Câmbio News

O dólar apreciado foi eleito o vilão da inflação e a queda da confiança das famílias e empresas conspiram contra o crescimento e o esforço fiscal. Conclusões do Copom, mas ocorre que são consequências e não causas

O dólar foi eleito um risco presente para a inflação e pode comprometer todo o esforço do aperto na política monetária, mas esta realidade era “pedra cantada” desde o 2º semestre do ano passado quando surgiram os primeiros sinais mais consistentes de queda dos fluxos líquidos para o Brasil.

Ocorre que o governo não foi prudencial retirando as barreiras estabelecidas desde 2011 ante indicativos que o país perdia atratividade dos investidores estrangeiros, seja já pelo baixo crescimento que posteriormente veio a ser confirmado em 2012, seja pela declarada intenção de reduzir drasticamente a taxa de juro Selic, que na realidade ancorava a atratividade do capital especulativo pelo país.

Em dezembro de 2012 tivemos forte pressão no mercado de câmbio e o Banco Central do Brasil conseguiu mitigá-la com a colocação de “swaps cambiais”, contando com a possibilidade de, como contumaz, o fluxo líquido viesse a melhorar no 1º trimestre de 2013, o que, contudo não se confirmou, pois já havia ambiente desfavorável para o Brasil no exterior.

Veio a promover a retirada das barreiras tributárias e normativas ao ingresso de recursos externos no início de junho, quando já era consolidada falta de atratividade do país para os investidores do exterior, e, já circulavam com intensidade os ruídos em torno de eventual interrupção do programa de incentivo monetário americano pelo FED americano, que criava a perspectiva de queda da liquidez internacional.

Reversão tardia e que não encontrou repercussão positiva por parte dos investidores estrangeiros, já com o Brasil fora de foco, até porque há oportunidades em outras economias emergentes com cenários macroeconômicos mais favoráveis.

O fluxo financeiro desta forma está comprometido e só não esta mais, devido a relevante captação realizada pela Petrobrás em torno de US$ 12,0 Bi.

O fluxo comercial, que ao longo dos anos mais recentes repercutiu os intensos ingressos decorrentes do “boom” das “commodities” que triplicou seus preços, que fez da China o nosso maior parceiro comercial e que motivou certo descaso com a indústria nacional, já não enseja perspectivas de grandes saldos, visto que houve a queda dos preços e das quantidades exportadas das “commodities”, com a relativa perda de atividade chinesa e de outras economias importantes.

Agora o país convive até com a perspectiva de saldo negativo na balança comercial, visto que importa relevante parcela de insumos e bens acabados.

É preciso que se entenda que estamos convivendo com um período de “ressaca” de ingressos de recursos externos, e este quadro coloca o viés de alta do preço da moeda americana como fundamentado e sustentável. A estranheza deve ocorrer quando cai!

O BC tem procurado mitigar as pressões desta alta e até alguns movimentos especulativos notórios que recentemente provocaram o movimento “gangorra” no comportamento da taxa cambial, com “swaps cambiais”, até utilizando a estratégia de atuar sobre as expectativas ao anunciar na véspera o leilão para o dia seguinte, mas isto certamente será pouco, pois a demanda que estava concentrada na busca de proteção (hedge), tende a se revelar também no mercado à vista, com a redução das posições compradas dos bancos.

Na realidade, o BC vai precisar que os bancos passem a operar com posições vendidas para suprir a liquidez do mercado à vista, ancorando estas posições em linhas externas ou linhas leiloadas pelo próprio BC, para evitar ter que realizar ele próprio BC leilão de venda de dólares efetivos ao mercado usando as reservas cambiais, pois esta atitude que deixaria notória a falta de fluxo suficiente para o país e poderia motivar movimento especulativo sobre o real, depreciando-o mais intensamente, afora a volatilidade.

O BC alerta também que a queda na confiança das famílias e do empresariado pode conter a recuperação econômica.

Esta é uma realidade, mas é consequência da inflação que corrói a renda e retira das famílias o poder aquisitivo e isto é sentido rapidamente e impacta sobre as atitudes de consumo e cria o ambiente negativo. Como consequência, as vendas passam a ser menores e impacta no empresariado.

O fato é que o governo convive com um quadro extremamente complexo, ambiciona crescer, o que envolve gastos em expansão e precisa conter a inflação, o que envolve contenção de gastos para ter superávit primário suficiente para viabilizar investimentos.

Como temos ressaltado, está enfrentando o “Dilema de Sofia”. Se não optar por um e tentar obter os dois objetivos tende ao insucesso.

Hoje o jornal Valor estampa em sua manchete: Arrecadação cai e governo estuda reduzir superávit.

É natural, pois se a economia não cresce é atípico que a arrecadação continue crescendo descasada e revela o erro de superestimar o crescimento na elaboração orçamentária.

Por outro lado, cortes orçamentários são anunciados com frequência. A este respeito nos parece que a melhor síntese foi a encontrada pelo analista Antonio Machado, em sua coluna no site Cidade Biz, de hoje, que tomamos a liberdade de reproduzir:

Promessa de corte de gasto fiscal está mais para dieta de quem come escondido: pode até engordar

O mais factível é que a despesa exceda o que foi projetado e ocorra o inverso com a receita, estimada com o PIB crescendo 3,5%, mas já tende para 2% a 2,5%

Os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, no papel de alfaiate e costureira, anunciam na segunda-feira as novas medidas das contas fiscais, que estão como se vestissem paletó apertado e calça larga, quase caindo, não fosse o cinto para impedir um vexame. O ajuste é complicado: falta receita (apesar de ser volumosa) para alargar o paletó e sobra despesa (assim como gordura) para apertar o cinto do superávit primário. O que fazer, se o individuo é grande e obeso?
Fazer o que todos fazem na frente do espelho e ao tirar uma foto: encolher a barriga. O que o governo apresentar de contingenciamento de gasto do orçamento federal de 2013, na data-limite para divulgar o relatório bimestral com a revisão das receitas e despesas do ano, será como dieta de quem come escondido, não corte de verdade.

Compartilhar :
plugins premium WordPress