CHINA e ESTADOS UNIDOS sinalizam que podem estabelecer um montante dantesco para os negócios entre si, e a pergunta que fica e que não encontra sinergia com movimentos de otimismo no Brasil é, até que ponto o que é bom para ambos é bom para o Brasil, considerando que há muito nas relações comerciais entre eles que podem ser prejudiciais aos interesses brasileiros, marcantemente um exportador agrícola e de insumos que existem nas pautas americanas e chinesas.
O Brasil não exportará isto ou aquilo a mais em função do acordo, mas provavelmente menos isto ou aquilo, então é natural os reflexos de otimismos nos Estados Unidos e na China com os avanços das discussões e tendências de acerto, inclusive para a economia global, mas rigorosamente não na mesma linha para o Brasil.
Por isso, na medida em que são emitidos sinais positivos em relação ao embate chino-americano, o que determina agora que o Presidente Trump tenha relaxado a aplicação do aumento dos impostos para produtos chineses a partir de 1º de março para data incerta que sinalizou com um “por enquanto”, mas dentro de um clima de otimismo, os mercados americanos e chineses repercutam positivamente, mas por aqui devemos ser mais cautelosos.
O foco do Brasil neste momento é o próprio país e a dinâmica dos avanços com medidas programáticas do novo governo, com destaque para a fundamental Reforma da Previdência, que tem o objetivo direto de “oxigenar” a capacidade de gestão governamental visando atenuar a crise fiscal e ganhar fôlego para impulsionar a atividade econômica na rota do desenvolvimento e, com isto, como consequência sanar os problemas de emprego, renda, consumo e arrecadação do governo, enfim colocar o país como apto para acolher investimentos em conta capital.
Mas, hoje mais do que algum tempo atrás, há a perfeita percepção de que a trajetória da Reforma da Previdência, pós-apresentação ao Congresso, ainda terá um longo percurso bastante além das melhores expectativas, pois terá que ser analisada pelas Comissões do Congresso para posterior apresentação para debates e embates no Plenário da Câmara e na sequência no Senado Federal.
A propagação do prazo, como natural, tem sido otimista para junho, mas a realidade é que de forma sensata provavelmente será possível somente em agosto ou setembro, e há inúmeras razões para admitir-se que poderá sofrer forte “desidratação” nos seus termos ao longo do trajeto.
A rigor, o que se vem observando é uma postura de retração dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, embora haja otimismo, mas sinalizando sensatez, aguardando a materialização das Reformas, em especial a da Previdência e seus termos finais, que permitirá também saber qual a base de apoio político que detém o governo no Congresso Nacional, para, inclusive, ter perspectiva sobre a viabilidade de outras matérias relevantes que precisará contar com apoio político.
Todos, nacionais e estrangeiros, sabem que haverá forte embate de antagonismo das representações corporativistas e ideológicas, com ações diretas e uma imensidão de fake News que tem grande impacto na opinião pública, formando corrente contrária aos avanços, e isto poderá provocar maior protelação no trâmite da Reforma da Previdência.
Em razão deste contexto prevalecente, sinergias nem sempre sustentáveis, incertezas e dúvidas, é absolutamente incoerente se definir tendências efetivas, até porque a perspectiva ainda persiste binária nesta fase, podendo dar tudo certo ou dar tudo errado, o que seria drástico.
O Boletim FOCUS persiste sinalizando tendência de queda da inflação agora reduzindo o IPCA de 3,87% para 3,85%, mas o retardamento até o 3º trimestre para aprovação da Reforma da Previdência certamente impactará nas projeções de crescimento do PIB e poderão até determinar redução da taxa SELIC.
A projeção do preço do dólar para o final do ano em R$ 3,70 nos parece bem alinhada, considerando que a tendência é que a melhora do fluxo de investimentos em maior monta ocorra somente no 3º trimestre e é possível que se isto ocorrer não atinja os montantes que foram otimistamente projetados na virada de 2018.
Por enquanto, acreditamos que o parâmetro de preço para o dólar entre R$ 3,70 a R$ 3,75 seja o mais próximo do ponto de equilíbrio no momento, considerando que o país tem uma situação absolutamente tranquila neste quesito, evidentemente com alguma volatilidade típica das dúvidas e incertezas presentes, mas sem contundência para alterar este intervalo de preço de forma sustentável.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO