Retornamos ao tema central de nosso comentário de meados deste mês, quando o mercado financeiro demonstrou forte comportamento emocional-especulativo que alterava desprovido de fundamentos consistentes seus principais preços e indicadores dos ativos.
Perspectiva absolutamente confusa e complexa não valida comportamento dos principais indicativos do mercado financeiro, como comportamento da BOVESPA, dólar e juro, além de notória atuação do BC que merece reparos e observações criticas.
Há muito achismo e pouca fundamentação na formação de preços pelo mercado financeiro, seus comportamentos e mutações e, também, pelo conteúdo no principal instrumento de divulgação, o Boletim Focus, pelo qual o BC torna publico as medianas das projeções para os principais ativos e indicativos formuladas por uma centena de instituições financeiras.
Otimismo exacerbado num ambiente que sugere mudanças de natureza política, mas que acumula muitas e enormes dúvidas sobre qual seria o próximo ambiente político bastante desprovido de nomes que não estejam envolvidos no processo de desgaste do governo atual e que de forma alguma garante situação econômica mais promissora no curto/médio prazos, sem impor severa depuração à condução e gestão de governo, que poderá trazer fortes desapontamentos para os imediatistas, tanto partidários quanto antagonistas, deixando evidente que o pior pode estar por vir através novos gestores.
É preciso considerar sempre que a situação é extremamente complexa, não havendo predominância do quadro político ao quadro econômico, ambos são drásticos e incertos. As dificuldades que podemos imaginar para construção de alinhamento consensual e convergente à efetiva recuperação da economia brasileira, passarão antes, necessariamente, pelo reordenamento de gestão e suscitarão inevitavelmente duras medidas atingindo a população com forte desconforto e desapontamento, já que esperam melhora imediata e não será assim.
O Boletim FOCUS projeta uma mediana para o IPCA este ano de 7,31%, com o Top 5 em 7,27%, mas parece que estão desconsiderando que até fevereiro já “consumimos” 2,2% que é muito, e, notoriamente, o estado de recessão da economia não vem impactando como se esperava provocando retração, se convivendo com uma inflação na realidade inercial que não responde à grandeza do juro, já que a demanda é cadente.
A recessão precisaria ser quase estagnante da nossa economia, recuando o PIB mais do que o 3,66% projetado. O Goldman Sachs projeta no momento retração de 3,6% enquanto o Morgan Stanley aponta 4,3%, e, acreditamos que esta esteja mais próxima da realidade.
Desta forma ou a retração do PIB deveria ser maior, com fortíssimo desemprego e queda da renda e consumo, para enquadrar o IPCA dentro do projetado ou a projeção do IPCA deveria ser maior, algo acima de 9,0%.
A mediana para o dólar persiste em bases baixas, agora R$ 4,15, incompatível com a saída financeira liquida até fevereiro de US$ 14,0 Bi, que se sugere crescente com a persistência da não rolagem de empréstimos vincendos este ano e saídas de recursos alocados em renda fixa e variável, face ao aumento do risco Brasil e perda da preponderância do juro.
Há otimismo demasiado com a perspectiva de saldo da balança comercial, que, a rigor, não deve ser muito acima de 20,0 Bi e está sendo projetado em US$ 43,53 Bi, sem fundamentos sustentáveis. Neste momento é mais anseio.
A tendência perceptível é de que a atividade industrial tende a ser cadente e com baixo nível de investimento, gerando desemprego de forma mais intensa. Tudo leva a crer que a queda deva ser discretamente abaixo da verificada no ano passado, algo em torno de 7%, mas com os preços sendo compatibilizados com a tendência de reajustes predominantes.
É preciso considerar que o BC manteve uma política errática ao manter a rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos e não os compatibilizando com o volume de saídas, em especial financeiras no montante de US$ 14,0 Bi equivalentes a 280.000 contratos, e acabou pela persistência a motivar forte movimento especulativo pelos “players” do mercado financeiro que construíram elevadas posições vendidas no mercado futuro.
Ao sentir que o movimento especulativo iria conduzir o preço da moeda americana a patamar absolutamente irreal, tendo como fator de “pano de fundo” razões insustentáveis emocionais com a expectativa de mudança de integrantes do governo, o BC reduziu parcialmente a rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos e, de forma surpreendente, iniciou ofertas discretas de contratos de swaps cambiais reversos. Deveria ter interrompido a rolagem para deixar claro o propósito.
Além disto, de forma clara e transparente e de forma que pouco se evidencia nos demonstrativos, o BC continua gerando liquidez no mercado de câmbio a vista, com a oferta de linhas de financiamentos e operações de venda e compra conjugadas oriundas do uso, ainda não assumido em suas manifestações, das reservas cambiais, haja visto que o ambiente presente não sugere possibilidade de aumento de reservas e nem de fluxos cambiais que permitam os bancos a zerar estes aportes de liquidez, o que o faz responsável diretamente e torna efetivo o uso das reservas cambiais.
Então há muitas incertezas, duvidas e expectativas erráticas neste momento conturbado da vida política e econômica do país. E, não há solução fácil e rápida, seja qual for o desfecho do quadro nebuloso que atravessa o país.
Desta forma, resultam contestáveis, pelo menos em tese, todas as projeções a respeito de inflação, juro, dólar, etc…. pois o futuro de curto/médio prazos é totalmente desconhecido, embora se possa afirmar que para por o país na trajetória recuperatória ainda há necessariamente espaço para piorar e depois, então, se bem gerido retomar a rota da recuperação.
A tendência é que no primeiro momento o país sofra agravamento na perda de atratividade, até que se possam vislumbrar as novas diretrizes, que passam pela necessidade de convergência de propósitos das inúmeras influências políticas ou não. O desgaste inevitável tende a ser algo presumível perante os investidores estrangeiros .
Então, não há como se ter um olhar ameno em relação ao preço da moeda americana, haverá inúmeros fatores impactando para a sua apreciação. E não devemos perder de vista que o BC já vem utilizando de forma excessiva os contratos de swaps cambiais que terão demanda cadente e a utilização não explicita das reservas cambiais para gerar liquidez no mercado a vista, que pode chegar a inevitável venda direta.
Então há questões em aberto que não sugerem euforias e nem otimismos exacerbados.
E se não conseguirem o desejado “impeachment” da Presidenta?
E se o conseguirem?
Algo muda intempestivamente no curto/médio prazo?
O mercado financeiro está inseguro e não sabe exatamente qual seria a perspectiva efetiva, por isso os movimentos que se observam tem grande conteúdo de especulação e não de fundamentos.
Nenhuma hipótese deve ser descartada. Pode ocorrer um forte “sell-off” na Bovespa, que registrou valorização incompatível com o contexto da nossa economia. O dólar poderá ter recomposto seu preço compatibilizando-o com a realidade do país e a intensificação de saídas e constrangimento com a frustração das projeções de balança comercial e IED´s.
O momento aponta riscos de ajustes abruptos e rápidos, por isso é necessário sensatez.