Câmbio News

O mercado busca ancorar-se em notícias requentadas para motivar movimentos que estimulem o giro dos negócios. Na realidade, a simetria do nosso cenário interno com o cenário externo é baixa

Afinal, o que de tão diferente, disse o jornalista Jon Hilsenrath, do The Wall Street Journal, do que já era sabido a partir da fala recente de Ben Bernanke, Presidente do FED. Havia alguma expectativa de anúncio por parte da autoridade monetária americana ensejando alterações imediatas no programa de incentivo monetário do FED, em sua próxima reunião na quarta-feira? Evidentemente que não, a expectativa remota é que isto possa vir a ocorrer em setembro e, assim mesmo, esta perspectiva já está bem fragilizada e deve ser postergada.

Mas, os mercados precisam de fatores estimulantes para alimentar seus giros e a retomada requentada de fatos é uma das estratégias. A fomentação dos receios em torno da redução ou término do programa americano não deveria provocar ruídos tão intensos, visto que há marcadores econômicos pré-anunciados pela autoridade monetária para que o desarme seja iniciado, e o quadro da economia americana, a despeito da melhora moderada, ainda está distante daqueles marcadores.

A rigor, um fato novo seria o jornalista ter informado que o FED adotaria as medidas sobre o programa já na próxima quarta-feira, pode ser que este seja o próximo capítulo.

A economia americana sinalizou que os pedidos de seguro desemprego subiram discretamente na última semana, enquanto houve um avanço de 4,2% nos pedidos de bens duráveis em junho, acima da projeção de alta de 1,7%. No mercado acionário, dentro do expediente, o lucro do Facebook surpreendeu, porém, fora do expediente, o lucro da Amazon decepcionou, e este fato deve repercutir hoje.

Mas, esta é a realidade das bolsas americanas, onde os resultados decorrem de contextos internos, sendo que a realidade da nossa Bovespa, independente da volatilidade dos papéis do grupo “X”, ainda não está repercutindo a intensa “cortina de fumaça” em torno das perspectivas da economia chinesa, que começa a apresentar suas rachaduras e ter suas perspectivas analisadas de forma mais severas e pouco otimistas. Por enquanto, a Bovespa se reanima pelo fato dos papéis estarem baratos, só isto, o que sugere especulação e não tendência.

É crescente o número de análises a respeito da China e as conclusões não têm sido otimistas, projetando desempenho bem abaixo daqueles que o governo chinês tem propagado. Mas, problemas maiores devem estar existindo e são de difícil constatação com a natural falta de transparência de dados, pois, como salientamos ontem, a afirmação enfática do dirigente chinês de que não aceitará um crescimento abaixo de 7% é um indicativo de que o ritmo deve estar abaixo disto e preocupando.

Este é um fato que deve necessariamente estar no radar do Brasil, que tem relevante dependência da China para suas exportações de “commodities” agrícolas e metálicas, e a debacle como tendência da economia chinesa coloca em perspectiva a queda de volumes e preços.

Mas o Brasil tem neste momento a prevalência de problemas “from Brazil” mesmo.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) voltou a projetar, ontem, a balança comercial brasileira fechando 2013 deficitária em US$ 2,0 Bi.

Por outro lado, o fluxo cambial líquido continua muito abaixo das necessidades presentes do país para financiar o seu crescente déficit em transações correntes. 

O viés do preço da moeda americana continua sustentado e fundamentado em alta.

O BC realiza hoje mais um leilão de “swap cambial” de 20.000 contratos, desta forma finaliza a rolagem da posição de US$ 5,715 Bi vincenda em 1º de agosto e se colocar todo o lote terá colocado um adicional líquido em torno de US$ 255,0 M.

A autoridade monetária detém posição vendida em dólar por meio de “swaps cambiais” de US$ 26,605 Bi e poderá atingir US$ 26,860 Bi hoje.

 Este instrumento financeiro utilizado pelo BC serviu para mitigar as pressões maiores advindas do mercado de derivativos, prestando-se a proporcionar proteção (hedge) a empresas com exposição em moeda estrangeira e teve, também, parte absorvida por especuladores que formaram posições compradas.

Ocorre, no entanto, que agora o mercado de câmbio precisa de liquidez no segmento à vista e assim demanda necessidade de dólares à vista.

O BC fez todas as liberações possíveis no sentido de recuperar fluxo de recursos para o país, neste momento de “ressaca”, e, ainda assim, não obteve sucesso a ponto de superar este quadro desconfortável.

Retirou as limitações para as posições vendidas dos bancos, que com esta liberdade podem ser os geradores da liquidez a partir da utilização de suas linhas externas e retirou os fatores inibidores na captação de recursos diretamente pelas filiais dos bancos nacionais no exterior.

São duas janelas importantes.

 A das posições vendidas é, em tese, atraente para os bancos no sentido de que lhes permite captar reais a custo atraente e até atuar pró-apreciação do real, mas o contexto atual inviabiliza relativamente esta estratégia, visto que o cenário prospectivo não é confortável em termos de fluxo cambial, o que lhes impõe realizar o “hedge” de imediato, comprometendo o ganho da variação cambial, que compromete a perspectiva de atuação focando a queda do preço e os custos externos estão em alta. O próprio BC pode se o fornecedor destas linhas, mas da mesma forma como são operações de venda conjugadas com recompra, fica comprometido o ganho de variação cambial e não estimula a apreciação do real.

A outra opção das filiais dos bancos captarem recursos e ingressarem no país, com o objetivo de rentabilizá-los, depende da atratividade do juro do cupom cambial, que não tem sido motivador para que esta via seja implementada como idealizada, e assim, impede que o objetivo seja consumado.

Desta forma, configura-se difícil que o país consiga fluxos suficientes para financiar o déficit em transações correntes, que é crescente.

É bastante provável que tenhamos um final do mês com intensa disputa em torno da formação da PTax entre “comprados” e “vendidos” e poderá ocorrer forte pressão de alta.

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