O mercado de câmbio vem nas últimas semanas impondo à taxa cambial da moeda americana movimentos controversos desamparados de fundamentos.
Oscilações expressivas ocorrem cotidianamente, até mesmo contrárias ao cenário externo, pois o real, por vezes, se valoriza ante o dólar mesmo quando este está forte frente à cesta de moedas e o euro, e, em outros momentos, ocorre exatamente o inverso, o que não faz sentido, pois o real é das moedas mais frágeis do mundo e tem o seu preço ancorado na astronômica posição de contratos de “swaps cambiais” que o BC mantém no mercado para “hedge”.
17 e 18 de junho de 2015 Escrito por: Sidnei Moura Nehme
O mercado de câmbio vem nas últimas semanas impondo à taxa cambial da moeda americana movimentos controversos desamparados de fundamentos.
Oscilações expressivas ocorrem cotidianamente, até mesmo contrárias ao cenário externo, pois o real, por vezes, se valoriza ante o dólar mesmo quando este está forte frente à cesta de moedas e o euro, e, em outros momentos, ocorre exatamente o inverso, o que não faz sentido, pois o real é das moedas mais frágeis do mundo e tem o seu preço ancorado na astronômica posição de contratos de “swaps cambiais” que o BC mantém no mercado para “hedge”.
A mídia, na sua grande maioria, tem justificado o fato como causado por razões externas, fluxo cambial positivo e até mesmo expectativas de futuros fluxos positivos para o país.
Ocorre que nenhum destes fatores acaba por evidenciar consistência real, se configurando mais como justificativa padrão de quando efetivamente se desconhece as causas, sendo necessário, contudo, que se atribua alguma causa.
O BC divulgou hoje o fluxo cambial até o dia 12 último e está negativo em US$ 647,0 M, resultante de fluxo comercial liquido positivo de US$ 337,0 M e fluxo financeiro liquido negativo de US$ 964,0 M.
Destaque-se ainda que na última semana, de 8 a 12 de junho, o fluxo foi negativo em US$ 1.029,0 Bi, sendo negativo liquido no comercial em US$ 415,0 M e no financeiro US$ 614,0 M, desmistificando a tese dos fluxos positivos aos quais tem se procurado atribuir as oscilações do preço da moeda americana.
As oscilações vêm ocorrendo em torno do eixo de R$ 3,10, apreciando-se e depreciando-se a partir dai, mas em percentuais atípicos dada a inexistência de razões que possam justificar a ocorrência.
Então, fica muito evidente que este movimento deva estar sendo determinado por operações de “daytrade” e as taxas então induzidas a promover a oscilação permitindo assim o ganho da variação cambial.
Seria razoável que o BC intervisse procurando mitigar estas oscilações que acabam tendo influência nos negócios legítimos envolvendo câmbio, sem se desconsiderar que também acaba inibindo os investidores estrangeiros, em especial os especuladores, pois os recursos oriundos de operações de “carry trade” tem margens muito justas e a variação cambial passa a ser um risco e um fator a mais de encarecimento do “hedge”, o que poderá desestimular até o direcionamento destes recursos de baixa qualidade para o país.
Mas, cabe também o entendimento de que a autoridade monetária pode ter a percepção do que está acontecendo, mas estas operações podem ser um fator para mitigar uma pressão maior de alta do preço da moeda americana no nosso mercado, porque o movimento criou um eixo e se consolida com a variação no entorno, contribuindo para que a moeda não expresse um preço mais efetivo neste momento com a realidade do país.
Na realidade o país convive com um quadro econômico ainda bastante deteriorado e respondendo pouco ou nada as medidas de ajuste fiscal realizada pelo governo, mas com um agravante apresenta uma tendência mais consistente à recessão e todas as suas consequências como desemprego, queda de renda e consumo, etc, levando a atividade a colocar a economia em condições de não ter condições de responder com o aumento da arrecadação que o governo busca vorazmente.
Já esta entrando na mesa de discussões a provável não realização da meta de superávit fiscal por parte do país, o que coloca outra vez presente o risco de perda do grau de investimento.
A agência de risco FITCH se manifestou esta semana apontando o que os problemas do Brasil são estruturais, contrariando a tese da Presidenta Dilma que insiste em alega-los conjunturais, e apontou que o Brasil fez um “Quantitave Easing” à brasileira numa combinação entre o Tesouro e o BNDES que contaminaram as contas públicas e que estas ainda podem ser agravadas com a situação das estatais. Atualmente, a nota atribuída à divida soberana do Brasil pela agência é ‘BBB’ com perspectiva negativa.
Em julho virá ao Brasil o pessoal da agência de risco Moody´s, considerada a mais conservadora, e o governo já considera a possibilidade de um “downgrade”, mas procurará evitar que o viés seja negativo, pois isto deixaria o país às portas da perda do grau de investimento.
A inflação no país continua forte e há clara percepção de que as projeções atuais estão aquém da tendência real, os indicadores mais recentes vem confirmando isto, e a recessão poderá ser um fator mais eficaz na contenção do que a pura e simples elevação da SELIC, que atende as pressões do mercado financeiro, contudo, onera fiscalmente o Brasil e desestimula cada vez mais o investimento pelo setor privado.
Os contratos de “swaps cambiais” também oneram os cofres públicos com o viés de alta da moeda americana, mas são indispensáveis para “comprar credibilidade ao real”, já que a moeda é frágil. O desarme deste instrumento retirando-o do mercado não pode ser abruptamente como muitos colocam, mas depende de circunstâncias que envolvem melhora substancial de fluxos cambiais para o país e saídas liquidas de recursos que acabam por impactar reduzindo a demanda. Este é um pêndulo que se administrado de forma precipitada pelo BC pode provocar exacerbação forte de alta do preço da moeda americana.
Ao inicio do ano havíamos projetado a taxa cambial ao final do ano em R$ 3,20, mas a conjuntura brasileira já sugere que possa vir a ser superada, pois o país continua a acentuar a baixa atratividade, exceto com o programa de concessões, que, contudo, precisará oferecer margens remuneratórias atraentes, menos burocracia do que a contumaz, e solução para “hedge” dos investimentos a longo prazo e seus custos se forem viabilizados.
Está muito evidente que as operações de “daytrade” é que estão ditando a formação do preço no mercado de câmbio brasileiro, e, não o fluxo cambial ou expectativas em torno de fluxos futuro.