Ganha destaque os indicadores que sugerem que a economia brasileira supera as expectativas no primeiro bimestre deste ano, mas é preciso esperar um pouco mais para verificar se é uma ocorrência pontual ou uma tendência. O sentimento predominante não sugere sustentabilidade para este comportamento como tendência, mas é necessário observar-se um período maior para formalização de juízo a respeito.
Contudo, continuamos com a perspectiva de que o setor externo será o grande desafio para o Brasil neste ano.
Não nos causa entusiasmo a propagada melhora dos fluxos especulativos que vem ocorrendo de capital de curto prazo, que visam tão somente rentabilidade e nada produzem, por considerarmos que corremos o risco de estar trocando capital de qualidade por capital extremamente volátil e que poderá deixar o país rapidamente ante o surgimento de novas oportunidades em outros mercados ou fatos que sugiram maior risco no Brasil.
Em perspectiva o fluxo cambial para o Brasil tende a repetir-se tal qual em 2013 em negativo.
O Brasil tem neste ano, somente do setor privado, volume vincendo de US$ 84,0 Bi, algo como US$ 35,0 Bi em divida de longo prazo, US$ 21,0 Bi em divida de curto prazo e US$ 28,0 Bi em empréstimos entre companhias.
É provável que parte deste montante não venha a ser rolado e que parte do que esta entrando possa ser consequente de rolagem, afora naturalmente uma parcela de capital especulativo, que melhora o fluxo cambial, mas nada melhora em termos produtivos para o país, servindo para financiar a divida do governo e aproveitar-se do juro expressivo.
O Brasil registra até o dia 14 de março último um fluxo cambial positivo de US$ 2,770 Bi ante negativo de US$ 2,707 Bi no ano passado, mas ocorre que em 2013 não pagávamos juros tão expressivos quanto este ano.
Se observarmos o fluxo financeiro até o dia 14 de março último tem fluxo cambial de US$ 2,417 Bi e no ano de 2013 no mesmo período era US$ 2,490 Bi, portanto não há muito a comemorar, pois em 2014 estamos pagando juro maior.
Em 2013 o fluxo cambial era negativo até 14 de março devido ao fluxo comercial que era negativo em US$ 5,196 Bi e que agora está positivo em US$ 353,0 Bi.
A apreciação excessiva do real que se observa pode provocar dois movimentos: contração dos fluxos de capitais especulativos para o país, a despeito da taxa de juro elevada, pois elevaria o custo do “hedge”, e, atrair para o mercado os importadores que detém grande volume de câmbio à liquidar.
Pode ainda, na margem, atrair as empresas do setor privado com empréstimos vincendos no ano a antecipar as contratações do câmbio.
Assim, pode ocorrer um movimento abrupto no cenário que se convive nestes últimos dias.
Continuamos convictos de que o setor externo será o grande complicador da politica monetária do governo este ano.
Tudo, em perspectiva, sugere que tenhamos neste ano fluxo cambial negativo tão ou mais expressivo do que o do ano passado, insuficiente para financiar o déficit em transações correntes.
A inflação está pressionada principalmente pela alta de alimentos, o que sugere que a SELIC terá que continuar a ser elevada, e desta forma tornar-se-á mais atrativa ainda ao capital estrangeiro especulativo, mas a taxa cambial deprimida por contingências do nosso próprio mercado ao não expressar a perspectiva poderá ser fator de contenção deste fluxo.
O BOLETIM FOCUS, datado de 21 e divulgado hoje dia 24 de março pelo Banco Central do Brasil, sinaliza ajustes com elevação no IPCA para os próximos 12 meses de 6,12% para 6,20% e para o final do ano de 6,11% para 6,28%. Eleva a projeção da SELIC de 11,00% para 11,25%. Reduz a projeção para o déficit em transações correntes de US$ 76,0 Bi para US$ 75,0 Bi (o governo trabalha com a projeção de US$ 78,0 Bi). Reduz a projeção do saldo da balança comercial de US$ 5,00 Bi para US$ 4,71 Bi e os IED´s de US$ 58,80 Bi para US$ 55,40 Bi. Mantém o US$ em R$ 2,49 e o crescimento do PIB em 1,70%.
Como se vê, a despeito dos sinais de melhora na economia, os analistas das instituições financeira ouvidos pelo BC para formulação do FOCUS não demonstraram estar sensibilizados, tendo em vista que projetam a inflação em alta e o crescimento em 1,70% foi mantido inalterado. As contas que envolvem o setor externo resultavam numa necessidade de capital volátil de US$ 12,2 Bi que foi elevada para US$ 14,9 Bi.
É necessário ficar atento ao câmbio, visto que há possibilidade de ocorrer mudança de comportamento do preço da moeda americana de forma abrupta com reversão de depreciação para apreciação, havendo fundamentos para tanto.