Proteção é bom, mas como na própria vida, em demasia pode estragar tudo e criar a insegurança.
Assegurar proteção ao preço do dólar para investidores através da oferta de “hedge” no mercado futuro e garantir liquidez no mercado à vista, mesmo que de forma triangular utilizando o repasse de linhas externas aos bancos para não deixar muito exposta a fragilidade dos fluxos líquidos de moeda estrangeira para o Brasil, no primeiro momento tranquiliza, mas seguramente a longevidade da prática de suporte ante uma carência de fluxos de recursos positiva evidente como tendência, pode causar efeito adverso, ou seja, o desconforto e a desconfiança dos investidores na moeda nacional.
O comportamento de depreciação do preço da moeda americana desde que o Presidente Tombini, do BC, anunciou que a autoridade monetária dará continuidade ao programa de oferta de liquidez ao mercado de câmbio, tanto no futuro quanto no à vista, com pequenos ajustes, repercute este fato que tirou a tensão gerada pela expectativa, mas, a rigor, não resolve o problema central que é o da atratividade perdida do país perante aos investidores estrangeiros.
Portanto, o real continua sendo uma moeda vulnerável, assim como o próprio Brasil a despeito das reservas cambiais de US$ 380,0 Bi, por isso precisa ser ancorada por oferta continua de “hedge” fornecida pelo BC e da mesma forma oferta no mercado à vista, com a estratégia de triangulação que já enunciamos inúmeras vezes.
Em face da antecipação do anúncio da continuidade do programa de liquidez, ainda que não se conheça os ajustes, e o início precoce da rolagem da posição vincenda em 2 de janeiro de “swaps cambiais” de US$ 9,9 Bi , consideramos que está reposto o risco da retomada da dinâmica de alta do preço da moeda americana neste final do mês de dezembro, já que nossa expectativa era de que o anúncio da continuidade do programa ocorresse somente ao final do mês, quando provocaria o efeito que está ocorrendo nestes últimos dias.
O cenário cada vez mais emite sinais favoráveis ao início do “tapering” por parte do FED americano, e, em concomitância, a economia americana sinaliza retomada do dinamismo com recuperação da geração de empregos e queda surpreendente do nível de desemprego.
A fala de ontem dos Presidentes dos Fed´s regionais de St Louis, Dallas e Richmond deixaram a perspectiva de inicio imediato da redução do programa de incentivo monetário do FED já a partir da reunião que será realizada nos dias 17 e 18 deste mês.
Este cenário representa riscos de antecipação de saída de recursos aplicados por investidores no Brasil, e esta perspectiva é que coloca em linha de retomada de tendência de depreciação o real.
Quer nos parecer que a antecipação do anúncio da continuidade do programa está próxima de esgotar os seus efeitos imediatos/pontuais, o que poderá estimular a retomada da alta do preço da moeda americana, até com intensidade se confirmada a possível decisão do FED de dar inicio ao desmonte do seu programa de incentivo monetário.
Afinal, restaram na perspectiva de curtíssimo prazo somente os fatores que podem impulsionar a alta do preço do dólar, já que o BC queimou os “seus cartuchos” antecipadamente.
Temos a percepção de que o crescimento exagerado ocorrer no volume de contratos de “swaps cambiais” ao longo de 2014 poderá ter reflexos negativos na decisão dos investidores, assim como sistemicamente induzir movimentos especulativos sobre o real, além das condições operacionais dos mesmos tenderem ao encarecimento.
A correlação entre volume de “swaps cambiais” e reservas cambiais como balizamento de risco não nos parece um bom equalizador, até porque “swaps cambiais” não representam moeda física. É uma visão simplista já que os “swaps cambiais” têm custos complexos para o governo. Mesmo que se considere o montante de “swaps cambiais” como potencial de demanda no físico em perspectiva, um quadro de desconforto com os volumes pode sugestionar os investidores a retirar seus capitais e, mais e pior, inibir ingressos de novos investidores.
Este é o ponto que temos levantado, ou seja, até que ponto a intervenção do BC no mercado de câmbio proporciona conforto e quando passa a ser considerada desconforto por parte dos investidores? O excesso de oferta de proteção cambial para os investidores estimula a percepção de que o país e sua moeda estão vulneráveis ao contexto global presente.
Contudo, ao que tudo indica é o que resta a fazer por parte da autoridade monetária, salvo se optar em ser o fornecedor direto da liquidez no mercado à vista, em caso de persistência de fluxo cambial líquido adverso, em lugar da utilização dos bancos para a triangulação com linhas de financiamentos que acabam gerando a liquidez na ponta final. A resultante não será diferente, salvo o risco de fomentar movimentos especulativos sobre o real.
O câmbio representa um problema presente potencialmente sério para o governo, pois embora não pareça e muitos ainda não tenham detectado o BC além de gerador da liquidez no mercado futuro, também o é no mercado à vista, só que ao invés de fazer leilões de venda direta, tem optado por gerá-la através os bancos, aos quais fornece linhas de financiamentos com dólares das reservas cambiais e estes fazem fluir a liquidez para o mercado.
O país sofre de carência de fluxos líquidos de recursos externos e existem mais fatores pró-saídas do que pró-ingressos, o que determina que o cenário para 2014 possa ser mais preocupante.
Preço de dólar elevado irradia inflação com muita rapidez, e isto, se ocorrer, exigirá uma taxa Selic mais elevada, o que inibiria mais o investimento, o consumo e o crescimento.