definição de questões fiscais pelo Congresso americano, cenário favorece a eventual decisão FOMC, para que o FED, banco central americano), possa começar a retirar seus maciços estímulos monetários.
É um óbice a menos, e que pode provocar que a decisão do FOMC reduzindo o programa de incentivo monetário se consolide neste mês de dezembro.
O Banco Central do Brasil procurando mitigar os impactos mais imediatos se ocorrer a decisão do FOMC sobre o inicio do desmonte do programa, que não serão tão discretos quanto o Ministro Mantega vem propagando, já antecipou que o programa de oferta de liquidez no mercado à vista e futuro continuará no próximo ano com pequenos ajustes, que como salientamos ontem devem ser anunciados após a reunião do FOMC, e, além disto, já está realizando desde o inicio da semana a rolagem da posição de “swaps cambiais” vincenda em 2 de janeiro no montante de US$ 9,9 Bi, o que evita pressão adicional de alta sobre o preço da moeda americana.
Contudo, estas foram iniciativas antecipadas buscando mitigar maiores pressões, visto que na sexta-feira passada, dia do anúncio, a taxa do câmbio estava tendente a atingir R$ 2,40.
O efeito de impacto no preço da moeda americana foi absolutamente pontual, portanto não sustentável visto que a tendência de alta do preço está calcada em fundamentos reais presentes na economia brasileira, que, inclusive, provocaram a queda da atratividade do país perante investidores estrangeiros.
Por outro lado, acreditamos que preventivamente, o BC está mantendo os bancos autorizados a operar em câmbio com um “colchão de liquidez” potencial para que aumentem suas posições vendidas e gerem liquidez no mercado à vista, num total entre US$ 2,5 Bi a US$ 3,5 Bi em volume de linhas de financiamento fornecidas acima do volume das posições vendidas dos bancos, data base 6 de dezembro. Total de linhas repassadas entre US$ 14,686 Bi e US$ 15,686 Bi, caso os bancos tenham absorvido a oferta da última sexta feira dia 6 que só seria computada no dia 10, e posições vendidas dos bancos em torno de US$ 12,2 Bi.
O fluxo cambial fechado com operações liquidadas até 6 de dezembro último revela-se negativo em US$ 2,651 Bi, sendo US$ 544,0 M no fluxo comercial e US$ 2,107 Bi no financeiro, deixando evidente que a despeito dos inúmeros ingressos pontuais esperados e consumados no segmento financeiro, a intensidade de saídas de recursos do país persiste bastante aquecido, e poderá intensificar-se caso o FOMC anuncie o inicio do “tapering”.
Como temos destacado a tendência de fluxo negativo de recursos líquidos externos para o Brasil é bastante consistente e não há razões para que se tenha perspectiva de reversão deste contexto no curto prazo.
Nem tudo pode ser resolvido com eficiência para conter a alta do preço da moeda americana com oferta incessante de contratos de “swaps cambiais” para proteção do preço da moeda dos investidores externos e nem com a geração de liquidez com a triangulação da mesma na forma de linhas de financiamento concedidas aos bancos e nem mesmo se o BC vier a fazer ofertas diretas de divisas via leilões de venda, para garantir disponibilidade na saída.
O recuo dos fluxos líquidos de recursos para o país não é algo inusitado, sem causa. Todos sabem as razões pelas quais o país tem perdido atratividade dos investidores.
Como temos destacado o excesso, até por inevitável, de oferta de proteção para estimular o fluxo de ingressos, se por um lado se presta a garantir preço da moeda futura para os investidores, por outro lado deixa evidente a fragilidade da nossa moeda, o real.
Então esta disponibilização sistêmica de instrumentos de proteção pode deixar de gerar tranquilidade aos investidores e passá-los a uma situação de desconforto e até de contenção de ingressos de recursos para o país.
Como o Brasil teve um desgaste em sua atratividade perante os investidores estrangeiros, os demais emergentes são atualmente fortes concorrentes para receberem recursos que anteriormente prioritariamente viriam para o Brasil, além do fato bastante relevante de que os Estados Unidos com sua economia em recuperação passa a catalisar o interesse dos investidores em detrimento dos emergentes.
O câmbio é uma preocupação no radar das autoridades monetárias do Brasil, pois o aumento abrupto da taxa do dólar causa reflexos imediatos contaminando os preços da economia, e, assim poderá exigir maior elevação da taxa SELIC para conter a inflação pressionada.
É evidente e natural que o Presidente do BC mantenha uma mensagem de tranquilidade ao mercado, é algo intrínseco à sua atuação, mas é inquestionável que as perspectivas para o mercado de câmbio neste final do ano e no 1º trimestre de 2014, pelo menos, são inquietantes.
Continuamos com a percepção de que a antecipação do anúncio da oferta de liquidez ao mercado no ano que vem, bem como o inicio precoce da rolagem da posição de US$ 9,9 Bi de “swaps cambiais” vincenda em 2 de janeiro de 2014, anteciparam também o impacto de apreciação no real, e, por ser uma impacto pontual não se sustenta num ambiente em que restaram tão somente os fatores adversos ao fluxo liquido de recursos para o país.
Evidentemente se o BC não houvesse antecipado o preço do dólar teria passado os R$ 2,40, mas agora o preço do dólar fica sujeito a retornar a este parâmetro ao final do ano, sem que a autoridade monetária disponha de algo que não seja o trivial para agir e que, a rigor, já estará precificado na perspectiva.
Por isso, é que continuamos projetando o preço da moeda americana em torno de R$ 2,50 ao final do 1º trimestre de 2014, podendo exercer forte pressão inflacionária que obrigue o BC a elevar mais a SELIC do que previsto.
Há em perspectiva inúmeros fatores de peso (FED, rating, etc) que impulsionam a tendência de saída de recursos do país e poucos que sugiram intensificação dos ingressos, sendo o mais visível os investimentos em infraestrutura dentro do programa de privatizações, desde que os estrangeiros participem firmemente.