Setor externo: Quadro tende ao agravamento impactando no câmbio

A taxa cambial que vem predominando no nosso mercado de câmbio está desalinhada com a realidade econômica do país, bem como os movimentos mutantes do preço não encontram fundamentos sustentáveis, o que fortalece o pressuposto que o BC, com seus instrumentos e parceiros, vem agindo no sentido da contenção do preço, seja para não repercutir fatos políticos e ou econômicos inconvenientes, seja para interferir no processo inflacionário que perdura aquecido este ano.

O comportamento da inflação é bastante forte e consistente com característica inercial, não respondendo ao juro elevado. Chega a surpreender e corrói a renda da sociedade intensamente a partir dos bens básicos. A capacidade de consumo de bens essenciais vem se retraindo e o consumo de bens duráveis é fortemente cadente, o que fragiliza a demanda por crédito. Mas não se pode perder de vista a probabilidade do crescimento da inadimplência.

Por outro lado, fatos políticos em estado de renovação constante sem solução continuam atingindo o governo e a sua já baixa capacidade de gestão em todos os flancos.

Depois de o trágico 2015 para o país, observa-se que poderá ocorrer mais do mesmo em 2016, até com certo agravamento com a perspectiva de intensificação do desemprego que é um problema social grave, face à postura inerte do governo como se encurralado pelas próprias circunstâncias das quais foi o criador e para as quais não encontra saída.

Nada disto, contudo, nos surpreende, pois sempre tivemos uma visão negativa para a atividade em 2016 com destaque para o setor externo brasileiro , pontuando todos os fatores adversos factíveis, como elevação do juro americano, perda de ratings das agências de risco, menor atratividade aos investimentos de todas as naturezas pela perda de credibilidade e perspectivas negativas, saída gradual de recursos do país, etc…

O Brasil está em recessão e a inflexão da mesma para um contexto favorável ainda está muito distante, quem sabe em 2018, devendo ainda haver uma severa piora.

Há nestes dois meses iniciais do ano equívocos notórios de projeções. O Boletim FOCUS tem sido extremamente benigno e disto decorre a irrealidade de suas projeções medianas apuradas junto ao mercado financeiro.

Absolutamente desconexa a projeção para a inflação de 7,62% após em 2015 ter se aproximado de quase 11,00%, mesmo se considerando todo o efeito contracionista possível de ocorrência em razão da forte recessão econômica do país.

Da mesma forma, a projeção para o dólar ao final do ano de R$ 4,36, assim como saldo de balança comercial de US$ 37,05 Bi e déficit em conta corrente de US$ 31,15 Bi com IED´s em US$ 55,00 Bi.

Contudo, as medianas para o crescimento do PIB em 2016 e atividade industrial já se configuram realistas, com -3,40% e -4,40%, considerando que estamos em fevereiro e deverão ser agravados no decurso do ano.

O rebaixamento por parte da agência de rating MOODY´s era esperado completando o triunvirato com a Fitch e a S&P. A agência destacou como um dos motivos que levou ao rebaixamento a perspectiva de maior deterioração dos indicadores de divida do Brasil, em um ambiente de baixo crescimento, com a divida do governo provavelmente superior a 80% do PIB, em três anos.

Perdemos totalmente o grau de investimento e com isto tudo fica mais difícil para o Brasil no seu relacionamento com o mercado financeiro internacional.

Recursos mais escassos e com prazos reduzidos e custos elevados, diminuindo a tendência a rolagem de empréstimos vincendos. Perda de atratividade para investimentos em conta de capital e portfólio e tendência crescente de retirada de recursos do país, pela percepção da elevação de risco, em especial em decorrência da não definição de estratégia para recompor a política fiscal, o que acentua a visão critica de insolvência num ambiente de crescimento incessante da Divida Publica Bruta, terão repercussão no câmbio seja pela queda no fluxo seja pela deterioração conceitual do país impondo alinhamento do preço à sua realidade de atividade econômica.

O Brasil tem “festejado” de forma equivocada números que evidenciam muito mais seu debacle do que qualquer tipo de sucesso.

Em janeiro houve uma redução do déficit em conta corrente expressiva em dólares conduzindo-o agora a 2,94% do PIB em 12 meses frente a anterior de 3,32%. Fruto direto da perda de atividade da economia, com destaque na redução dos gastos de viagens internacionais decorrentes da elevação do preço do dólar combinada com perda de poder aquisitivo da população, e, também, provavelmente de contenções de registros nesta conta de gastos que não tinham esta natureza.

Todavia, em janeiro o investimento estrangeiro em carteira, segundo estudo do jornal Valor Econômico, envolvendo renda fixa e variável, registrou saída liquida de US$ 2,2 Bi, liderada pelo segmento renda fixa. Foi a maior saída desde 1999. Este é um indicativo de que o juro alto já não é atrativo suficiente num ambiente que tem a desvalorização cambial como um risco latente e inflação alta.

Por outro lado, tendo como fonte o mesmo jornal, já há indicativos do encarecimento das captações no mercado internacional o que está levando os bancos a reduzirem sua alavancagem externa e encurtamento do prazo dos empréstimos diretos e ou papéis lançados no exterior.

Os sinais primários desta mudança de apetite em relação aos papéis brasileiros vieram do mercado secundário externo, que passou a exigir maior deságio focando juro maior nos papéis e que os distanciou bastante das remunerações ofertadas por outros países latinos emergentes.

Não se vê nada de concreto focando a política fiscal, salvo o anseio de mais tributos como a CPMF, o que impactará negativamente no setor produtivo, conduzindo-o a desestimulo maior.

Ante o novo rebaixamento, o Ministro da Fazenda expôs que o mesmo não muda o comprometimento com o ajuste fiscal. É oportuno perguntar-se: “que ajuste fiscal?”.

Se o preço da moeda americana continuar sendo administrada de forma não declarada pelo governo, haverá o risco inequívoco para mudança abrupta no real.

Nossa projeção posta em dezembro passado, fundada em perspectivas e situações adversas que vem se confirmando, continua sendo de R$ 5,00 para o preço da moeda americana ao final do ano.

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