Precificação em face de otimismo, não em fundamentos, em ambiente binário, é risco

A volúpia do mercado financeiro em precificar o comportamento e preço dos seus ativos em face do otimismo em torno da Reforma da Previdência, que será apresentada em seus termos na próxima quarta-feira, com o prévio anúncio de que proporá idades mínimas de 62 anos para mulheres e 65 para homens, com período de transição de 12 anos, não é compatível e naturalmente ocorre com intensidade fora do ponto.

Como oportunamente salientou o Ministro Paulo Guedes, citação do site Seu Dinheiro, “esperando a coisa acontecer”, parece ser a postura mais adequada porque revelaria sensatez ante um avanço objetivado que poderá sofrer inúmeras mutações em seu conteúdo que será proposto, e que demandará pelo menos este semestre e mais o 3º trimestre do ano em discussões e debates.

Inegavelmente todos sabem que haverá intenso embate e debates em torno da propositura, que deverá tramitar pelas comissões do Congresso Nacional, até ir a plenário, onde não se espera tramitação fácil e ágil, esperando-se forte oposição de grupos corporativistas, ideológicos, avançando para inclusão do Judiciário nas discussões, além naturalmente de intensa propagação de “Fake News”, atualmente forte instrumento de convencimento de leigos.

De início já se vislumbra que a propositura de idades mínimas poderá ser revista para 57 anos para mulheres e 62 anos para homens, com alargamento do tempo de transição, e somente neste quesito as estimativas de ganhos financeiros com a reforma já sofreria redução.

Não haverá “vida fácil” para o governo, embora a propositura seja fundamental para o país e meritória em seus propósitos, mas a sua aprovação final, neste momento, agravado pelo fato de ainda ser desconhecida, certamente demandará muito mais tempo do que a urgência que o país requer para poder dinamizar sua atividade econômica e alcançar todos os benefícios consequentes.

Então, a precipitação na precificação movida pelo “entusiasmo” e sem que possamos negar a “especulação oportuna” revela-se descolada de fundamentos concretos, por isso perigosa e arriscada, ainda mais quando se tem um ambiente acentuadamente binário, visto que se não der certo tudo dará errado.

O sentimento é que, ao final de um longo período para um país que tem pressa, haverá avanços, mas não se sabe e nem se pode vislumbrar neste momento em que dimensão e dispersão dos objetivos e qual o efetivo impacto favorável na expressiva crise fiscal com a qual se defronta o país.

A economia real do país continua a mesma, há na realidade o otimismo de que “as coisas” tendem a mudar, mas em que intensidade e em que tempo ainda são incógnitas, razão pela qual é preciso estar atento, mas não antecipar, no euforismo, realidades ainda não presentes e no todo incertas.

Não acreditamos que o investidor estrangeiro se satisfaça com a simples propositura da Reforma da Previdência para destravar investimentos para o Brasil, certamente vai observar a consumação de fatos concretos, havendo ainda o agravante de que a precipitação da precificação sem fundamentos dos preços dos ativos poderá provocar o desestímulo aos esperados investidores estrangeiros.

O foco e comportamento do nosso mercado deverão estar centrados nos nossos “problemas intestinos” e muito menos no que ocorre e se desenvolve no exterior.

O Brasil, no mais, tem um quadro confortável nas contas externas, déficit em transações correntes, inflação, juros, falta o lado fiscal para soltar as travas para o desenvolvimento da atividade econômica e viabilizar novos focos de desenvolvimento sinalizados pelo novo governo.

O retardamento provoca o represamento da tomada de decisões e isto, certamente, impactará no crescimento do PIB, fato que já é sinalizado pelo Boletim FOCUS.

Evidentemente à margem devemos observar o andamento da questão China-USA e suas negociações, que ficam à mercê em especial do humor do Presidente Trump, que agora sinaliza a possibilidade de ampliar o prazo para aplicação da elevação de tributos à China para além de 1º de março.

Da mesma forma nos interessará conhecer os termos da Ata do FED até para que se possa entender melhor a nova postura que surpreendeu os mercados, estando previstos discursos do Presidente do FED, Jerome Powel, e outros no Fórum de Política Monetária dos Estados Unidos, em New York.

Contudo, atribuir aos fatos externos as mutações nos nossos mercado se presta somente a ser pano de fundo, não correspondendo efetivamente à realidade, já que nesta fase as questões internas são as fundamentais para o país.

Hoje é feriado nos Estados Unidos.

Acreditamos que não há fatos concretos e motivadores de forma sustentável para descolar o preço do dólar do intervalo de R$ 3,70 a R$ 3,75 e nem determinar que a B3 ultrapasse ou mesma atinja os 100.000 pontos.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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