Montante do fluxo cambial negativo de agosto desperta atenção

O fluxo cambial de agosto registrou saldo negativo de US$ 3,056 Bi e vem despertando considerações maiores em torno do fato, que a rigor foi considerado inesperado.

Esta performance de agosto está em linha com o fluxo cambial de julho também negativo em US$ 1,711 Bi, que só não foi maior pelo fato de registros de fluxos de exportações da ordem de US$ 5,727 Bi nos 4 últimos dias daquele mês.

Já em principio de julho havíamos destacado a tendência de ocorrência de saída de recursos, em especial financeiros de natureza especulativa.

 Recursos que adentraram o país ao longo do 1º trimestre, valendo-se da oportunidade surgida quando o FED americano sinalizou que a mudança de sua política monetária, o que envolve o juro, seria retardada provavelmente para o 2º semestre de 2015.

Então houve tempo suficiente para estruturação de operações de “carry trade” e direcionamento dos recursos para os países emergentes, tendo o Brasil sido aquinhoado com grande volume de dólares, que direcionados para a Bovespa alavancaram os preços debilitados e também focaram as aplicações de renda fixa face ao juro bastante atraente.

Destacamos também em julho que este tipo de recurso não convive bem em ambientes de incertezas e que no 2º semestre o país teria um ambiente com perturbações, como se vê agora onde ocorre a formação de preços dos ativos financeiros mais influenciados por razões emocionais do que ancorados em efetivos fundamentos.

Salientamos ainda que seria natural ocorrer um movimento pendular com a saída dos investidores desmontando suas posições de “hedge” e promovendo a saída de recursos do país, ao qual denominamos “transição do mercado futuro para o mercado à vista”, com a demanda se acentuando na necessidade de moeda efetiva e não mais em proteção ao preço da moeda.

No mês de agosto quando os investidores estrangeiros reduziram suas posições compradas no mercado futuro em algo próximo a US$ 5,0 Bi, diversos analistas destacaram que tinham perdido o interesse em apostar contra o real, mas na realidade se desfizeram de suas posições de “hedge” porque estavam saindo do país e para tanto pelo mercado à vista. O fluxo cambial evidenciou este movimento.

E este é um movimento que doravante deverá ser observado com bastante acuidade, pois a tendência é a intensificação de saída de recursos, ao mesmo tempo em que deve ocorrer uma natural retração de ingressos, em especial IED´s, tendo em vista que nos parece prudencial que os investidores em conta de capital, face ao quadro macroeconômico do país revelado nos dados do PIB do 2º trimestre e mais por ser ano eleitoral, protelem as suas decisões de investimentos para o ano próximo.

O Brasil registrou até agosto ingressos de recursos externos de natureza financeira no montante de US$ 333,674 Bi e saídas de US$ 336,841 Bi, apurando fluxo negativo financeiro de US$ 3,167 Bi. E, ainda há muito recurso de natureza especulativa que ainda não saiu para sair.

Os bancos, que vem dando suporte à liquidez no mercado à vista através posições vendidas lastreadas em linhas de financiamentos em moeda estrangeira, já acumulam passivo desta natureza de US$ 18,826 Bi, algo como 4,96% das reservas cambiais brasileiras.

O BC tem um montante “em ser” de swaps cambiais colocados no mercado futuro da ordem de US$ 94,0 Bi, para dar sustentabilidade à credibilidade da moeda nacional na forma de proteção de preços (hedge).

E, o contexto prospectivo de curto/curtíssimo prazo só sugere aumento do fluxo cambial negativo.

Como equacionar esta situação?

Até quanto e quando os bancos vão continuar dando suporte à liquidez no mercado à vista, estimulados por ganho de arbitragem, substituindo o BC neste papel, sem que o nível de endividamento de curto prazo se torne desconfortável tecnicamente e não passe a afetar os custos de captações destas linhas de curto prazo comprometendo as arbitragens?

Até quanto e quando o BC continuará colocando swaps cambiais no mercado futuro, cuja tendência de demanda é decrescente e de perda de potencial de monitoramento do preço da moeda americana?

Até quando o BC poderá continuar resistindo a utilizar-se das reservas cambiais para fazer leilões de venda à vista aos bancos para suprir a necessidade de liquidez?

Há ainda riscos de movimentos oportunistas de especuladores neste contexto.

Enfim, até onde vai à capacidade do BC com os instrumentos que dispõe de monitorar o preço da moeda americana neste ambiente adverso?

Por isso, temos destacado que pesquisas eleitorais não devem influenciar formação de preço no mercado de câmbio. O Brasil convive com um ambiente desfavorável e precisa preservar as reservas cambiais que dispõe e que não tem capacidade para aumentar, dado os fluxos negativos, havendo mesmo a possibilidade que tenha, por irreversível, que utilizá-las para suprir a liquidez do mercado à vista.

A reversão do “status quo” exigirá de quem quer que seja eleito, uma série de ações de alinhamento da economia brasileira, e, dando tudo certo, então o câmbio poderá ter uma trajetória com menos intervenção.

Como dissemos ontem, não há trajetória simples do momento atual para o momento melhor, primeiro precisa piorar para depois melhorar.

No nosso ponto de vista, a tendência de fluxo cambial negativo é sustentável neste 2º semestre, isto independente de todo e qualquer evento externo, independente da relevância.

 

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