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Perspectivas eleitorais influenciam e mercado fica à mercê!

A grande maioria das bolsas mundiais praticam um “sell off” expressivo decepcionadas com setores pontuais da economia e com alguns desempenhos pontuais de economias importantes, com ênfase para o segmento de tecnologia e Europa e Japão, e nem tanto pelos números da geração de empregos e taxa de desemprego nos Estados Unidos, que veio abaixo das projeções, mas não podem ser considerados, rigorosamente, negativos pois o numero de postos de trabalho criados em março, após corrigidos janeiro e fevereiro para cima, deixou evidente que a economia americana está com vigor, e que o fato em si não deve alterar a postura do FED na sua decisão de redução de juro já tornada publica.

Mas, enquanto as bolsas mundiais operam no “vermelho”, a BOVESPA opera repercutindo os resultados da mais recente pesquisa eleitoral e o faz valorizando os papéis das empresas estatais.

Por outro lado, a pesquisa eleitoral referendou mais uma vez como fator de elevado peso na perda de popularidade do atual governo à questão da inflação que vem se mantendo aquecida e com perspectivas de continuidade. A inflação vem sendo captada por todas as classes sociais, principalmente pelas classes C e D e este fato vem afetando o resultado das pesquisas que vem piorando para o atual governo.

A taxa SELIC foi elevada na semana passada a 11% aa., mas mesmo assim o “sentimento” popular é de que a inflação continuará crescente, com o próprio BOLETIM FOCUS já a projetando para o final do ano a 6,35%, existindo, portanto, grande chance de superar o teto alto da meta que é de 6,50%.

A reação do governo para conter este relevante ponto de influência na vontade popular em torno das eleições é focar com maior intensidade a convergência da tendência de alta do IPCA, mas é notório que já tenha o entendimento de que somente com a elevação da taxa SELIC consiga obter sucesso nesta empreitada.

Assim, surge a necessidade de apreciar o real para que o preço deste seja o coadjuvante do juro no enfrentamento da espiral inflacionária.

A primeira medida foi anunciar precocemente o inicio da rolagem da posição de contratos de “swaps cambiais” vincenda em 2 de maio próximo, e, dada as circunstância há bastante convicção que neste mês promoverá a rolagem total procurando impactar favoravelmente na liquidez do mercado futuro buscando influenciar a formação do preço no mercado à vista.

No mês passado, fevereiro, realizou a rolagem parcial do lote vincendo, provavelmente o necessário, mas deixou brecha para que o preço da moeda americana pudesse entrar em apreciação.

Convive-se neste momento no Brasil com a “sensação” que temos substantivo fluxo de capitais especulativos atraídos pela exuberância do juro de 11% que proporcionamos, e isto acaba por provocar um confuso sentimento que enganosamente mistura euforismo com otimismo, como se o país estivesse recuperando sua credibilidade no exterior.

Este é um equivoco. Primeiro que é natural a reação eufórica no ambiente dos setores que estão recebendo estes capitais especulativos, o que nada tem a ver com otimismo retomado em relação do Brasil, que tão somente reassume a sua característica de ser o “oásis do ganho fácil” perante a comunidade especulativa no mundo.

Não se deve confundir com otimismo. O país está perdendo substantivo volume de capitais, provavelmente de boa qualidade que se referem a compromissos vincendos e que não estão sendo rolados, e que está passando à margem da observação mais cética e critica dos analistas.

Afinal, de tudo que entrou e saiu até o dia 28 de março, praticamente ao longo do 1º trimestre, ficou um fluxo cambial liquido de tão somente US$ 3,954 Bi, absolutamente insuficiente para as necessidades do país.

Já expurgado este saldo positivo, a insuficiência de fluxo cambial do país está em US$ 15,8 Bi que estão ancorados nas posições “vendidas” dos bancos no mercado à vista e que estão sendo financiadas pelo BC com linhas de financiamentos em moeda americana com uso das reservas cambiais.

Portanto, ainda que houvesse uma intensa melhora do fluxo cambial líquido para ser influente na formação do preço da moeda americana precisaria ser superior ao total da insuficiência atual de US$ 15,8 Bi ancorada nas posições “vendidas” pelos bancos.

Portanto, não é razoável e nem fundamentada a ideia de que o fluxo cambial atual é que vem determinando a apreciação do real. A rigor, a tendência do preço da moeda americana, até que se obtivesse a “zeragem” da insuficiência de fluxo cambial seria de apreciação do preço da moeda americana e não de depreciação.

É perceptível o “peso da mão do governo” no mercado influenciando a formação do preço da moeda americana depreciada, não sendo sustentável que o comportamento da moeda americana vem acompanhando o mercado internacional, visto que a apreciação do real esta costumeiramente desalinhada com a razoabilidade com que se comportam as demais moedas emergentes.

Contudo, ao utilizar esta via para procurar conter a inflação, fator de grande peso nas eleições, pode ocorrer a retração do fluxo de capitais especulativos desincentivado pela baixa taxa de conversão e os riscos de ocorrência de uma reversão de tendência que precisaria estar protegida por “hedge” que por seu custo poderia eliminar a atratividade da taxa de juro.

Por outro lado, a taxa cambial baixa e desalinhada pelo interesse do governo poderia motivar a liquidação antecipada de divida de empréstimos de curto e longo prazo pelo setor produtivo, bem como dos empréstimos “intercompanies”, que poderiam deixar de ser rolados e que representam neste ano valor em torno de US$ 83,4 Bi. Ademais, poderia provocar efeito idêntico precipitando a liquidação do passivo existente de comércio exterior de quase US$ 13,0 Bi, além de incentivar mais importações, enquanto as exportações estariam sendo preteridas e repercutindo na atividade da indústria nacional.

O setor externo já se configurava como o grande empecilho à política monetária do governo este ano, e tende a sê-lo já precocemente, na medida em os fatores da disputa eleitoral passam a afetar o comportamento do mercado cambial.

Para se ter ideia da dimensão das distorções, o preço da moeda americana estava sendo projetada pelo mercado entre R$ 2,40/2,45 para esta fase do ano e está sendo cotada a quase R$ 2,20 e para o final haviam projeções de inúmeros analistas entre R$ 2,55/2,70. Há, portanto, relevante “gap” possível de variação cambial e o risco é que venha a ocorrer e de forma abrupta.

Este contexto prevalecente sem fundamentos críveis pode determinar fortes movimentos de volatilidade e torna presentes riscos consideráveis em caso de mudanças abruptas.

 

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