Não faz sentido imaginar empresas fazendo “hedge” de suas exposições com o dólar cotado a R$ 2,40/2,41, portanto, nos parece efetivamente claro que o aumento do volume ofertado para rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos em 1º de outubro, agora sinalizando que atingirá o montante vincendo, foi a forma discreta do BC demonstrar-se não inerte perante a forte alta do preço da moeda americana, sem partir para um embate frontal contra o fato, que de forma alguma interessaria neste momento em que faltam 10 dias para a eleição presidencial.
Não há razoabilidade em atribuir-se a queda de 1,20% no preço da moeda americana ocorrida ontem, quando o BC aumentou a oferta de contratos de swaps cambiais para rolagem, ao tradicional “chavão” utilizado no mercado, frequentemente quando não identifica a causa efetiva, de que houve esta ou aquela entrada de recursos.
E por que não?
Na semana passada o fluxo cambial foi positivo até o dia 19 em US$ 1,179 Bi e conforme informado pelo BC até 22 algo em torno de US$ 2,0 Bi e o preço da moeda americana no período revelou intensa e continua alta.
Há também que considerar-se o fato dos bancos estarem com posições vendidas no mercado à vista até o dia 19 em US$ 15,4 Bi e até o dia 22 em US$ 14,6 Bi, assim impactos de melhora de fluxo na proporção havida são amortecidas, pois ainda insuficientes para resgatar o montante destas posições vendidas com as quais os bancos vem financiando a liquidez do mercado.
Não é absolutamente correto afirmar-se que não falta liquidez ao mercado, por isso o BC não entra vendendo dólares. O fato é que falta efetivamente liquidez autogerada por fluxos operacionais do mercado, então os bancos tem sido estimulados a, em substituição ao BC, promoverem a liquidez adotando posições vendidas no mercado à vista (à descoberto) que estão lastreadas por linhas de financiamentos de bancos estrangeiros. O estimulo está no ganho de arbitragens que os bancos obtêm entre os ganhos com aplicação em cupom cambial e o custo do financiamento das linhas.
Estas posições vendidas em torno de US$ 14,6 Bi no dia 22 representam 3,80% das reservas cambiais brasileiras.
Ao BC não é recomendável atuar com leilões de moeda efetiva dando liquidez direta ao mercado à vista, pois esta atitude poderia ensejar movimentos especulativos mais intensos sobre o real, que já tem a sua fragilidade ancorada no mercado futuro com US$ 95,0 Bi de contratos de swaps cambiais e passaria assim também ter suporte no mercado à vista. Enquanto for possível utilizar os bancos para realizarem o seu papel será melhor.
Certamente, o que menos o governo deseja neste momento é que a discussão em torno do câmbio venha tecnicamente para o centro dos debates, por isso está até assumindo o risco de um impacto na inflação da elevação do preço da moeda americana, para assim evitar o embate frontal com a tendência do mercado de apreciar o dólar por razões internas e externas.
Acreditamos que os instrumentos financeiros “swaps cambiais” já perderam grande parte da sua relevância para monitoramento do preço do dólar num mercado já “satisfeito de hedge” com um estoque “em ser” de US$ 95,0 Bi.
Mas certamente há indícios de existência de movimento especulativo no mercado futuro, o que deve ter sido determinante na decisão do BC de aumentar a oferta de contratos de swaps cambiais para rolagem, de vez que com fluxo positivo no mercado à vista, ainda que não relevante, o movimento de pressão altista sugere vir do mercado futuro.
A atitude do BC procurando interferir neste movimento no mercado futuro pode ter ensejado oportunidade de realização de lucros pelos especuladores, mas certamente não deve cessar a tendência de alta, até porque a perspectiva para o câmbio internamente ainda sugere intensificação da depreciação do real, ao mesmo tempo em que o dólar está em fortalecimento no mercado externo.