O IFF-Instituto Internacional de Finanças, que representa os maiores bancos do mundo, divulgou diagnóstico salientando que a atuação do BC no câmbio é insuficiente para o país suportar a reversão do FED, pois tem efeito temporário, sendo necessário reformas..
Esta afirmativa pode ser verdadeira, mas é o caso de se perguntar o quanto está o Estados Unidos preparado para que o FED reverta o seu programa de incentivo monetário, já que efeitos imediatos poderiam comprometer os seus avanços conquistados até o momento e, ainda, prejudicar a retomada da atividade econômica efetivamente, inclusive no quesito emprego. Além disto, o Estados Unidos já está com problemas relevantes na questão orçamentária e fiscal, que vem intensificando incertezas.
Por isso, consideramos que o diagnóstico do IFF é parcial, pois analisa a ocorrência do evento da reversão do programa do FED, mas não se manifesta sobre a possibilidade do mesmo acontecer e o quanto atingiria o próprio Estados Unidos.
O contexto que se vislumbra cada vez mais é que a redução do programa de incentivo monetário seria prematura e negativa para os países emergentes, porém não menos para o próprio Estados Unidos.
Já houve importantes manifestações de Presidentes regionais do FED e os números que a economia americana vem gerando conspiram contra a intenção de redução do programa no curto prazo. O PIB americano do 2º trimestre anualizado ficou em 2,5% ante expectativa de 2,6%. As vendas pendentes de imóveis residenciais no Estados Unidos caíram 1,6% em agosto, mais do que a queda esperada de 1%, após ter caído 1,4% em julho, e certamente cairão mais se as taxas dos financiamentos hipotecários virem a ser afetados pela alta de juro no mercado a partir da contaminação do juro sobre os T-Bills em caso de redução do programa.
Há muitos fatores consideráveis indicando que não é recomendável o inicio da redução do programa de incentivo monetário americano, que poderá causar efeitos negativos a todos os países, inclusive e quem sabe até principalmente ao próprio Estados Unidos.
O Brasil precisa efetivamente “reorganizar-se” nas politicas fiscal, monetária e “quase fiscal”, e na sua política econômica que tem ambiguidades num ambiente em que precisa conter a inflação e estimular o crescimento do PIB, contexto muito controverso, pois as medidas tendem a ser antagônicas entre si e ao final podem provocar resultados distantes dos objetivados. A reorganização, clareza e transparência são fundamentais para que a atratividade do país seja reabilitada perante os investidores estrangeiros.
Se os fluxos persistirem adversos, por isso temos salientado que as licitações/concessões/privatizações representam excepcional oportunidade de captação de recursos externos e este deve ser o foco e não o financiamento pelo BNDES, naturalmente chegará um momento em que o governo terá que lançar mão de suas reservas.
No momento atual já há sinais desta necessidade que, contudo, tem sido mitigada com a adoção de “posições vendidas” pelos bancos no mercado à vista, parcialmente ancoradas em linhas de financiamentos (venda a vista e compra a prazo) leiloados pelo BC e, face ao retardamento de tomada de decisão pelo FED, há tempo ainda para que o país possa ser destino de capitais especulativos focando arbitragens já que o nosso juro voltou a despertar atratividade.
Já convivemos com números bastante fragilizados do setor externo e com sinais de que os ingressos líquidos de recursos externos podem se revelar insuficientes para financiar o crescente déficit em transações correntes.
O país precisa fundamentalmente de investimentos externos direcionados ao setor produtivo para o mercado interno e exportador, gerando emprego e renda, e na ponta crescimento sustentável do PIB.
A necessidade de financiar-se com capitais especulativos deixa evidente que o país atrai capitais não por suas virtudes, mas, se assim podemos chamar a taxa de juro elevada, por suas desvirtudes, deixando evidente a fragilização da atratividade do país.
O setor externo precisa ser revitalizado no quesito exportações com a redução do “custo Brasil” e politicas claras e não a custa da taxa de câmbio exacerbada que lhe proporcionaria ser competitivo de uma forma irreal, mas que tenderia a ter repercussões nefastas para a economia como um todo.
No momento, a formação do preço da moeda americana sofre pressões de demanda legitima no mercado futuro e no mercado à vista, já que com as contas externas evidenciando situação de desconforto acaba por estimular a busca por proteção de passivos por parte das empresas que estão expostas, ao mesmo tempo que promove o aumento de liquidações de compromissos dolarizados, seja por pagamentos comerciais relativos a compras externas, seja por pagamentos financeiros como remessas de juros sobre capital e dividendos, indo até os empréstimos “intercompany” do Brasil para o exterior e amortizações de empréstimos externos.
Continuamos convictos de que o governo, face à necessidade de melhora de fluxo no curto prazo, deveria reduzir o prazo dos empréstimos externos sujeitos ao IOF de 6,0% para 90 dias ao invés de 1 ano como vigente atualmente.
No nosso entendimento a taxa flutuando no intervalo entre R$ 2,20 a R$ 2,25 está simétrica com os fundamentos e com as expectativas, com viés de alta para fechar o ano em R$ 2,30.
Os fundamentos a partir do contexto Brasil e suas contas externas sugere um preço maior para a moeda americana, porém a expectativa de que o país possa ter intensificado o fluxo cambial favorável com ingresso de capitais especulativos impacta como fator limitante à alta.
Eventualmente, se ocorrer demanda mais acentuada de “hedge” legitimo ou demanda no mercado à vista, o BC, certamente, fará os ajustes nos volumes das ofertas tanto de “swaps cambiais” quanto de linhas de financiamento conjugadas.