Em decorrência desta realidade, não é razoável que ocorram repercussões imediatas no nosso mercado em razão de valorização no exterior, consubstanciadas em fatos pontuais aos quais se atribuam importância mais relevante e impactos no comportamento das relações paritárias com moedas em “estado de equilíbrio”, que não é o caso do real que tem sua paridade face ao dólar agregando substantivo volume de “gordura”, algo em torno de 5%, em razão da especulação dos estrangeiros no mercado futuro de dólar.
E nem mesmo na Bovespa!
É natural que a “quebra” de expectativa mais imediata do mercado americano com relação à decisão do FED de manter a taxa de juro e não ter emitido sinal de que poderá reduzi-la proximamente, tenha repercussões nas bolsas americanas e no mercado de T-Bonds, depreciando as bolsas de lá e valorizando o dólar frente às demais moedas, exceto o real que está com o seu preço fortemente “fora da curva”.
Mas, no caso brasileiro há um cenário absolutamente estático que sinaliza que, neste momento, os investidores estrangeiros estão absolutamente retraídos nas decisões de direcionar recursos para o país, então nem estimula e nem retrai, o Brasil está fora do foco até que haja sinais mais concretos a respeito da Reforma da Previdência, que é neste momento, um marco divisório que poderá acentuar tendência e afastar a perspectiva que ainda se mantém binária.
A atestar esta realidade é só observarmos que o fluxo cambial financeiro no mês até o dia 18 era US$ 4,658 Bi e em 26 era US$ 4,662 Bi, praticamente inalterado, pois não há intensificação de ingressos e nem de saídas financeiras do país, e no ano o fluxo cambial total está positivo em US$ 2,850 Bi.
Como temos enfatizado o câmbio é o segmento onde o país está fortalecido e defendido pela exuberância de suas reservas cambiais e com um déficit em transações correntes confortável, não sugerindo qualquer vulnerabilidade que possa desestabilizar a formação perfeita do preço face ao “status quo”, sendo natural que a protelação em torno da tramitação da Reforma da Previdência agrava percepções de liquidez do governo face à Dívida Pública, então se pressão houver deve ser sobre o juro.
No nosso entender o afastamento do preço da moeda americana do seu ponto de equilíbrio no Brasil tem capacidade substantiva para amortecer e não repercutir mutações externas.
Contudo, com o mercado operando baixos volumes, os especuladores buscam agregar “pressão” na formação do preço do dólar sem razões plausíveis ou fundamentadas, sendo reação puramente emocional sem nada de racional, forjadas a partir de imaginários efeitos da postura do FED nos fluxos financeiros para o nosso mercado, que na realidade estão estagnados.
Colocamos ontem que acreditamos que ao longo do mês de maio o preço do dólar no mercado brasileiro sofrerá gradual desidratação na medida em que os sinais sobre a tramitação com perspectivas favoráveis da Reforma forem se consolidando, e este ponto de vista não se altera com eventos atípicos, como o de ontem, que não encontram coerência com quais fundamentos.
A autoridade monetária, o Banco Central do Brasil, está corretíssimo ao ocasionalmente pontuar, profilaticamente, os pontos relevantes da situação cambial do país, buscando evidenciar sua solidez, mas não se espera que tome qualquer atitude que possa se configurar intervenção.
Eventual oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra poderá ser vista com absoluta naturalidade, visto que o estoque atual fornecido aos bancos está bem abaixo do volume de posições vendidas que detém no momento, algo como US$ 22,0 Bi.
No nosso entender o preço da moeda americana será gradualmente desidratada no mercado de câmbio brasileiro e apostar no dólar contra o real é cada vez mais uma opção de risco.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO