Ontem a moeda americana caiu fortemente no exterior e foi apreciada no mercado de câmbio brasileiro.
Incoerência? Não, coerência com a nossa realidade que confronta com a ocorrência externa e se sobrepõe em termos de relevância, algo que não tem sido assim e que tem se constituído erro contumaz na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.
Temos exaustivamente apontado que a deterioração da economia brasileira promove a existência de inúmeras e relevantes incertezas, que não permite que ocorra sinergia entre os movimentos da moeda americana no exterior e no nosso mercado de câmbio interno.
Há certo núcleo com influência na formação do preço do dólar no mercado de câmbio local que fomenta ideias não compatíveis com a realidade e acaba por afetar a tendência do preço do dólar e provocando volatilidade.
Na semana passada quando foi anunciado o fluxo cambial fechado de abril com um superávit de US$ 13,0 Bi, dos quais US$ 9,0 Bi de natureza financeira, logo foi propagada a ideia de que o fluxo se intensificaria no mês de maio porque o Brasil tinha a maior taxa de juro do mundo e excelentes oportunidades em renda variável, etc….. Ao longo da semana de 4 a 8 deste mês não faltaram afirmativas de que a queda do preço da moeda americana repercutia o forte ingresso de recursos externos, que, contudo, agora se verifica que não ocorreu, tendo havido um saldo negativo de US$ 2,6 Bi no fluxo cambial, com negativo US$ 3,2 Bi no financeiro e US$ 0,6 Bi positivo no comercial.
Ocorre que o capital especulativo só pode permanecer no seu maior volume por curtíssimo prazo no Brasil, pois agora há efetivo risco da variação cambial negativar os lucros no momento do retorno dos recursos ao exterior. Por isso, acreditamos que as apreciações pontuais e sem fundamentos que ocorrem por parte do real sejam induzidas pelos players do capital especulativo externo no momento em que estão saindo para garantir o lucro, e após isto o preço retorna para o intervalo considerado de equilíbrio.
O Ministro Levy se empenha em “vender perspectivas favoráveis no curto prazo”, como o fez ao afirmar que a desaceleração da economia é temporária e que anseia pelo aumento de produtividade, porém no fundo está preocupado com a performance quando afirma que o risco do pais perder o grau de investimento está presente e que é preciso rigor na condução do ajuste.
Cresce a percepção que temos enunciado quanto a capacidade da economia responder aos ajustes impostos pelo governo e com isto se acentuarão as expectativas negativas e a convicção de que as consequências piores do ajuste estão por vir levando o PIB a maior retrocesso, agravamento do desemprego, queda do emprego e da renda e por conseguinte do consumo.
O setor externo certamente refletirá todo este cenário de piora nas contas externas, queda de investimentos produtivos, desempenho fraco ou negativo da balança comercial, etc…. , não havendo, portanto condições no curto e médio prazos de repercutir na formação do preço do dólar rigorosa assimetria com o comportamento do mesmo no exterior.
Não podemos perder de vista o fato de que há inúmeros “remendos” no nosso mercado de câmbio, tais como expressivo volume de contratos de swaps cambiais que se prestam a ancorar a credibilidade inexistente neste momento do real, posição vendida dos bancos de US$ 13,0 Bi que se presta a prover de liquidez o mercado de câmbio a vista tarefa que deveria ser exercida pelo BC reduzindo as reservas cambiais, etc… e um déficit em transações correntes nos últimos 12 meses de US$ 100,0 Bi, o que não é pouco quando observamos que temos US$ 370,0 Bi de reservas cambiais, que não é tanto quanto considerada, e o país está absolutamente incapacitado de elevá-las, seja por falta de fluxo cambial condizente, seja porque ainda que houvesse fluxo precisaria elevar a divida publica, a exemplo do procedimento anterior, para poder elevá-la.
A sinalização de ontem foi relevante, porém resta observar se efetivamente trata-se de uma mudança de postura corrigindo o equivoco praticado inúmeras vezes recentemente.