Afinal o que mudou da última sexta feira, quando o dólar teve expressiva alta, para a segunda feira em que teve forte baixa e retornou aos parâmetros simétricos com os fundamentos e expectativas presentes.
Se observarmos bem o cenário prospectiva prevalecente na sexta não mudou na segunda feira.
A questão americana perdurou sem avanços concretos no sentido de que seja aprovado novo orçamento e que os republicanos sejam menos antagônicos a elevação do teto da divida.
O Brasil continua precisando de um expressivo volume de ingressos líquidos em moeda americana para que possa superar o “gap” negativo entre os ingressos e saídas ao longo do ano até o presente momento, e continua convivendo com a expectativa de se intensifiquem os fluxos de capitais especulativos atraídos pela rentabilidade mais favorável do nosso juro. Esta expectativa funciona como um elemento contingenciador da alta da moeda americana, e este é o fato concreto a ser observado pelo nosso mercado cambial.
Neste interregno de espera a permanência do preço da moeda americana estará em linha com os fundamentos flutuando entre R$ 2,20 a R$ 2,25, com um viés de alta para R$ 2,30 ao final do ano, salvo se o fluxo que venha ocorrer de capitais especulativos líquidos para o país seja extremamente decepcionando, obrigando o governo a utilizar parte das reservas cambiais para fechar a conta do financiamento do déficit em transações correntes.
Então o que mudou da ultima sexta feira para a segunda, já que nem mesmo os posicionamentos pesados de bancos, investidores nacionais e investidores não residentes no mercado futuro praticamente são os mesmos e as forças equilibradas?
No nosso entendimento, a percepção de que os problemas em torno do Estados Unidos envolvendo a aprovação do orçamento e do teto da divida, a despeito do burburinho que vem causando deverão caminhar para uma solução entre os opositores políticos, visto que é inimaginável que sejam tão absolutamente irresponsáveis num momento em que o país ainda se vê envolvido nos reflexos da crise iniciada em 2008.
Não devemos ter um “replay” de 1996, os tempos são outros.
Com isto os comprados no mercado futuro perderam capacidade de articular com base em especulação sobre o contexto americano e este fato acabou favorecendo os vendidos, que viram assim o preço da moeda americana “devolver” o excesso ocorrido na sexta-feira.
Como dissemos ontem em nosso comentário R$ 2,23 é um bom ponto de equilíbrio para o momento, mas é necessário que se observe mais detidamente o comportamento dos fluxos de recursos líquidos para o país nestes 3 meses finais do ano.
À margem deste cenário no câmbio, o governo divulgou o Relatório de Inflação e houve o anuncio de que o setor público não conseguiu fazer superávit primário em agosto, com o déficit nominal superando os gastos com juros.
Mas os números propagados pelo Relatório parecem críveis, e isto é muito positivo do que quando as projeções se distanciam claramente da realidade.
O crescimento do PIB foi revisto de 2,7% para 2,5%, o que não é tão improvável, embora acreditemos que ficará mais próximo de 2,0%.
O crescimento da indústria foi revisto de 1,2% para 1,1%, enquanto os serviços também foram reduzidos de 2,6% para 2,3%, mas em contraposição o agronegócio teve a projeção elevada de 8,4% para 10,0%.
A Formação Bruta de Capital Fixo foi elevada de 6,1% para 6,5%. O consumo familiar foi revisto de 2,6% para 1,9% e o consumo do governo de 2,4% para 1,8%.
O componente externo deverá ter impacto negativo de 1% no PIB deste ano. A exportações foram revistas de crescimento de 2,8% para 1,7% e as importações foram revistas de crescimento de 7,6% para 8,4%.
A inflação prevista para o final do ano é de 5,80%.
Finalizando e sintetizando. Os problemas americanos deverão encontrar solução politica e estão sendo superdimensionados nos seus impactos no mercado global. O Brasil tem problemas de insuficiência de fluxos externos líquidos para fazer face ao financiamento do déficit em transações correntes, mas ainda tem presente perspectiva favorável de que os fluxos de capitais externos, ainda que especulativos, sejam remanejados para o país, atenuando este problema e isto contingência a alta, que já teve cerceado o movimento especulativo que vinha sendo articulado explorando estas circunstâncias com o programa de oferta mínima de liquidez programada pelo BC.
No nosso entender o COPOM deveria em sua próxima reunir aplicar elevação de 0,75% na SELIC para dar um impacto forte na inflação e tornar intencionalmente o juro brasileiro atraente para o investidor estrangeiro que busca rentabilidade, pois não há tempo a perder.
Complementarmente, poderia rever o prazo mínimo de 1 ano para 90 dias nos empréstimos estrangeiros, pois ao longo do quarto trimestre as empresas começam a realizar os seus planejamentos financeiros para o próximo ano, e este seria o momento de buscar incrementar o fluxo também por este meio.
Hoje o mercado global, a despeito de alguns problemas no Estados Unidos, retomará a realidade e considerará tardiamente o que salientamos e o dólar voltará ao entorno de R$ 2,23.