O governo brasileiro, em especial na era Dilma, teve a “ousadia e coragem” de enfrentar os analistas do mercado financeiro impondo robusta queda na taxa SELIC, deixando evidente ser inconsistente a crença de que taxa de juro baixa causa inflação.
Conquistou o mérito com a tese verdadeira de que nada justificava a elevada taxa de juro praticada, a partir de decisões do governo e anseios do mercado financeiro, que nunca conseguiu ser validada com fundamentos críveis de sua razão e necessidade.
Na mesma linha, isto desde o governo Lula e parte do governo Dilma, propagou que o país sofria “tsunamis” de recursos externos, destacando que o real seria uma moeda demandada como reserva de valor e que o fluxo decorria da alta credibilidade externa na economia brasileira. Não rigorosamente uma verdade.
Propagou esta ideia de forma entusiástica e, com isto encobriu que a atratividade era fortemente ancorada na exuberante rentabilidade que o país ofertava com juros e com arbitragens no mercado de derivativos para os investidores externos, grande parte especuladores, e aproveitou para amealhar todo o fluxo de recursos externos para incremento das nossas reservas cambiais.
Com o objetivo de inflar as reservas cambiais, o BC esterilizava do mercado de câmbio todos os recursos ingressados e até um pouco mais, a ponto de levar os bancos a operar com posições “vendidas” e permitia que o mercado de derivativos derretesse o preço do dólar apreciando o real, que era utilizado como coadjuvante à elevada taxa de juro para combater as pressões inflacionárias, fazendo-a convergir para o centro da meta, num ambiente de acentuado gasto público.
Quando os Estados Unidos e Europa lançaram novos programas de incentivo à atividade econômica, focando saída da crise financeira internacional, o governo já sob intensa crítica do setor produtivo face ao flagelo a que foi submetido, com a apreciação estimulada do real, e que se evidenciou nos dados sobre sua atividade, resolveu então, politicamente assumir a defesa do setor.
Bradou então em defesa da indústria nacional, criticando o real apreciado e, em concomitância com a queda acentuada imposta de forma gradual à taxa SELIC que corroeu a nossa atratividade junto aos investidores estrangeiros, criou barreiras tributárias e normativas que cerceavam o ingresso de investimentos externos para aplicação no país.
E, então o Ministro Mantega sofismou e bradou ao mundo, criando a figura da “guerra cambial”, colocando o Brasil como vítima e assim auto isentando-se do fato do país ter oferecido rentabilidade muito além do admissível para um país “investment grade” e com isto atraído os recursos, que com as medidas de contenção esperava que novos fluxos fossem evitados, tese de sustentação às medidas restritivas.
Ocorre que os fluxos dantescos não se repetiram na direção do Brasil, não devido às barreiras tributárias, mas sim pelo fato do mercado internacional ter passado a observar o Brasil mais por suas fragilidades do que por suas supostas virtudes. Os “tsunamis” ficaram no imaginário, não aconteceram.
Temos agora um cenário que revela inflação aquecida e fluxo cambial com viés negativo.
O governo se vê perante o imperativo de retroceder na sua dinâmica de reduzir o juro no país, em grande parte forçado pelo mercado financeiro que utiliza esta pressão para desafiar o BC a dar evidência de que é independente, elevando-o para reconquista da credibilidade.
Vai acabar cedendo e retrocedendo na mais meritória conduta do governo da Presidenta Dilma, quem sabe a partir da reunião do COPOM de hoje.
Por outro lado, o fluxo cambial está com viés negativo, embora tenhamos reservas cambiais que são preservadas pelo governo de forma enérgica, ou seja, quase para não serem usadas, sugere que se retirem as barreiras tributárias, que foram estabelecidas sem base meritória e fundamentos nem tanto verdadeiros, mas sim como atitude política para agradar o setor produtivo.
O Brasil precisa melhorar o fluxo cambial e, havia poucas perspectivas de melhora para este ano. Porém, a novidade do programa de incentivo à economia que vem sendo realizado pelo Japão, proporciona ao nosso país provavelmente a única e ultima grande oportunidade de recuperá-lo, pois o mercado internacional evidencia expressiva liquidez e como consequência reduz o custo dos recursos, e o povo japonês é tradicional e histórico investidor no Brasil, portanto não tão rigorosos quanto americanos e europeus o foram mais recentemente.
O governo reluta pelo constrangimento notório de ter que admitir que as medidas adotadas à espera dos “tsunamis” foram inócuas e que o país agora precisa de todos os efeitos do que o Ministro Mantega sofismou chamando “guerra cambial”.
Ao que parece está apostando que as captações de empréstimos de médio e longo prazo que estão em evolução possam trazer o volume de dólares que dê sustentação a nossa necessidade para reverter o quadro atual do fluxo cambial.
Porém, derrubando as barreiras tributárias incentivaria a bolsa de ações que anda sem perspectivas concretas e viabilizaria novos IPO´s e da mesma forma poderia aumentar a participação estrangeira no financiamento da divida publica federal interna, hoje em 14,30%, e agregar volume pró melhora do fluxo cambial.
Aumentar o juro talvez não seja a melhor estratégia para conter a inflação presente, dado o seu baixo alcance, principalmente em nossa economia em que ser denominada como “taxa básica” não tem nada a ver com o juro praticado no cotidiano.
Os efeitos que serão obtidos deverão estar muito próximos de nulos, mas mutilará a maior conquista deste governo.
Enquanto isto no câmbio, embora saibamos dos efeitos colaterais na economia, poderia obter efeitos mais imediatos nos preços da economia que estão de forma mais intensa afetando a inflação e a sua reversão poderia ser feita de forma mais rápida e com menos ruídos que no juro.
E afinal, o Brasil está precisando melhorar o fluxo, e isto é importante para um país que necessita de financiamento externo para fazer face ao seu déficit em transações correntes.
Optando pelo juro que foi uma efetiva conquista, como tudo indica, desaponta o mercado de câmbio que aguardava liberação das barreiras tributárias e com isto o real esta sendo depreciado flutuando no entorno de R$ 2,00.
Aparentemente, no mercado externo os especuladores não estão sendo ousados em especular com dólar versus real, com contratos a termo, o que poderia apreciar o real mesmo não havendo fluxo ingressando no país. Provavelmente, estão com incertezas sobre como será conduzida efetivamente a politica monetária focando o combate à inflação.