Economia brasileira em estado de retração pelos números oficiais do BC e com tendência de crescer não mais de 2% este ano, segundo consenso generalizado e sofrendo severas criticas no mercado internacional que apontam o país como vulnerável e frágil baseado em métricas apuradas a partir de inúmeros dados das suas principais contas e indicadores, tornam imperativo que o governo tenha atitudes firmes neste momento, procurando demonstrar reação ao “status quo” que fomenta e consolida a perda de confiança e credibilidade no país.
O governo precisa reagir focando os problemas “intestinos” da macroeconomia brasileira, perdendo o contumaz hábito de atribuir ao cenário externo, buscando desviar as atenções, as causas que provocaram a degradação da imagem do país no cenário internacional.
Os problemas do Brasil estão preponderantemente aqui mesmo no Brasil e fundamentam a perda de atratividade do país aos investidores internacionais, isto atualmente o faz incapaz de obter pela auto-geração de fluxos positivos de recursos externos o montante suficiente para financiar o expressivo déficit em transações correntes, verificado no ano de 2013 e que deve ser bisado neste ano de 2014.
Este ano de 2014, para o qual o próprio BC estima um déficit em transações correntes de US$ 78,0 Bi, deve apresentar recuo nos IED´s e nos empréstimos “intercompanies”, primeiro pelas parcas oportunidades que o país proporciona com uma perspectiva de crescimento em torno de 2%, inflação em alta comparada com o centro da meta, indefinição na política fiscal que continua expansionista, etc.
Como não se espera comportamento além de discreto da balança comercial e nos quesitos capitais voláteis a tendência é de forte saída e não de ingressos, devendo resultar em mais um fluxo desfavorável, a contribuição deve ser negativa.
O governo precisa ter atitudes e não discursos, já dissemos isto durante o evento de DAVOS quando as falas da Presidenta e do Presidente do BC foram de engajamento numa política mais austera, que contudo não evoluiu.
O governo precisa ter atitudes para conter as pressões inflacionárias que na realidade estão mais intensas no dia a dia do que nos dados do IPCA; precisa elevar a meta de superávit primário e que não fique só no papel e na prática continue sendo expansionista.
Minimamente isto, até porque já não há muito que possa ser feito neste governo. Mas, deverá saber que ao anunciar políticas mais austeras não terá o beneficio da dúvida, precisa entregar o que se comprometer, visto que a validação não ocorrerá a partir do bom propósito, mas da entrega do compromisso, para que em 2015 o país possa ressurgir com perspectivas mais favoráveis.
Por isso, não adianta entusiasmo porque o dólar caiu a R$ 2,3860 no nosso mercado na última sexta-feira e se atribui o fato a queda do dólar no mercado internacional devido a dados econômicos menos favoráveis nos Estados Unidos, país que está com sua economia em fase de recuperação, mas que sabidamente há 2 meses enfrenta relevantes problemas climáticos que impactam na sua atividade econômica.
A questão americana é só o “pano de fundo” do movimento especulativo que já vem sendo desenvolvido sobre as moedas emergentes e em especial dos países considerados frágeis. As oscilações extremadas são evidências deste fato.
O Brasil precisa cuidar do Brasil, ter a consciência de que o argumento de que temos “reservas cambiais” elevadas por vezes é só um sofisma, visto que o que o país menos deve desejar neste momento é se desfazer de suas reservas cambiais, ultimo bastião que serve para suportar todas as criticas externas fundamentadas, e, não ter questionada sua capacidade de solvência.
As reservas cambiais não resolvem os graves problemas que o país conseguiu reunir em torno de si mesmo num momento em que o FED americano reduz o seu programa QE e afeta a liquidez no mercado internacional e encarece a captação de recursos externos.
Não temos duvidas de que haverá intensificação de saídas de recursos do país devido a queda da liquidez no mercado internacional e a recuperação gradual dos Estados Unidos, com as taxas dos T-Bills se tornando atraentes.
E, que também haverá uma segunda rodada de pressão de saídas quando o Estados Unidos elevarem o juro, o que não se espera para este ano.
Os instrumentos que o BC detém para enfrentar um movimento de saída efetiva de recursos do país são de “baixo calibre”, pois os “swaps cambiais” promovem proteção, mas não liquidez para suportar a demanda de saída que ocorre no mercado à vista, onde é necessária moeda disponível e isto pressionará as reservas, aliás, como já está pressionando, embora o BC ainda não esteja se desfazendo das mesmas com a estratégia de gerar financiamentos para os bancos, que assim operam com as posições “vendidas” e repassa liquidez para o mercado a vista.
Portanto, o governo precisa assumir atitudes firmes com austeridade de política monetária e fiscal e devemos entender que é ilusório imaginar que a taxa cambial não será pressionada este ano a ponto de atingir R$ 2,60 ao seu final.
O BC poderá monitorar a liquidez, mas não deve promover o enfrentamento da pressão altista do preço da moeda americana, porque não está em condições de “queimar reservas cambiais” num ambiente adverso de fluxo e assim dispor do único grande trunfo que o país tem para não ser mais criticado pelo mercado internacional.
“Swaps cambiais” não são dólares, são instrumentos financeiros indexados, liquidáveis por diferença em reais, e não tem poder liberatório de pagamentos ao exterior, se prestam a proteger o preço do passivo.
Portanto, o foco do Brasil deve estar centrado no Brasil e naquilo que precisa ser feito por seus dirigentes, caso contrário até as nossas reservas cambiais poderão ir embora, pois há o risco de perda de rating, advertência que já se tornou contumaz por parte das agências.