Os índices de comportamento das moedas emergentes frente ao dólar mostraram o real liderando o ranking de valorização.
A rigor, este movimento decorreria da expectativa de que com a economia americana indo mais lenta do que o previsto, juízo feito a partir do dado de consumo mais lento no varejo americano, o programa de apoio monetário, capitaneado pelo FED, focando a reativação do nível de atividade econômica dos Estados Unidos será revertido numa perspectiva ainda mais longa, aliás já sinalizada pelo próprio Ben Bernanke, na sua mais recente manifestação, atenuando declaração antecedente.
Portanto, não houve, na realidade, reversão de expectativas, já que o mercado internacional já opera considerando período mais extenso para o início do desarme do programa americano. E, além disto, sabe-se que esta decisão do FED também esta atrelada à melhora do cenário do emprego, que neste momento ainda está 2,1 m de vagas abaixo de 2007 e, agora, para chegar no ponto ideal precisa gerar não somente aquele número de reposição, mas algo entre 7,0 a 8,0 m de vagas, o que pode demandar anos mantido o ritmo de criação de novas vagas atual. Além disto, os níveis de salários atuais estão ao nível de 2009.
Notoriamente ocorreu uma exacerbação na valorização ocorrida, indo muito além da melhor perspectiva, pois sugere ter baseado em fundamento de fluxos mais intensos para o Brasil a medida em que o programa tenha o seu final postergado, o que não corresponde à realidade atual.
O Brasil neste momento não desperta atratividade aos investidores estrangeiros, já que os seus próprios “riscos” neutralizam a perspectiva de que possa ter melhora substantiva de fluxos líquidos de recursos externos. Então, a hipótese de que o real sofra apreciação considerável tem a conotação de movimento pontual e especulativo, visto que parte de uma premissa pouco provável e sem fundamento crível.
Por outro lado, admitir que decorreria de efeito China, que teve crescimento do PIB no 2º trimestre de 7,5% anualizado, após 7,7% no 1º trimestre, mas ainda assim dentro das projeções, e com isto tenha eliminado perspectivas negativas de que pudesse ter um desempenho pior, não parece razoável pois o crescimento está em linha com o previsto, nada entusiasmante.
Não se pode perder de vista que o Ministro das Finanças chinês já admitiu a possibilidade do país crescer em torno de 7% este ano.
É sabido e o mercado internacional tem se mostrado alinhado com esta percepção, que o grande obstáculo para que os fluxos estrangeiros se direcionem para o Brasil é o seu próprio contexto atual , onde as perspectivas de baixo crescimento, inflação em alta, incertezas quanto a política fiscal, monetária e cambial, política econômica pouco transparente em seus objetivos já que conflitam os interesses em crescer com os de conter inflação, sinais de queda de consumo, riscos de que possam surgir indicativos de desemprego, etc.
Portanto, a sinalização de que a liquidez internacional perdurará por tempo maior não quer dizer que teremos melhora de fluxos de recursos externos, pois as razões inibidoras estão vinculadas ao próprio Brasil, que acabam desestimulando os investidores estrangeiros.
Por outro lado, é absolutamente conhecida a fragilização do potencial do país no comércio exterior, que tem como parceiro maior a China, que indo a ritmo menos intenso afetou a demanda internacional, o que causa repercussão nos preços.
A China tem grande dependência do seu modelo exportador, já que é uma grande processadora de insumos em produtos acabados, e, assim, tem repercussões diretas do desempenho lento das economias desenvolvidas.
Afinal, não se pode esperar da China mais do que ocorre no momento, que já reflete um “pouso suave” da sua economia, muito embora o seu governo até admita crescer menos.
Enfim, não há razão e fundamentos plausíveis para justificar o movimento de apreciação do real de tamanha dimensão e de forma abrupta, a partir da nossa realidade.
Tudo leva a crer que temos um movimento acentuado a partir do exterior e com repercussões diretas e reflexos no nosso mercado, absolutamente especulativo. O real foi a moeda mais valorizada, ontem, no mercado internacional, o que fortalece este pressuposto.
Como o cenário americano pelo dado de ontem “confirmou” que ainda será necessário tempo maior para desarmar o programa americano, que promove a farta liquidez no mercado internacional, os especuladores ganharam confiança para uma investida com recursos oriundos de operações de “carry trade”, montadas a partir do yen, para obter rentabilidade de oportunidade com a alta da Selic, com estratégicas operações de balcão no exterior, com vasos comunicantes na BM&FBovespa influenciando a formação do preço.
Assim, montadas e realizadas as operações no exterior, o estimulo à apreciação do real passa a ser a ação seguinte para otimizar o ganho da variação cambial agregando-a ao ganho do juro.
Isto, se correto o raciocínio, não representará melhora do fluxo de recursos para o país, já que ficam no exterior, por aqui somente teremos os reflexos na formação do preço.
Favorece os que estão “vendidos” por aqui, no caso, os boletins da BM&FBovespa indicam que são os bancos, mas não quer dizer que sejam os agentes deste movimento, que ocorre a partir do exterior.
Contudo, quanto ao momento pós-desmontagem destas operações poderão ocorrer pressões altistas consistentes.