Finalizou-se o mês de março e o que não faltou foram comportamentos contraditórios.
Janet Yellen, ao presidir a sua primeira reunião no comando do FED provocou impactos relevantes nos mercados financeiros globais. Ratificou o tempo para encerramento do “QE” do FED e ainda ousou sinalizar quando se poderia esperar o inicio da alta da taxa de juro americano.
Criou ambiente de preocupações e propensão ao desmonte de posicionamentos graduais ou mais intensos ao final do ano, quando deveria ocorrer o encerramento do “QE” e em concomitância, com um intervalo de 6 meses, seria dado inicio à elevação da taxa de juro.
Ontem, em pronunciamento numa conferência em Chicago, Janet Yellen afirmou que a economia americana ainda precisa de juro baixo ou que ainda são necessárias as medidas extraordinárias utilizadas pelo FED para impulsionar a economia americana. O entendimento foi o de que mesmo que se confirme o encerramento do “QE” no final do ano, o FED irá manter a taxa de juro de curto prazo no extremo da baixa por algum tempo, supostamente maior do que seis meses.
Yellen destacou que a taxa de desemprego nos Estados Unidos saiu do pico de 10% em outubro de 2009 recuando a 6,7% em fevereiro último, mas que a rigor o mercado de trabalho ainda continua fraco.
Enfim, num curto espaço de tempo Yellen, presidente do FED, fez duas colocações sugerindo entendimentos diferentes para implementação de mudança de elevado impacto no comportamento dos mercados financeiros globais, por abordar a questão do juro americano.
Este fato foi motivador para o comportamento positivo das bolsas que operavam pós pronunciamento, tendo em vista que a queda de liquidez provocada pelo “tapering” do “QE” tem um peso, mas a questão do juro sensibiliza de forma mais intensa o comportamento dos mercados, em especial dos países emergentes.
No mercado de câmbio, cujo comportamento nas ultimas semanas de março tem sido anormal e absolutamente contraditório face o rebaixamento da nota de crédito do Brasil, indicando apreciação do real quando todos os fatores e fundamentos sugeriam depreciação do real, esperava-se volatilidade e, com a ocorrência de alguns fatos, a tendência deveria ter sido de apreciação do real e ocorreu o inverso.
A fala de Yellen era sugestiva de impacto de apreciação do real. Da mesma forma o fato da Petrobrás ter negociado substantivo lote de exportação no mercado, comenta-se US$ 1,5 Bi, induzia a ocorrência de apreciação real.
Contudo, ao final do dia constatou-se que houve apreciação da moeda americana.
Ontem tivemos oportunidade de tecer comentário, inclusive agregando dados quantitativos, para evidenciar que a apreciação do preço do real é pontual e insustentável e que todos os fundamentos, até mesmo a percepção dos bancos que estão reduzindo suas posições vendidas no mercado de dólar futuro na BM&FBovespa, sugerem preço da moeda americana em perspectiva de alta.
O fluxo cambial líquido que o país conquistou nos últimos 3 meses não tem a expressividade que os “ruídos” em torno de ingressos vem revelando, já que em concomitância ocorrem substantivas saídas que nem sempre estão sendo observadas.
Muito provavelmente ocorre a saída de recursos de qualidade e ingressam recursos especulativos que nada produzem e que procuram o país somente para obter rendimentos. Uma má troca.
São tão baixos liquidamente que não conseguiram reduzir a insuficiência de fluxos cambiais da ordem de US$ 13,0 Bi que estão sendo suportados pelos bancos com posições “vendidas”, ancoradas em linhas de financiamento em moeda estrangeira concedidas pelo BC, para garantir a liquidez.
O Brasil tem inúmeros compromissos a saldar este ano em volumes substantivos, como empréstimos vincendos que podem não ser rolados totalmente, restos a pagar de comércio exterior, etc… e é muito provável que não consiga obter fluxo cambial suficiente para fazer face. O déficit em transações correntes foi elevado pela autoridade como projeção para este ano para US$ 80,0 Bi.
O Presidente do BC, Alexandre Tombini, enalteceu durante o Fórum Econômico da América Latina, realizado pelo IIF na Costa do Sauípe, que o Brasil está comprovadamente resistente a choques externos, pontificando as nossas reservas cambiais, mas a fragilidade do Brasil advém do “conjunto da obra” e no sentido macro o país não está num momento favorável, nem mesmo nas perspectivas, e é isto que é observado pela comunidade internacional.
Na próxima quarta feira o COPOM deverá anunciar nova alta da SELIC, agora para 11%, que não deve ser a última.
Nossa perspectiva é que neste mês de abril gradualmente o preço da moeda americana venha a retomar o viés de alta, que será, sem dúvida, a sua tendência sustentável em perspectiva.