O preço do real ante o dólar teve acentuada depreciação ontem, e, embora se busquem inúmeras justificativas, o fato é que é chegado o momento da retirada do país dos recursos aqui aportados oriundos de operações de “carry trade”focados unicamente na especulação de rentabilidade tão rápida e tão grande quanto possível, valendo-se do intervalo dado pelo FED ao inicio do ano sobre as expectativas para mudança de sua política monetária atingindo as taxas de juros.
Sinais concretos são notórios com a intensificação do fluxo de saída de recursos externos do país neste mês de julho, já atingindo no segmento financeiro, por onde ingressaram os capitais especulativos ao longo do ano, a expressiva cifra de US$ 4,114 Bi e passando a acumular no ano fluxo também negativo de US$ 2,858 Bi, levando as posições vendidas dos bancos a US$ 19,173 Bi, montante maior do que o saldo negativo migrado de 2013.
Já ocorreram no mês passado comentários de gestores internacionais à agências renomadas de que o “carry trade” havia chegado à exaustão.
A realidade brasileira com a atividade econômica em forte deterioração que se revela em baixos índices de crescimento, perda gradual de atratividade de investimentos na conta capital, baixíssima capacidade exportadora de manufaturados por perda de mercados e crescente elevação do déficit em transações correntes, em grande parte estimulada pela prática pelo governo do uso da taxa cambial como instrumento de política monetária para conter inflação, sanciona de forma peremptória a realidade do absoluto desalinhamento da taxa da moeda americana praticada no país.
Este contexto coloca em cena a forte perspectiva de não alcance da meta de superávit primário, pois a queda de arrecadação tende a ser cada vez menor, e isto é rigorosamente observado pelas agências de “rating”.
Por outro lado, acentua-se a percepção de que a mudança na política monetária americana alcançando o juro está mais próxima do que vinha sendo considerada, parecendo haver mesmo uma inquietação por parte dos gestores americanos do FED no sentido de sancionar a mudança, já que entendem que os preços dos ativos financeiros estão extrapolados e precisam ser ajustados.
Incertezas aqui no campo econômico e político e acolá na política monetária acabam por impulsionar a reversão do fluxo do capital especulativo forjado em operações de “carry trade” que ingressaram no país, ficando claro que nem tudo é taxa de juro e oportunidade de ganhos, o risco também é um fator que pesa nas decisões destes investidores.
Temos atualmente uma insuficiência de liquidez autogerada pelo próprio mercado, o que tem levado os bancos a “bancarem” a liquidez com a prática de adoção de posições vendidas, que já estão em quase US$ 20,0 Bi, algo em torno de 5% das reservas cambiais do país. Esta é uma prática à qual os bancos aderem desde que haja oportunidade de ganho de arbitragem, se por ventura uma atitude do BC/COPOM fizer desaparecer esta oportunidade ou torná-la menos atraente, pode ocorrer um xeque-mate e estas posições precisariam ser cobertas num ambiente de fluxo de recursos adversos.
Caberia então ao BC fazer leilão de vendas e zerar estas posições vendidas e assumir a geração de liquidez do mercado de câmbio à vista.
Mas nada é tão simples como sugere, visto que esta seria uma atitude que poderia ensejar movimentos especulativos contra o real a partir do mercado futuro, por isso a autoridade monetária evita assumir a geração da liquidez do mercado á vista atualmente, preferindo que os bancos com a adoção de posições vendidas (a descoberto), pelo menos enquanto haja condições favoráveis para tanto.
Como já salientamos inúmeras vezes, o setor externo, com fluxos negativos, é o grande desafio para a política monetária do governo neste 2º semestre, pois o preço da moeda americana afetado pelas condições desfavoráveis prevalecentes no Brasil deverá ser pressionado à apreciação, o que representa pressão sobre a inflação.
O Boletim FOCUS na sua última versão reduziu a projeção do preço do dólar para R$ 2,39, mesmo tendo piorado importantes indicadores, porém banqueiros estrangeiros estão apontando até R$ 2,60 como taxa mais próxima da realidade para o real ao final do ano.
Pesquisas eleitorais podem até impactar na formação do preço por mera expectativa, mas o fato concreto é que temos problemas a superar no curtíssimo prazo, dentro deste 2o semestre.
Certo é que o preço atual está afastado da realidade brasileira no setor externo e em algum momento precisará ser ajustado.