Sonho grande, esperança enorme, realidade cheia de receios

O Brasil está atolado numa retumbante crise política e numa outra ainda muito subestimada econômica, centrada numa deteriorada política fiscal praticamente irreversível no curto prazo.

Um governo em estado de pré-impeachment e um pretenso novo governo que começa a preocupar pela repetência da grandiosidade do numero de Ministérios e sinais de que será necessário lotear todos para criar uma base de sustentação, ainda assim frágil e que não sugere que o consenso seja algo tão fácil de ser construído.

Não será “mais do mesmo”, mas politicamente muito semelhante e o tempo, provavelmente, num espaço mais curto evidenciará que há diferentes DNA´s num típico colchão de retalhos, que tenderão a uma convivência conflituosa.

A continuidade das investigações do Lava Jato, asseguradas pela antecipação de recursos feita pelo governo atual, será sempre um desconforto para um governo em que a grande maioria estará figurando nas denúncias, e, que barganharão atenuantes que não poderão ser atendidas.

Nomes coroados nos principais ministérios podem dar um alento positivo inicial, mas não tem efetivo poder para reverter o caos da nossa economia de imediato, a ponto de que seja revertido o estado latente do “gasta mais do que arrecada”, que já sugere para este 2016 um novo déficit fiscal expressivo e não dá crença de que 2018 se consiga fazer diferente.

Inúmeros setores minimizam em suas falas a grandiosidade do negativo quadro econômico brasileiro, sugerindo que todas as soluções serão fáceis e prescindam de medidas duras e que, certamente, antes das alegrias trarão inúmeros ruídos negativos e contestações.

O ambiente está contaminado por um excessivo otimismo de soluções imediatas e a despeito do novo governo sugerir intenções de correções amplas nos desvios de gestão prevalecentes na atualidade, há um profundo silêncio sobre o “como?”.

Não vemos atalhos, se o ajuste não for drástico e intenso não há solução possível para o caótico estado de nossa economia.

Acreditamos que o Brasil contumaz em crises jamais tenha estado tão dilacerado quanto na atualidade, e, com tão poucas alternativas de saída.

Naturalmente que na execução de um ajuste forte e duro ocorrerão dissensos logo ao inicio do novo governo, que terá, também, que conviver com um ambiente extremamente perturbador movido pelos integrantes do antigo governo.

O contexto brasileiro sugere que seja solucionado com o racional, que indica muito tempo, e não com o emocional que vê tudo melhor de imediato e sem grandes entraves para realinhamento.

O emocional precifica os ativos no curto prazo com perspectivas supostas de longo prazo e isto cria um desarranjo absoluto no mercado financeiro.

Meirelles, tido como futuro Ministro da Fazenda, não encontrará o Brasil de quando integrou o governo Lula como Presidente do BC.

O Brasil já não tem aquela demanda reprimida em que bastou dinamizar a concessão de crédito e se tinha a impressão de que a economia estava no melhor dos mundos, gerando emprego, consumo, queda do desemprego, sem que houvesse qualquer foco nos investimentos.

Isto ficou no passado, hoje há o rescaldo com a inadimplência crescente, desemprego crescente, queda de renda e consumo, perda de atividade industrial e do comércio e um desordenamento das contas publicas que motiva uma preocupante e comprometida política fiscal .

Agora é preciso gestão mais detalhista, minuciosa, sem esperar sucesso eufórico, promotora de medidas que desagradarão inúmeras partes da sociedade brasileira, até mesmo decepcionando.

O Brasil atual está na “UTI” e ao que tudo indica seu estado ainda piorará mais, mesmo com novos governantes, e requisitará tratamento duro e quase desesperançoso para que seja realinhado com perspectivas, isto perspectivas efetivas mais favoráveis que poderão ser consolidadas a longo prazo.

Temos no momento um preço de moeda estrangeira desarticulado, bem abaixo de sua realidade face à situação do país; a Bovespa com altas incompatíveis com um quadro econômico em que crescem o encerramento comercial, sendo o “grupo: aluga-se” o mais prospero na atualidade; a indústria dando sequência a sua perda de dinamismo; PIB com tendência firme de queda; inadimplência, queda de renda e consumo e desemprego em agravamento.

Não se pode deixar de considerar eventual movimento maior de saída de divisas do país. O preço do dólar precisará estar alinhado a realidade do país, sem artificialismo, perdendo-se a mania de não enxergar os nossos problemas gravíssimos internos e imaginar que as oscilações decorrem deste ou aquele fator externo.

Empresas brasileiras têm dificuldades de alcançar recursos externos e rolagem, inclusive, o que deixa evidente a seletividade externa. Isto sugere menor volume de ingressos de recursos externos no país. Por outro lado, empresas brasileiras com recursos em caixa e com bônus externos negociados no mercado secundário a preços depreciados, certamente, vão comprar os seus próprios papéis e isto corresponderá a saída de recursos do país.

Estes fatos dão bem a visão sobre o quanto se agrava a percepção do risco país pelos investidores estrangeiros.

A performance da balança comercial foi expressiva no mês de abril, mas não podemos deixar de considerar que é pontual devido as exportações agrícolas nesta fase do ano. Não podemos utilizar este dado para projeções de balança comercial no ano já que não temos diversidade para sustentação.

Não vemos os investidores estrangeiros tão entusiasmados com o Brasil quanto se tem propagado, pressentindo-os mais sensatos e observadores a respeito dos próximos passos, já que imaginamos que haverá um ambiente perturbador no entorno do novo governo, seja por parte dos membros do governo anterior, seja pelo processo investigativo Lava Jato em continuação, seja pelos dissensos inevitáveis.

Ademais será absolutamente necessário que o novo governo sai da palavra e coloque no papel e em prática consistente plano de recuperação econômica, que possa ser considerado absolutamente exequível.

Por isso é que afirmamos:

 SONHO GRANDE, ESPERANÇA ENORME, REALIDADE CHEIA DE RECEIOS!

No momento não cabem ilusões!

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