O IPCA base ano em abril ficou dentro do piso alto da meta do governo voltando a 6,49%, mas o alento é pouco, pois no mês de abril ficou em 0,55% ante projeção de 0,45% e neste ano já acumula 2,50% ante 1,87% no mesmo período de 2012.

Embora no detalhamento possa se identificar um fator ou outro de maior impacto, e até pontual, que tenha pressionado o índice da inflação brasileira, o fato concreto é que a pressão continua e o seu comportamento perdura forte e neste ano já supera o percentual do ano passado no mesmo período. E, devemos considerar que reajustes relevantes foram postergados, mas serão procedidos ainda neste segundo trimestre.

Tudo leva a crer que o BC/COPOM continuará elevando a SELIC, provavelmente até os 8,25% que o mercado está projetando. Nossa percepção é que esta medida poderá, por paradoxal que possa parecer, ajudar a pressionar mais a inflação, visto que o “consumidor padrão” brasileiro tem comportamento praticamente inelástico em relação ao juro que está sendo imputado em seus financiamentos, que a rigor mantém uma distância enorme em relação à taxa básica, mas que são sempre oportunisticamente aumentados quando alterada a SELIC.

Por outro lado, o governo, certamente, procurará conter a elevação do preço do dólar, evitando assim que o mesmo coloque pressão adicional na inflação.

O cenário presente do segmento cambial, com fluxo cambial fragilizado e provocando baixa liquidez no mercado à vista e futuro, tende a confrontar-se com os objetivos do governo, que poderá encontrar resistências aos seus intuitos nos próprios fundamentos do mercado.

A inflação e sua dinâmica parecem ter sido uma surpresa indesejável para o governo, que não a anteviu com tamanha intensidade, num cenário em que objetiva recompor o crescimento e se vê na contingência de adotar medidas adversas a este objetivo.

É quase uma situação única ante as demais principais economias concorrentes, que estão reduzindo suas taxas de juros para incrementar a recuperação de seus crescimentos econômicos, em ambiente em que a inflação não está preocupante.

Tudo sugere que este complexo quadro da economia brasileira promova revisões relevantes, ainda neste 1º semestre, das projeções para o crescimento do PIB, colocando-o mais próximo de 2,5% do que de 3,0%, com viés de baixa.

Importante salientar que ainda observamos pouca abordagem do mercado financeiro, a despeito das projeções que expressa para o BOLETIM FOCUS do BC, sobre preocupações com o crescimento firme do déficit em transações correntes, que é algo preocupante e que tem potencial de impacto altista na taxa cambial, num cenário que mostra que a somatória dos IED´s e superávit da balança comercial tendem a ficar aquém do déficit.

Por enquanto, os bancos operam com posições “vendidas”, ancoradas em linhas externas, face à baixa liquidez do mercado de câmbio à vista, por isso também não lhes interessa alardear este ponto de relevância para as projeções, mas o fato é que, tendo reduzido suas posições “vendidas” no mercado futuro na virada do mês, sinalizaram que já não têm mais a convicção anterior de que o real volte a ser apreciado.

As perspectivas para o fluxo cambial continuam sendo pouco otimistas, principalmente no segmento financeiro, e isto coloca o preço da moeda americana em tendência de alta.

Como a alta não interessa ao governo face aos problemas consequentes da inflação, é bastante razoável esperar-se num futuro breve ações por parte do governo, sejam de natureza normativa relaxando barreiras tributárias ao ingresso de recursos externos, sejam com intervenções operacionais no mercado de câmbio com oferta de dólares efetivos.

Entretanto, consideramos que a hipótese de venda efetiva de dólares tende a ser evitada pelo governo, que então poderá elevar os limites de posição “vendida” dos bancos e fazer oferta de “swaps cambiais” para o “hedge” por parte dos mesmos. Esta estratégia dependerá da postura dos bancos decidindo elevar suas “posições vendidas” num ambiente de baixa liquidez.

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