Chega a surpreender o fato de num cenário imaginário de curtíssimo prazo e mesmo do que abrange o próximo ano de 2014, por vezes, grande parte dos analistas não venham dando o peso correto ao fator câmbio e suas imprevisibilidades para o Brasil quando observamos mais detidamente as perspectivas.
Recentemente, pós reunião do COPOM, predominou a visão de que o aperto monetário está chegando ao final, quando no nosso entender ao não ser enfático na questão inflação a intenção foi deixar este assunto em aberto.
O câmbio deverá ser pressionado ao final deste ano e deve sofrer impactos fortes de depreciação do real ao longo de 2014, até mais acentuado logo no 1º trimestre de 2014.
E o câmbio pressionado é um elemento potencialmente inflacionário, que nem sempre poderá ser contido com as ferramentas disponíveis ao Banco Central do Brasil, que assim terá que utilizar o antídoto inflacionário da elevação da taxa de juro SELIC.
Repetimos aqui o que abordamos ao longo do ano. O Brasil perdeu de forma acentuada a atratividade perante os investidores estrangeiros, seja pela deterioração da politica fiscal, seja pelo baixo crescimento, seja pela excessiva intervenção do Estado na economia, seja pela ausência das reformas imprescindíveis, seja pela melhora acentuada dos demais emergentes que passaram a dividir a preferencia dos fluxos de recursos externos, etc.
O que se constata agora nada mais é do que a consequência de algo que presumivelmente se sabia iria acontecer.
Destacamos inúmeras vezes que a NFE (necessidade de financiamento externo) do Brasil era expressiva devido a insuficiência de IED´s e o crescente déficit em transações correntes. Demos números evolutivos deste contexto, e, matéria de hoje do jornal Valor Econômico salienta que a dependência de capital volátil é a maior desde 1998, isto sem ter destacado que é expressiva a participação dos empréstimos “intercompany” na composição dos IED´s deste ano.
Os fluxos de recursos externos só não estão piores devido aos ingressos pontuais, aqueles que não se repetirão, e que atenuaram em parte o contexto negativo que se verifica desde junho deste ano, sem perder de vista que em janeiro e fevereiro já haviam sido desapontadores.
É uma operação pontual neste mês outra naquele outro mês e assim vai indo, estando o fluxo total negativo e expressivamente negativo no fluxo financeiro no ano.
Há na realidade uma similaridade com a politica fiscal, que absolutamente deteriorada procura ser mascarada também com receitas pontuais que não se repetirão mais e que assim impedem que os números puros fiquem desvendados, afora mudança de critérios.
As estratégias criativas do BC como massificação da oferta de “swaps cambiais” para atenuar o ambiente de desconfiança no comportamento do preço da moeda americana e a de não assumir o fornecimento direto de dólares ao mercado à vista para não transparecer claramente a carência de fluxos de divisas para o país, utilizando a triangulação com os bancos, aos quais fornece linhas externas em moeda estrangeira e estes, por sua vez, constituem posições vendidas ancoradas nestas linhas para gerar liquidez, podem não ser eficientes em 2014, como já não estão sendo ao final deste ano, para conter pressão de alta do preço da moeda americana.
Afora a perda significativa de atratividade que não encontra no cenário atual motivos e razões para ser revertida em 2014, o Brasil tem sido mencionado por inúmeras vezes por organismos de credibilidade como detentor da moeda entre as mais vulneráveis às alterações no programa de incentivo monetário do FED, que poderá ocorrer em breve.
Há, portanto, uma depreciação mais acentuada do real em perspectiva. Acreditamos que se o FED não adotar o inicio da redução do programa de imediato não teremos um incremento de ingressos, mas uma diminuição nas perspectivas de saída, que deverão se acentuar quando o FED tornar efetiva a redução.
Neste ano de 2013, como citado no Valor Econômico, comparando o desempenho do real com o índice MSCI Moedas de Mercados Emergentes a moeda brasileira tem performance pior que a do “benchmark” – referência para o mercado de moedas emergentes. Desde o inicio das questões em torno da redução do programa do FED em maio o real caiu 13,64% frente ao dólar, enquanto o índice de moedas emergentes recuou tão somente 2,94%.
Por isso, preconizamos que teremos no 1º trimestre uma expressiva depreciação do real, pois o FED tende a dar inicio, ainda que discreto, a redução do seu programa.
A grande oportunidade de melhorar o fluxo de recursos externos e a participação dos mesmos na modernização da infraestrutura do país, por isso é de absoluta relevância que o país procure atrair estes capitais.
Na atração dos IED´s tradicionais podemos ter a surpresa de perder recursos para outros países emergentes, que no todo demonstram maior grau de atratividade.
Enfim, o que desejamos destacar é que o cenário prospectivo inflacionário não pode ser formulado sem considerar o fator câmbio como elemento que poderá contrariar todas as previsões em termos de ações na politica monetária.
O câmbio e a sua formação de preço devem ser merecedores da absoluta atenção do mercado financeiro ao formular suas projeções para 2014, pois poderão ser os fatores geradores dos impactos negativos, aos quais não vem sendo dada a devida atenção.