O Banco Central do Brasil completa hoje a rolagem total do lote de contratos de “swaps cambiais” no montante de US$ 10,11 Bi desenvolvida ao longo deste mês, e, certamente, se não o fizesse o preço da moeda americana teria sofrido forte impacto de alta.
O fato confirma a perspectiva então existente no mercado de câmbio.
Da mesma forma é consensual por parte do mercado financeiro que hoje a autoridade monetária, ao encerrar a reunião do Copom, anuncie a alta de 0,50% na taxa de juro Selic elevando-a para 10,0%.
No mercado de câmbio estão sendo confirmadas as perspectivas que haviam de ingressos de recursos externos, seja do bônus do campo de Libra que provavelmente já ocorreu entre 18 e 20, entradas diversas de Petrobrás e Vale relativas à venda de ativos no exterior, etc., mas ainda assim são insuficientes para fazer frente ao movimento de saídas de recursos do país em concomitância e que devem se prolongar ao mês de dezembro próximo, o que mantém firme a tendência de alta da moeda americana.
Como temos afirmado, o preço da moeda americana para o final do ano parece dado em torno de R$ 2,30, confirmando nossas projeções divulgadas em 14.12.12 ( http://www.ngo.com.br/câmbio-news/80), podendo haver alguma volatilidade no entorno deste preço, mas certamente convergindo para o mesmo ao final de 2013.
Grandes desafios ficarão postos para o ano de 2014, que, pelo menos por enquanto, tem perspectivas pouco favoráveis de melhora em relação a 2013, no todo e, em especial no mercado cambial.
O desafio principal é a recuperação da atratividade externa pelo país de forma a que os fluxos de recursos entrem em recuperação, e isto, depende muito mais do que o próprio país fizer por si mesmo do que fatores externos.
O Ministro Mantega, ontem, na reunião na sede da CNI, fez eloquentes colocações, a rigor um pouco distantes da realidade com que convive o país, mais se aproximando de uma aula teórica sobre fundamentos macroeconômicos de caráter geral.
Destacou que fundamentos sólidos são uma das condições para um crescimento econômico sustentável nos próximos anos, o que é uma absoluta verdade, mas que não se coaduna com a realidade do Brasil no momento e, portanto, não se alinha com a suposta realidade atribuída ao país.
E, até culminou com a afirmação de que o Brasil está “bem na foto”, o que realmente seria desejável, mas contrariamente a esta percepção existem os números que se antepõem à afirmativa, além de uma série de análises de organismos respeitáveis e pesquisas recentes a respeito, que demonstram que não é bem assim.
Os desafios para 2014 serão enormes, e na área cambial já recebendo um “passivo” de 2013 que tornará ainda mais desafiadora a tarefa dos gestores do governo.
Será transportado para 2014 um estoque extremamente relevante de contratos de “swaps cambiais” “em ser” e que dependendo do que estejam protegendo podem impor a necessidade de rolagem ou serem convertidos em demanda no mercado à vista.
Como o ambiente prospectivo incerto já há intensa pressão para que o BC dê continuidade ao seu programa de oferta de liquidez diária, até porque é natural admitir-se pressões altistas no preço da moeda americana já a partir do 1º trimestre de 2014, e com a dinâmica da economia, embora lenta, haverá sempre demanda por proteção do risco cambial.
Da mesma forma, poderá haver intensificação da demanda no mercado à vista pelo pagamento de compromissos hoje objetos de “hedge” e isto poderá impor a necessidade de continuidade da oferta pelo BC das linhas de financiamento em moeda estrangeira aos bancos autorizados a operar em câmbio, para que garantam a oferta de liquidez via aumento de posições “vendidas”, caso não ocorra recuperação favorável do fluxo cambial para o país.
Até quando e quanto será possível para o BC triangular a geração de liquidez através das posições vendidas dos bancos no mercado à vista, ancoradas em linhas de financiamento em moeda estrangeira retirada das reservas cambiais, para evitar que diretamente tenha que fazer o suprimento da liquidez necessária?
Poderá ocorrer já no 1º trimestre pressão atípica de demanda no mercado futuro e no mercado à vista, o que tende a impactar na taxa cambial que expandirá seus efeitos deletérios sobre a inflação, que na ponta precisará ser contida com Selic mais elevada.
O ano de 2013 tem sido extremamente conturbado para o mercado cambial face à perda de atratividade externa do país perante investidores que passaram a compartilhar seus direcionamentos de investimentos com outros países emergentes, e até algumas decisões tardias por parte do governo na retirada das obstruções normativas impostas ao ingresso de capitais estrangeiros.
O próximo ano coloca em pauta os efeitos de saída de recursos externos em consequência da redução do programa de incentivos monetários do FED americano, que já vem provocando alguma intensificação precoce de retirada de recursos do país, e, ainda os reflexos contracionistas de decisões de investidores provocados pela discussão da questão fiscal americana que será retomada pelo Congresso americano logo ao inicio do ano.
Por outro lado, na área das nossas exportações precisamos estar atentos para o fato de que as safras americanas de soja e milho se propagam como muito positivas em 2014 e devemos ter forte concorrência nestas “commodities” que tem sido os carros fortes do nosso desempenho exportador.
O contexto 2014 para a área cambial sugere que poderemos ter ambiente desfavorável.