É absolutamente perceptível que os indicadores da economia brasileira vêm se revelando cada vez piores, seja no quesito do emprego, seja no quesito crescimento, produção industrial, fluxos de recursos externos, déficit em transações correntes, etc…
Toda perspectiva para o 2º semestre é de agravamento do contexto geral, sendo relevante o fato de que, a rigor, não há medida ou ações que possam reverter o quadro no curtíssimo prazo.
Contudo, quando se observa a edição do Boletim Focus, divulgado hoje pelo BC, contendo as projeções medianas das projeções do mercado financeiro, é possível identificar-se contraditórios.
A mediana agregada para o preço do dólar ao final do ano mais uma vez foi reduzida, sendo agora de R$ 2,35 frente a R$ 2,39 da semana passada, após longo período em R$ 2,40. Porém, contraditoriamente, mais uma vez a projeção para o déficit em transações correntes foi elevado para US$ 81,50 Bi frente a US$ 80,75 Bi, após longo período em US$ 80,0 Bi.
Ora, ante uma piora de projeção para os dados do setor externo, o que representa mais pressão sobre o preço da moeda americana, ocorre em curiosa (sic!) redução da projeção do preço do dólar.
Na 1ª quinzena deste mês o país perdeu liquidamente US$ 5,5 Bi com a intensificação das saídas, com parcela em torno de 80% deste montante de saídas de recursos de natureza financeira, numa clara evidência de que a debandada dos recursos especulativos que adentraram o país, especialmente no 1º trimestre, começou a se acentuar e tende a ganhar maior volume a partir deste mês como tendência efetiva.
Os bancos estão bancando a liquidez no mercado à vista com posição vendida total em torno de US$ 20,0 Bi, financiada por banqueiros externos e tão somente com US$ 2,250 Bi do BC, o que no total já representa quase 5% das reservas cambiais brasileiras, pois, a rigor, dar suporte a liquidez faltante ao mercado à vista é obrigação do BC e o montante em torno de US$ 20,0 Bi corresponde efetivamente a insuficiência de ingressos líquidos.
Relevante observar que o país registrou ingressos financeiros até a 1ª quinzena deste ano no montante de US$ 261,9 Bi e mesmo assim já tem este segmento com fluxo negativo de US$ 2,858 Bi. Não houvesse ocorrido o “boom” de ingressos de recursos especulativos no país ao longo do 1º trimestre, certamente o quadro do nosso fluxo cambial será bastante traumático nesta fase do ano.
No ano até a 1ª quinzena de julho o fluxo cambial revela saldo liquido negativo de US$ 1,280 Bi, com viés de crescimento pois o fluxo comercial, ainda positivo, passada as exportações de grãos deve gradualmente se tornar, também, negativo.
O Boletim Focus tem projeção mediana para crescimento do PIB reduzida de 1,05% para 0,97% e para produção industrial ampliando a retração de negativa 0,90% para 1,15% e aponta uma redução para a inflação pelo IPCA de 6,48% para 6,44%.
Contudo, parece que na projeção para o preço da moeda estrangeira ao final do ano não está sendo considerada a ocorrência, já com evidências, da reversão destes recursos especulativos deixando o país.
Desta forma, fica a dúvida se ao reduzir a projeção do preço do dólar para o final do ano para R$ 2,35, o mercado financeiro expressou mais um anseio do que um dado baseado nas expectativas adversas bastante evidentes.
Afinal, as instituições financeiras têm posicionamentos bastante elevados no mercado de câmbio a vista e futuro.
Os fundamentos presentes dão suporte a alta do preço da moeda americana mais expressiva do que R$ 2,35 expressada pelo Boletim Focus, algo em torno de R$ 2,45, isto não ocorrendo qualquer precipitação no calendário “suposto” do FED americano que sugira mudanças na política monetária envolvendo juro, que é, neste momento, um fator à margem dos motivos locais que induzem a saída de recursos externos.
A BOVESPA turbina-se a partir das pesquisas eleitorais, já que os fundamentos não dão suporte, pelo menos até o final do ano, ao movimento de alta puramente especulativa. E como temos destacado, há etapas que precisarão ser convividas em ambiente desfavorável neste segundo semestre, e que não poderá ser suplantado tão somente com pesquisas eleitorais.
E além do amplo leque de razões e motivos para uma alta fundamentada do preço da moeda americana, não se pode perder de vista os riscos de agravamento dos conflitos que ocorrem neste momento entre nações, que podem induzir os investidores à busca de mercados e investimentos mais seguros.