O preço do dólar demonstrou-se volátil e reverteu para discreta depreciação. Há causas externas, mas ainda existem mudanças internas que, sem alterar as perspectivas, poderiam motivar apreciação pontual do real neste momento.

Os humores externos pioraram ao agregar às já presentes preocupações com os estímulos monetários do FED, novas preocupações advindas da China envolvendo problemas com a liquidez do sistema bancário e perspectivas negativas quanto ao seu crescimento em 2013.

Reflexos imediatos no mercado de “commodities”, com o petróleo bruto e os preços do petróleo Brent caindo para níveis de 3 semanas atrás.

O Banco Popular da China está impondo aos maiores bancos do país o controle sobre os empréstimos arriscados e melhora de seus balanços.

O Índice Shangai Composite foi o mais atingido com queda de 5,3%. O Hang Seng de Hong Kong perdeu quase 3%. O Nikkei japonês caiu 1,3%.

Os investidores estão preocupados que a menor liquidez na segunda maior economia do mundo possa desacelerar ainda mais a recuperação global instável.

A preocupação com o FED e seu posicionamento em relação ao programa de incentivos está determinando venda de T-Bills e elevação da rentabilidade, e, com as preocupações vindas da China o “sell-off” foi intensificado nesta segunda-feira. As bolsas americanas também operaram em baixa.

O mercado americano, embora não revertesse a queda, chegou a apresentar melhora no período vespertino e o dólar perdeu força ante o euro, havendo diminuição da pressão de venda de T-Bills, com a taxa de juro yeld recuando de 2,625% para 2,52%, refletindo recuperação de preço dos papéis.

Este comportamento de elevação da taxa dos T-Bills está provocando efeito imediato nos papéis brasileiros no exterior, como destaca a edição do Valor de hoje. A queda dos papéis brasileiros no exterior é expressiva, Vale bônus para 2042 era ofertado ontem a 84,75% enquanto há uma semana o eram a 93,3%; Petro bônus 2023 eram cotados a 88,50% ante uma semana atrás a 96,9%, afora outros considerados graus de investimentos.

Este efeito primário no mercado internacional permite se antever quais poderiam ser as repercussões no caso do Brasil perder o grau de investimento como país.

Por isso, o governo precisa firmemente estar atento às inevitáveis correções de rumo sobre pontos relevantes da politica econômica brasileira, não subestimando as constantes criticas que tem recebido.

No nosso mercado de câmbio onde o preço da moeda americana assumiu tendência de alta logo ao início do pregão, à tarde ocorreu reversão desta tendência com o preço recuando às proximidades de R$ 2,23 e até um pouco abaixo.

Poder-se-ia pressupor movimento simétrico com o comportamento da moeda americana no exterior, mas existem outros motivos restritos ao nosso ambiente que sugestionam este alinhamento, nem sempre verdadeiros.

Ontem, às 16h26m o BC anunciou antecipadamente a realização de 2 leilões de “swaps cambiais” de 66.000 contratos cada, vencimentos para 01/10 e 01/11, com aceitação máxima total de 66.000 contratos distribuídos a critérios do mesmo. Este fato teve efeito marginal dada à hora no preço de fechamento do dólar. Há vencimentos no final do mês desta monta, o que pode sugerir que seja rolagem antecipada, eliminando as expectativas se o faria ou não.

A oferta de “swaps cambiais” provoca efeito momentâneo na cotação da moeda americana, porém sem estabelecer sustentabilidade.

O mercado espera que com este nível de taxa atual, no entorno de R$ 2,25, ocorra melhora do fluxo cambial com o ingresso das divisas dos exportadores que estão depositadas no exterior sem câmbio contratado, e mais, não descarta mesmo a possibilidade do governo vir a reduzir o prazo de permanência destes recursos no exterior.

A concessão de permanência elástica dos recursos oriundos de exportações no exterior, portanto, sem a contratação do câmbio que só ocorre quando do ingresso, foi decorrente do ambiente prevalecente em 2006/2007 de excessivo ingresso de recursos externos no país, visando preservar os interesses dos exportadores, que assim poderiam administrar o melhor momento para promoverem a negociação das divisas e seus respectivos ingressos.

Hoje, o Brasil atravessa momento muito diferente em relação àquele que determinou a concessão, por isso, acreditamos, que é bastante factível que o governo venha a estabelecer medidas adequando aquele beneficio à realidade presente, em que não persiste o mesmo ambiente.

Seria uma decisão que poderia provocar uma melhora pontual do fluxo no mercado à vista, aumentando sua liquidez e viabilizando melhor oferta no mercado futuro de dólares, atenuando as pressões presentes e melhorando o fluxo cambial do país.

Evidentemente poderia mitigar as pressões presentes, não as eliminando em perspectiva, mas podendo tornar a tendência de depreciação do real mais gradual e disseminando mais lentamente eventuais impactos inflacionários, caso contrário o COPOM poderá ter a necessidade de elevar a taxa SELIC acima das projeções atuais.

Num ambiente em que o déficit de transações correntes é acentuadamente crescente, o país não deve prescindir de fluxos realizáveis e que deixam de ocorrer pela vigência de concessões que já não têm mais os fundamentos e justificativas que as viabilizaram num passado já não tão recente.

Mas, é preciso considerar que a janela da recolocação destes recursos como “disponibilidades” no exterior perdurará, bastando para tanto os exportadores realizarem “operações simultâneas”, o que poderia ensejar que o governo tivesse que adotar medidas de maior rigor nas operações de remessas ao exterior com o propósito de formação de “disponibilidades no exterior”.

Os tempos são outros, já não justificam barreiras tributárias para o ingresso de capitais estrangeiros, certamente o quadro atual sugere que internemos o que já pertence ao país, e, sejamos agora mais atentos e rigorosos, não mais com os ingressos de recursos externos tentando cerceá-los, mas focando mais as facilidades presentes de saídas de recursos, principalmente pela janela “disponibilidades no exterior”.

Precisam ser mitigadas de forma preventiva e prudencial as perspectivas presentes de eventual queda no fluxo para o mercado à vista, o que deixa aberta a possibilidade do BC ter que vir a ofertar divisas efetivas para liquidez, num ambiente em que “swaps cambiais” não resolveriam, visto não ter poder liberatório de pagamento, sendo tão somente um instrumento financeiro de proteção, liquidável em moeda nacional por diferença entre variação cambial e juros.

A tendência crescente de aumento do déficit em transações correntes coloca em perspectiva esta eventual necessidade, e isto, tem efeito alimentador da alta do preço da moeda americana em visão prospectiva.

O governo deve fazer hoje, o que precisa ser feito hoje, e não retardar medidas como ocorreu com a retirada das barreiras tributárias para o ingresso de investimentos externos direcionados à renda fixa.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress