O Banco Central do Brasil tem mantido forte intervenção influenciando a formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, principalmente quando este fato ocorre a partir do mercado futuro, pois consegue atenuar a demanda por “hedge” com a oferta de contratos de “swaps cambiais”.
Quando as pressões ocorrem em ambos os mercados, futuro e à vista, ainda assim com a ação de oferta dos contratos de “swaps cambiais” no mercado futuro consegue influenciar a formação do preço levando o real à apreciação e, a partir de então, motiva os bancos a operarem com “posições vendidas”, com o atrativo de viabilização de ganho de arbitragem do juro do cupom cambial versus os custos das linhas de financiamentos em moeda estrangeira.
Desta forma, o BC é o gerador da liquidez no mercado futuro e os bancos assumem, com lastros de linha de financiamentos em moeda estrangeira ainda concedida em sua grande maioria pelo próprio BC, com as suas posições vendidas a função de geradores de liquidez no mercado à vista, fazendo o papel que, a rigor, deveria ser feito pelo BC ofertando liquidez à vista ao mercado.
Até os dados mais recentes o BC tem colocado no mercado futuro montante em torno de US$ 86,0 Bi em contratos de “swaps cambiais”, e os bancos estão gerando liquidez equivalente ao montante de insuficiência de fluxo cambial positivo carregado do ano passado em torno de US$ 15,0 Bi, equivalente a um comprometimento indireto de 4% das reservas cambiais brasileiras, dos quais algo em torno de US$ 10,0 Bi com financiamento de linhas concedidas pelo BC com utilização para estes empréstimos das reservas cambiais brasileiras.
Ocorre que esta combinação harmoniosa que permitiu que até recentemente o BC mantivesse o controle sobre o preço do mercado, tendo ao lado os bancos também interessados em apreciar o real, sinaliza que sua eficácia está chegando ao fim.
Esta estratégia é eficaz enquanto há demanda forte pelos “swaps cambiais” no mercado futuro ofertados de forma excessiva pelo BC para ancorar o “hedge” do fluxo de recursos que ingressa no país, ao mesmo tempo em que os bancos também realizam o “hedge” de suas posições vendidas no mercado à vista.
Contudo, os próprios indicativos do mercado, corroborados por declarações recentes do próprio presidente do BC, sinalizam que há menor demanda por contratos de “swaps cambiais”, o que indica que há menor intensidade de ingressos de recursos no país.
Os fluxos cambiais financeiros já sinalizam viés negativo desde abril, devendo ser hoje também confirmado quando o BC divulgar o sumário dos fluxos cambiais até o final do mês de maio, com grande possibilidade de já ter se tornado negativo tanto no comercial quanto no financeiro nesta divulgação do mês de maio.
A fragilização da demanda de contratos de “swaps cambiais” tira força de influência por parte do BC na formação da taxa cambial a partir do mercado futuro, ao mesmo tempo em que acentua a demanda por dólares no mercado à vista, por onde saem os recursos do país.
A pressão no mercado à vista implica em que os bancos aumentem suas posições vendidas ou que o BC realize oferta efetiva de dólares à vista ao mercado.
Esta é a fase atual do nosso mercado de câmbio, que entendemos está começando a conviver com a transição da demanda mais acentuada no mercado futuro declinando e se intensificando no mercado à vista.
Por outro lado, no mercado externo com a forte tendência do BCE vir a adotar um “QE” próprio para incentivar a retomada da atividade econômica na Europa, acentua-se a perspectiva de aumento de demanda pelos T-Bills americanos, o que tende a fortalecer o dólar perante as principais moedas, a despeito dos dados da recuperação da atividade econômica americana sugerirem que o FED só irá alterar sua política monetária no 2º semestre de 2015.
Explicando de forma mais simples. Os recursos em moedas não dólar tornam-se oferecidas ao demandar a compra de dólares para que sejam aplicados em T-Bills.
A conjunção dos dois fatores, o interno com o aumento da demanda no mercado à vista com decréscimo da demanda no mercado futuro, e o externo pressionando a alta do dólar frente às demais moedas, acabam criando uma pressão maior de apreciação da moeda americana no nosso mercado de câmbio local.
Na verdade, o BC não tem estratégias, salvo limitações normativas, além das intervenções no mercado futuro com “swaps cambiais” ou “swaps cambiais reversos” no mercado futuro e “leilão de compra” ou “leilão de venda” no mercado à vista. Portanto, são extremamente pontuais.
Até então, para quadros adversos no mercado à vista o BC tem utilizado os bancos com posições vendidas, que assim o substituem, mas é preciso que ocorra a confluência de interesses que favoreçam a realização de arbitragens por parte dos bancos, e, ainda que haja a perspectiva de que os fluxos cambiais possam se recuperar para provê-los de cobertura em algum momento futuro ou a convicção de que o BC o fará caso não ocorra a solução de mercado.
Mas o que ocorre no momento atual é que esta estratégia está prejudicada pela queda de demanda de “swaps cambiais”, o que tira poder de eficácia da intervenção do BC com utilização destes instrumentos financeiros.
Por isso, a alta que foi registrada na 2ª feira correspondeu à nova tendência efetiva do preço da moeda americana e, mesmo com o BC dobrando o montante da rolagem de contratos de “swaps cambiais” ontem em relação à segunda feira, por fim o preço da moeda americana galgou o mesmo nível conquistado na véspera, a despeito do efeito primário de uma sinalização de apreciação do real que não se sustentou.
Doravante, acreditamos, não será tarefa fácil para o BC conter a pressão altista do preço da moeda americana no nosso mercado, até porque acreditamos que há um viés consistente tendente a consolidar o fluxo cambial negativo para o país.
As autoridades governamentais sempre enfatizam que o país tem reservas cambiais expressivas, mas notoriamente não é decisão fácil utilizá-las para geração de liquidez no mercado à vista, pois, embora as mesmas autoridades discordem é difícil ignorar que muitos consideram o Brasil vulnerável, e ao dar transparência objetiva de carência de fluxos externos, podem acabar por estimular movimentos especulativos sobre o real.
Junho poderá revelar-se bastante perturbador para o comportamento do preço da moeda americana, e dependendo da estratégia que venha a ser adotada pelo BC poderemos ter volatilidade, com viés de alta.
Afinal, entendemos que não é o BC que está sendo levado a diminuir a oferta de “swaps cambiais”, mas sim a demanda que está em queda.