O Tesouro Nacional foi preciso ao buscar beneficiar-se da expressiva liquidez presente no mercado internacional, oriunda do programa de incentivo à economia desenvolvido pelo Japão e dos investidores europeus que buscam rentabilidade fora da Europa, onde o BCE reduziu a taxa de juro recentemente.
Colocou bônus de 10 anos à taxa de 2,75%, maior do que a taxa de retorno na emissão de setembro que foi 2,686%, porém cravou o menor “spread” histórico ao obter 0,98%.
Com esta emissão o estoque de papéis de 10 anos para negociação no mercado secundário atinge US$ 2,1 Bi, considerando a emissão de US$ 1,35 Bi em setembro, o que impacta favoravelmente na liquidez dos mesmos.
Mas, diferentemente do que muitos consideraram, estas captações não impactam na liquidez do mercado brasileiro de câmbio à vista por não transitarem neste segmento.
Focando o câmbio, entendemos que ainda “valorizamos em demasia” fatos externos para justificar mutações no preço da moeda americana no nosso mercado, e deixamos de avaliar mais detidamente os nossos problemas que efetivamente impactam internamente e nas perspectivas.
O fluxo cambial que deu sinais de discreta melhora no segmento comercial e comércio exterior, é claramente pontual devido às exportações das safras agrícolas neste período do ano, mas continua desfavorável no lado financeiro, deixando evidente que, embora venham ocorrendo captações no exterior por empresas brasileiras, o montante ainda é insuficiente para atender a demanda (saída). Os números que esmiuçamos ontem do comportamento do fluxo cambial em 2013 comparado com 2012, deixam evidente de forma incontestável que o cenário piorou muito e há uma “luz amarela” presente que precisa ser considerada pelo governo e pelo mercado para não vir a tornar-se “vermelha”.
Não há, portanto, nenhum estímulo nos números recentes do fluxo cambial que possam induzir com segurança o aumento dos posicionamentos vendidos em dólares.
Por outro lado, a fala do Presidente regional do FED da Filadélfia, que não tem direito a voto, que manifestou que gostaria de ver a interrupção em breve do programa de recompra de bônus do FED, tem alcance limitado e de pouco impacto, afinal todos conhecem os pontos de vista de Ben Bernanke, Presidente do FED, que ainda considera lenta a recuperação da economia americana.
Há efetiva necessidade de elevar-se a observação sobre o cenário Brasil, que tem baixas perspectivas de conquista de um saldo maior do que US$ 10,0 Bi na balança comercial, com um quadro que sugere a queda das exportações e o incremento das importações.
Por outro lado, os fluxos financeiros vêm decepcionando e têm viés acentuado ao negativo neste ano, salvo se o governo retirar as barreiras tributárias para os capitais estrangeiros de curto prazo.
A nossa BM&FBovespa vem atravessando período de “turbulências” nem sempre bem transparentes pelas notícias que têm sido propagadas, e, isto se revela em falta de tendência e muita volatilidade. Naturalmente, o investidor estrangeiro observa tudo isto, e, ao que se sabe, grande parte dos que aqui estão presentes aposta na queda, mantendo posições “vendidas”.
Temos um crescente saldo deficitário em transações correntes que precisa merecer maior observação pelo mercado de câmbio, pois já tende a ultrapassar a somatória dos IED´s com o saldo da balança comercial, e este sim, é um fato que impacta na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.
No nosso entendimento ocorre muita observação de fatos externos e pouquíssimas dos fatos internos para justificar movimentos no comportamento da taxa cambial no Brasil.
Acreditamos que o “olhar” dos analistas esteja focando o lado errado, certamente nos dando mais importância no contexto internacional do que um país que representa tão somente 1% no comércio exterior global e que é dependente de financiamento externo, embora tenha um volume de reservas suficientes para suas demandas, caso ocorram.
Os fluxos de recursos externos e nossas necessidades neste campo precisam passar a ter mais foco.