Cada vez mais fica difícil ao governo atribuir a fatores externos globais e internos não governamentais as causas do debacle gradual da economia brasileira neste 2013, sendo absolutamente evidente que o país está recebendo a “fatura” para pagar à vista dos erros cometidos à prazo ao longo do ano, o que fundamenta as perspectivas já ruins presentes e que propagam negativismo, que, contudo, com o surgimento de novas evidências, poderão ficar piores no futuro brevíssimo.
E embora este quadro impacte nos principais setores da economia brasileira, é no câmbio onde encontra a caixa de ressonância mais rápida para sinalizar a piora de perspectivas.
A contumaz saída de que “todos estão ruins” e que somos vítimas de fatores externos perde consistência, o Brasil sinaliza que está na descendente outra vez comparando o 3º trimestre ao 2º trimestre deste ano, enquanto outras economias desenvolvidas ou emergentes estão em linha de retomada da superação e do crescimento.
O nosso PIB do 3º trimestre, segundo o IBGE, tem o pior desempenho entre 13 países, escolhidos pelo próprio órgão sem qualquer tipo de hierarquização, mero dado comparativo.
O PIB brasileiro do 3º trimestre, para o qual o mercado financeiro projetava um recuo de 0,3%, foi além e recuou 0,5%, no comparativo com o 2º trimestre e avançou 2,2% frente ao 3º trimestre do ano passado, piorando a perspectiva de crescimento do PIB neste ano para algo em torno de 2,0% a 2,2%.
No 3º trimestre frente ao 2º trimestre, a agropecuária registrou recuo de 3,5%, enquanto a indústria e os serviços ficaram perto da estabilidade. A FBCF, indicativo de investimentos, cedeu 2,2%, enquanto a despesas de consumo da administração publica teve alta de 1,2%, acima da alta do consumo das famílias que ficou em 1,0%.
Este contexto real evidenciado pelo PIB do 3º trimestre agregado a outros fatores como a notória deterioração da politica fiscal, com evidências de que o governo parou de se comprometer com o superávit primário e deu sequência a politica contra cíclica, mesmo com baixo resultado; fluxos de recursos externos insuficientes para financiar o crescente déficit em transações correntes, com IED´s aquém das expectativas e maior necessidade de capitais voláteis; intervencionismo do governo na economia; ausência de reformas imprescindíveis; baixo crescimento; politica econômica pouco clara; inflação; etc. forjam perspectivas muito negativas para o país para 2014, portanto mantendo o viés verificado em 2013.
Este conjunto provoca, como consequência na ponta, a perda de atratividade por parte do país perante os investidores estrangeiros, e isto naturalmente impacta no mercado de câmbio e na formação do preço da moeda americana.
O BC tem utilizado o “seu possível” com oferta expressiva de “swaps cambiais” para abrandar os riscos das empresas com exposição em moeda estrangeira, evitando assim o pânico com a definição de um programa de liquidez no mercado futuro. A demanda incessante do mercado por “hedge” deixa evidente a perda de confiança na moeda local.
Da mesma forma, a despeito do BC alardear que temos reservas cambiais de US$ 380,0 Bi sempre que colocam o Brasil como um país vulnerável, certamente evitará até onde seja possível ser o agente direto da geração de liquidez no mercado à vista, utilizando a triangulação de fornecimento de linhas de financiamentos aos bancos, para que estes com a formação de “posições vendidas” sejam os geradores da liquidez ao mercado à vista.
Certamente há um ponto de constrangimento para o BC. Realizar diretamente os leilões de venda de dólares efetivos ao mercado seria uma sinalização objetiva de carência de fluxo autogerado pelo mercado. Fragilizações notórias no câmbio podem motivar movimentos especulativos sobre o real.
São atenuantes técnicas, mas que podem ao longo de 2014 revelar limitações, exigindo que a autoridade monetária tenha que intervir objetivamente fazendo leilões de venda efetiva no mercado a vista, prevalecendo contudo a estratégia de venda de “swaps cambiais” no mercado futuro, que pode causar desconfortos para a autoridade monetária pelos volumes e acentuar as observações das agências de rating, além de fomentar movimentos especulativos.
Nossa percepção é de que continuará cadente a atratividade do Brasil para capitais externos, seja na forma de IED´s dado quadro geral da economia, seja na forma de capitais voláteis, visto que outras economias estarão competindo em oportunidades com o Brasil, em ambiente econômico mais favorável.
Além disto, certamente haverá uma decisão no curtíssimo ou curto prazo do FED sobre a redução do programa de incentivo monetário, e este fato deverá determinar saída de considerável volume de recursos do país, pois as taxas de juros do T-Bills americanos deverão ficar atraentes.
Na margem, o comportamento dos investidores estará focado no risco de redução do rating brasileiro pelas agencias especializadas em estabelecer notas de crédito. Este é um risco efetivo e a situação da nossa politica fiscal contribui muito para a perspectiva desfavorável.
A representante da agência de rating Standard & Poors destacou, em evento nesta semana no Rio de Janeiro, que o Brasil ainda não teve reduzido o seu rating, pois ainda acreditam que o país possa melhorar seu quadro fiscal. Foi uma sinalização bastante marcante.
Espera-se efetivamente uma melhora no resultado fiscal em novembro, contudo com receitas extremamente pontuais, que não se repetirão mais, e este é um ponto observado nas avaliações dos analistas e, sabidamente, é difícil acreditar em reordenamento da politica fiscal em ano eleitoral.
Há em perspectiva um conjunto de fatores que não motivam incremento de ingressos de recursos externos, e riscos concretos de ocorrências como decisão do FED e até alguma mudança de rating pelas agencias que poderão estimular fortes saídas.
O Brasil tem como possibilidade de atenuar este quadro as privatizações focadas na modernização da infraestrutura desde que conquiste participação substantiva de investidores estrangeiros com possibilidade de ingressos de investimentos já no curto prazo.
A balança comercial tende a repetir a baixa contribuição, visto que as importações continuam crescentes e substituindo o produto nacional, e mesmo nas “commodities” agrícolas tudo indica que teremos forte concorrência americana, já que o Estados Unidos está aguardando grande safra de milho e soja.
O PIB do 3º trimestre nos mostrou que estávamos errados, visto que AS PERSPECTIVAS QUE JÁ SÃO RUINS E QUE CONSIDERAVAMOS NO LIMITE, ENCONTRARAM NOVAS RAZÕES PARA SINALIZAR QUE PODEM PIORAR.
AO LONGO DESTE MÊS É POSSIVEL QUE A COTAÇÃO DA MOEDA AMERICANA ATINJA R$ 2,40, PORÉM DEVE RETROCEDER PARA A PROXIMIDADE DE R$ 2,30 AO FINAL DO ANO.
CONTUDO, NÃO NOS PARECE EXAGERADO PROJETAR-SE O PREÇO DA MOEDA AMERICANA NO ENTORNO DE R$ 2,50 JÁ AO FINAL DO 1º TRIMESTRE DE 2014, POIS OS FLUXOS DE RECURSOS DEVERÃO SER BAIXOS JÁ NESTE PERIODO.