Projeções indicativas da “mediana – agregado” do boletim Focus estão abaixo da manifesta projeção de interlocutores das instituições na mídia, mas as da “mediana-top 5 médio prazo” se aproximam mais da realidade

A projeção dos indicadores “mediana – agregado” do Focus sugere IPCA de final de 2013 em 5,75% enquanto a “mediana-top 5 médio prazo” projeta 6,02%. Na mesma ordem, a taxa de câmbio é indicada em R$ 2,24 e R$ 2,28 e a Selic em 9,25% e 9,50%.

Há algumas semanas vem sendo observado que as projeções “mediana-agregado” do Focus têm ficado atrás da curva das manifestações expressadas por membros da área econômica dos principais bancos e consultorias econômicas.

É bem verdade que a inflação no momento presente sinaliza certo arrefecimento, com consistente probabilidade do IPCA de julho ser zero, mas há razões para preocupações com a escalada do preço do dólar, cujo efeito é imediato na economia, principalmente no cenário atual que contempla a utilização de algo em torno de 25% de produtos importados.

O dólar, eleito o grande vilão das pressões inflacionárias nesta fase do 2º semestre, tem sido projetado de forma consistente e fundamentada, para fechar no final do ano com o preço em R$ 2,30 ou mais, já que a despeito de todo o esforço do BC, as forças do mercado decorrente do baixo fluxo de recursos externos para o país, por razões sobejamente conhecidas, devem dar sustentação à tendência de alta.

A inflação projetada entre 5,75% e 6,02%, se por um lado tem os alimentos com preços em desaceleração, continua sendo pressionada pelos serviços, que não respondem a elevações da taxa de juro, e, cada vez mais pela depreciação do real frente ao dólar. Portanto, saindo do curtíssimo prazo, momento imediato, é possível que tenhamos pressões que conduzam o IPCA deste ano ao entorno de 6%.

Neste quesito, há uma clara divergência entre o discurso da Presidenta Dilma e as manifestações do BC. A Presidenta vê a inflação e as contas fiscais sob controle, enquanto o BC vislumbra pressões sobre a inflação que fundamentam as elevações da Selic e ainda ressalta que o governo mantém uma política fiscal expansionista.

É o claro conflito já diversas vezes destacado. O Brasil vive um cenário complexo e adota medidas ambíguas, pois ao mesmo tempo em que deseja conter a inflação que corrói a renda dos trabalhadores e desincentiva o investimento, deseja alcançar o crescimento econômico. A realidade parece estar sendo mais bem percebida pelo BC.

O crescimento do PIB já tem uma visão do mercado que alcance 2,0% enquanto o Focus sinaliza 2,28%. A produção industrial ainda é projetada otimistamente em 2,10% quando os indicativos atuais já sugerem 1,5%, após a queda da produção em junho, com estoques em alta e a CNI indicando que o setor está longe da trajetória de recuperação.

O déficit em transações correntes, fator de forte pressão altista sobre o preço da moeda americana, que o próprio BC projeta em US$ 79,0 Bi e que pode superar este número, ainda é projetado pelo Focus em US$ 75,0 Bi. Da mesma forma, o saldo da balança comercial que já está sendo projetada pela AEB em zero ou até negativo, ainda é indicado em US$ 5,8 Bi.

Enfim, este comportamento dos indicadores expressados como medianas das projeções de 100 instituições financeiras parece inexplicável, já que afeta as expectativas e pode estar mitigando-as sem aparente fundamento.

Por isso, dada esta fragilidade, deixamos de considerar as projeções para 2014, visto que o cenário de 2013 nos parece inconsistente e há ainda no contexto global uma enormidade de incertezas que podem modificar drasticamente a visão prospectiva.

O fato é que os emergentes tendem a ter seus cenários prospectivos piorando, seja pelo desaquecimento crescente do “boom” das commodities a partir da perda gradual da atividade econômica chinesa, cujo governo está buscando alterar o crescimento ancorado no modelo exportador para um modelo que envolve também o consumo interno, já que é crescente o aumento da população urbana, seja pela recuperação mais lenta das economias denominadas como desenvolvidas.

O Brasil tem um cenário desfavorável, mesmo em relação aos demais emergentes, pois tem inflação alta e baixo crescimento e, ainda, o modelo de estímulo ao consumo com crédito com que deu suporte ao crescimento em fase antecedente revela-se superado, sendo fundamental que ocorram investimentos, sem o que serão parcas as chances de retomada.

A ideia de que o real apreciado potencializa a capacidade do país de exportar é um pouco prejudicada pela larga participação de insumos importados, além da acirrada concorrência internacional, já que esta é a janela focada por todos os países que tiveram os níveis de consumo interno reduzidos.

A visão prospectiva com fundamentos impede que se projete cenário que não envolva o real em processo de depreciação e esta realidade opõe-se à convergência da inflação para o centro da meta, algo realmente impensável neste contexto.

 

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