O mercado financeiro, segmento câmbio, tem convivido com um embate ferrenho na formação do preço do dólar futuro entre “comprados” e “vendidos”, confrontando posicionamentos em torno de US$ 39,0 Bi, e, após o movimento especulativo que elevou o preço a R$ 4,20 e reverteu, por falta de fundamentos e sustentabilidade, tendo se situado no intervalo de R$ 3,70 a R$ 3,80, no período pré-eleição, e, agora, encontra resistência a maior depreciação frente ao real no nível do entorno de R$ 3,70.
Importante destacar que a formação do preço da moeda americana no mercado a vista está sob completa influência do mercado futuro, já que não há fuga de capitais do país e pressões maiores de demanda.
O fato está em linha com as nossas expectativas enunciadas ainda quando o preço da moeda americana estava em viés de alta, já que preconizávamos a inconsistência daquele movimento e a absoluta convicção de que o preço retroagiria aos níveis que efetivamente foram consumados, encontra agora resistência em torno de R$ 3,70 e isto tem razões.
Há quem mencione que a FGV define como taxa ideal R$ 3,20/3,30, mas consideramos ainda prematura esta possibilidade, visto que entre a ideal e a possível estão fatores de agravamento do risco, que se transforma em prêmio que é acostado àquele preço preconizado pela FGV, que ainda assim consideramos demasiadamente otimizado.
O Boletim FOCUS divulgado hoje, datado de 1º de novembro, reduz a projeção do dólar para o final do ano de R$ 3,71 para R$ 3,70, em linha com a nossa projeção desde junho deste ano.
Promoveu também a revisão da projeção para o IPCA de 4,43% para 4,40% e nos últimos 5 dias úteis de 4,42% para 4,28%, que acreditamos seja a efetiva tendência face a queda do preço do dólar.
O BC em sua nota sobre a mais recente reunião do COPOM foi assertivo ao pontuar a percepção de que o apetite de risco de emergentes está cadente. Isto é verdadeiro e deve merecer consideração quando se vislumbram e projetam fluxos estrangeiros intensos para o Brasil.
Fato relevante e que tende a afetar os emergentes e o Brasil entre eles é que a liquidez internacional que está sendo reduzida pelos governos que a utilizaram para alavancar a recuperação de suas economias, e este fato coincide com um rigor maior na avaliação das oportunidades nos países emergentes que agora se defrontam com a atratividade do próprio mercado americano, seja para rentabilidade seja para investimento em conta capital, consequente das medidas tributárias incentivadoras adotadas pelo governo Trump, que já provocaram deslocamentos em torno de 41% do direcionamento de investimentos no mercado global.
Isto impõe que o Brasil seja mais cauteloso ao projetar fluxos de investimentos fortemente positivos e, muito provavelmente, terá que adequar o tratamento tributário que aplica ao capital estrangeiro no país, se quiser lograr êxito com ingressos focados em privatizações.
O novo governo tem propagado que desenvolverá programa de privatizações e efetivamente precisará ser atrativo em perspectivas de resultados, caso contrário poderá ter dificuldades em catalisar interessados. Não pode perder de vista que o investidor visa lucro/retorno.
Outro fato relevante, este já envolvendo o novo governo é a crise fiscal que urge por providências imediatas e contundentes. E qual pode ser o desapontamento no curto prazo em decorrência da protelação do alcance de solução para tão relevante problema?
Há sinais, ainda contraditórios pela equipe de governo, que o novo governo pretenderia aprovar ainda no governo Temer a reforma da previdência e assim ganhar tempo para já iniciar suas atividades com esta questão relevante resolvida, mas há quem deseje postergar para a propositura ocorrer já com o novo governo empossado. Então, se não for agora todo o demorado rito burocrático e político terá que ser cumprido e isto pode demandar o 1º semestre ou mais do novo governo.
Para que o país saia do marasmo e crie rotas de recuperação da atividade econômica com geração de empregos, renda e consumo são imperativos que tenha equacionado seu problema fiscal.
Desta forma, embora com prevalência do otimismo de uma nova etapa para o país, as realidades presentes “recomendam” sensatez e cautela ao se projetar muito otimistamente fluxos intensos e valorização da B3, já que fundamentalmente depende da sustentabilidade da atividade econômica e de fluxos externos de investidores.
Sem solução imediata para a crise fiscal, o país continuará no foco das agências de rating que o tem sob observação e não há como expurgar-se o prêmio de risco na formação do preço da moeda americana.
Assim, preconizar-se recuo do preço da moeda americana para o patamar tido como ideal pela FGV nesta fase é, no nosso entender, extremamente prematuro e improvável. Da mesma forma, as projeções agressivas de valorização da B3 precisam ser recebidas com cautela.
Urge que o novo governo defina prontamente a permanência de Ilan na Presidência do BC, que seria a melhor decisão, ou que indique o novo para que o mercado financeiro não conviva com este fator perturbador, e que ratifique de forma peremptória de que a instituição será independente e seus integrantes terão mandato fixo.
Há sinais mais evidentes que bancos e fundos de investimentos estrangeiros estão otimistas com o novo governo, como posta pelos correspondentes na nossa mídia oriunda do exterior, contrariando matérias críticas ao novo Presidente como a veiculada pelo NYT.
Como já salientamos em “post” anterior, não vemos razões para grandes impactos no comportamento do preço do dólar e nem para a dinâmica da B3 ao longo de novembro, pois há óbices na perspectiva de curto prazo que precisam ser realinhados para dar suporte direcional ao novo governo, havendo, portanto, um prêmio de risco no preço do dólar.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO