O Brasil vive um momento de forte convergência de inúmeros vetores negativos de natureza política e econômica e que vem sendo agravados, principalmente no campo político, criando temores no mercado financeiro e seus agentes de que ocorra uma crise institucional, o que seria extremamente preocupante considerando a absoluta necessidade de o governo instituir medidas corretivas de política econômica e foco centrado na recuperação da deteriorada política fiscal, com o objetivo de alcançar o superávit primário mínimo de 1,2% neste ano de 2015.
A questão política em torno da Operação Lava Jato atingindo cabeças coroadas do Congresso Nacional no rol de investigados, certamente incitará maior rebeldia por parte dos seus integrantes ao apoio às aprovações das medidas colocadas pelo governo, através seus Ministérios da Fazenda, Planejamento ou mesmo Banco Central do Brasil.
O grau de confiança continua baixíssimo e sem razões efetivas para revitalizar-se, pois já há a plena convicção de o PIB não crescerá mais uma vez neste ano, com o agravante da inflação tender a ficar muito acima do piso superior do teto, entre 8% a 9% e a taxa SELIC ter que ir além da projeção atual do Boletim FOCUS.
Há clara percepção de que o país possa entrar em recessão e assim, a despeito da desoneração fiscal do governo e aumento de tarifas e preços, a economia não consiga gerar arrecadação suficiente para promover o superávit primário de 1,2%.
Esta má percepção generalizada pode ate motivar alguma agencia de rating a tomar a dianteira e privar o país do grau de investimento.
Há uma crescente constatação de que aparentemente nem mesmo o governo tinha noção exata dos desvirtuamentos causados ao longo dos últimos anos de decisões erráticas adotadas para mascarar resultados, tendo sido preciso atingir um nível caótico de deterioração para se dar conta.
Desta forma, o fardo acaba se revelando muito maior do que se imaginava inicialmente.
O câmbio e o seu preço é a síntese numérica dos inúmeros riscos presentes.
Na eventualidade de não conseguir alcançar de forma convincente o superávit primário de 1,2%, absolutamente necessário para manter o grau de investimento, o país poderá sofrer forte saída de recursos e dificuldades de acesso ao mercado internacional.
A melhora abrupta da economia americana repercute rapidamente nas economias emergentes fragilizadas ao catalisar para si capitais estrangeiros que estejam aplicados nos mesmos. O Brasil está tão fragilizado que nem praticando taxa elevadíssima de juro consegue mais atrair sequer capitais especulativos.
E o risco cambial do país está muito elevado confrontado com as reservas cambiais.
Segundo análise recente do economista e consultor Silvio Figer, publicada pelo jornal Valor Econômico, o total atinge US$ 1,1 Tri composto por aplicações em renda fixa (US$ 287,0 Bi), em ações (US$ 259,0 Bi), empréstimos intercompanias (US$ 207,0 Bi) e mais Divida Externa Bruta (US$ 333,0 Bi – set 2014) que vem sendo administrada por rolagem e não por pagamento, carregando um risco clássico, como conclui o autor, uns poucos vencimentos não rolados pode criar um ciclo vicioso de resgates. E dentro do DEB destaca o autor está a delicada rubrica bancos contabilizando o expressivo valor de US$ 146,o Bi ou 40% das reservas.
Então é um risco cambial de US$ 1,1 Tri contra US$ 375,0 Bi de reservas cambiais com base no balanço de 2014 do BC.
Incertezas, inquietações, perspectivas negativas em torno da recuperação da economia do país e restabelecimento de uma política fiscal confiável passa pelo radar do mercado financeiro, daqui e de fora, e isto agrava a falta de atratividade do país e motiva a saída de recursos.
O governo por sua vez busca justificativas injustificáveis para a crise do País. Coloca-se como vitima da crise internacional, fato que não se sustenta e agora alega a seca, que começou outro dia e vem causando um efeito pontual, podendo ate aumentar a crise mas sem ter contribuído para ela no passado.
E o preocupante é que quando se analisa em profundidade a exacerbação da apreciação da moeda americana frente ao real, constata-se que os instrumentos de defesa do preço da moeda já foram exauridos com a colocação em poder do mercado de US$ 120,0 Bi de contratos de swaps cambiais, um recorde sem precedentes, mas de eficiência agora já comprometida.
Temos as reservas cambiais, mas quando se observa o tamanho do risco cambial brasileiro nota-se que a expressividade do montante não é tanto quanto se costuma atribuir nos discursos.
O preço do câmbio está solto, absolutamente descolado de fundamentos e alavancado por temores do mercado de que o que está ruim possa ficar pior.
Até onde vai? Efetivamente não dá para arriscar, nossa projeção era de R$ 2,80 para o 1º trimestre e R$ 3,20 para o final do ano, e quando a realizamos ao final de 2014 foi considerada exacerbada, agora não há base fundamentalista e a formação do preço está mais no emocional do que no racional.
A única certeza é que o Brasil é vitima de si próprio como consequência de equívocos acumulados nos últimos anos, e somente a ele caberá sair desta situação.