A percepção da melhora do cenário prospectivo da atividade da economia brasileira é evidente e isto, juntamente com um CDS baixo (116 pontos) no mercado internacional, reacende as perspectivas de retorno sustentável dos investidores externos, acarretando todas as “benesses” consequentes e tornando intenso o fluxo cambial para o Brasil.
Mas é inegável que esta retomada seria fortemente estimulada se houvesse sido mantida pelo governo a postura agressiva com as reformas (administrativa e tributária) subsequentes no imediato da Reforma da Previdência, com postura agressiva e determinante por parte do Governo.
Houve uma notória quebra do ímpeto neste sentido ainda não muito ressaltada visto que o “discurso” vem sendo mantido sem correspondência na ação, ocorrendo um interregno que deixa o sentimento de que “tiraram do forno e puseram no freezer”, em que o governo se fragiliza em sua base de apoio, face ao racha partidário com surgimento, ainda carente de melhor formulação, do novo partido governista, o que poderá representar maior grau de dificuldade para aprovação das reformas.
Embora precipitadamente várias autoridades e até segmentos da atividade econômica vislumbrem a retomada do “grau de investimentos” por parte do Brasil, ainda há muitas etapas a serem suplantadas uma a uma nesta escalada em busca da referência “top” almejada e isto demandará tempo, talvez factível somente para 2022/23, mas é muito factível que ocorra sensível melhora dos fluxos cambiais e esta expectativa já está criando viés sustentável de apreciação do real ante o dólar, mesmo com volatilidade.
Acreditamos que seja esta visão prospectiva que está se fortalecendo substantivamente e que venha a determinar a depreciação do preço da moeda americana no nosso mercado, neste primeiro momento, passando a restabelecer gradualmente a melhora do fluxo de recursos estrangeiros para o país, que poderá ter impacto corretivo mais pontual na formação do preço da moeda nacional.
Há expectativa com fluxo do IPO da XP e houve melhora do comportamento da balança comercial, ao mesmo tempo em que se consolidam as expectativas de um novo corte de 0,50% na taxa SELIC hoje e as projeções para o crescimento do PIB deste ano já superam o 1,1%, havendo enorme otimismo de que em 2020 alcance 2,5%, que ainda é baixo para a necessidade do Brasil, mas que é relevante ante as projeções para a economia global.
O Brasil, como país emergente e com situações diversas na formação dos preços dos seus ativos e indicadores básicos da economia, tende a conviver com ajustes nem sempre simétricos, mas que não encontram fundamentos concretos nas teorias econômicas contumazes.
O governo (Ministério da Economia/BC) insiste na intervenção no câmbio com leilões de oferta de moedas à vista, uma necessidade atual até que seja restabelecida a normalidade do fluxo cambial positivo, conjugando-os com oferta de swaps cambiais reversos, sem que tenha antecipado ação corretiva da disfuncionalidade atual no preço do câmbio, e tem dado sustentabilidade ao preço aviltado da moeda americana no nosso mercado, como que querendo validar a tese “juro baixo câmbio alto” que consta nos livros acadêmicos e prevalece nas economias desenvolvidas onde a relação câmbio/juros é perfeita.
Esta intervenção na forma contumaz com que vem sendo promovida tende a perder eficácia ante a melhora das perspectivas econômicas no Brasil, e já não será capaz gradativamente de sustentar o preço da moeda americana no nosso mercado.
E por quê?
Naturalmente, a perspectiva otimista induzirá ao desmanche das posições no mercado de câmbio futuro formadas com grande conteúdo especulativo e até de erro de projeção de que o país poderia ter um preço de dólar disparado, algo que os números brasileiros neste setor não sugerem e nos anos recentes nunca sugeriram, pois tem reservas cambiais substantivas e tem um mercado de derivativos sofisticado para posturas defensivas e de proteção.
Com o desmanche a derrocada do preço da moeda americana será consistente e a ação do BC não será mais capaz de ancorar a sustentabilidade do preço elevado.
Vai ficar evidente que muitos viram risco onde não havia, e tivemos oportunidade de salientar esta realidade ao longo das nossas abordagens cotidianas.
É possível vislumbrar-se o preço da moeda americana no em torno de R$ 4,00 ao final deste ano, com viés de baixa.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO