Um intempestivo volume de exportações da ordem de US$ 5,727 Bi nos quatro dias finais do mês de julho evitou que o fluxo cambial negativo perdesse a exuberância esperada e ficasse reduzido a US$ 1,791 Bi, composto por positivos US$ 1,617 Bi no comercial e negativos US$ 3,408 Bi no financeiro.
O volume de US$ 5,727 Bi de exportações nos dias finais do mês, revertendo o saldo do fluxo negativo de US$ 783,0 M até o dia 25 para positivo em US$ 1,617 Bi no dia 31 de julho, deve ter sido absolutamente pontual, provavelmente composto em sua maior parcela por exportações de petróleo e plataformas, como já repercutida pontualmente nos dados da balança comercial de julho que apontou exportações de petróleo de US$ 2,6 Bi no mês com crescimento de 276% e mais de plataforma de petróleo para Cingapura no valor de US$ 866,0 M.
Estes dados atenuaram o cenário negativo em torno do fluxo cambial para o Brasil e até o reconduziu para positivo em US$ 2,356 Bi no ano até julho, mas seja lá qual seja a composição destes US$ 5,727 Bi, o fato é que a tendência do fluxo cambial para o Brasil, tanto comercial quanto financeiro, é propagar-se como negativo neste 2º semestre.
Importante observar-se que o fluxo financeiro registrou no mês fluxo negativo de US$ 3,408 Bi e no ano até julho, também negativo, de US$ 2,151 Bi, num ambiente prospectivo que sugere intensificação das saídas de capitais especulativos ingressados ao longo do 1º semestre deste ano, que poderá, também, agregar saídas de capitais não rigorosamente especulativos motivadas por alguma sinalização mais concreta do FED americano sobre a possibilidade de abreviar as mudanças na política monetária dos Estados Unidos.
É relevante atentar-se para o fato que o Brasil recebeu até o fechamento do mês de julho ingressos de natureza financeira no montante de US$ 289,070 Bi e o fluxo cambial no ano estar negativo em US$ 2,151 Bi, havendo ainda no país relevante volume de capitais especulativos ingressados este ano e tendentes a saída neste 2º semestre.
Por isso é alta a sensibilidade na formação do preço da moeda americana no nosso mercado ante os sinais concretos de melhora dos indicadores da atividade econômica dos Estados Unidos, que reage de imediato depreciando o real.
Doravante a tendência é o aumento substantivo da volatilidade no preço da moeda americana, com viés de alta, mesmo com a intervenção do BC no mercado de câmbio, onde a eficácia do instrumento financeiro “swap cambial” tende a perder força para monitorar a formação do preço que será mais forte a partir do mercado à vista, onde deverá ocorrer o crescimento da demanda, no caso moeda disponível efetiva, para liquidação das operações cambiais de saídas de recursos.
Os investidores ao retirarem seus recursos do país aliviam a demanda por “hedge” desfazendo suas posições de proteção. Se os bancos forem os geradores de liquidez com a ampliação de suas posições vendidas serão, então, tomadores desta parcela liberada pelos investidores retirantes, o que não exigirá, em tese, a oferta de “swaps cambiais”. Contudo, se o BC for o gerador da liquidez diretamente, deverá reduzir a oferta de “swaps cambiais”, pois com os investidores retirando do país posições que estavam protegidas ocorrerá a folga.
O fato é que o Brasil tem problemas próprios que, em parte, o diferenciam dos demais emergentes e assim muito embora, teimosamente, as autoridades monetárias brasileiras procurem atribuir as repercussões que ocorrem no nosso mercado ao exterior, a realidade é que, neste momento, somos diferentes para pior. Crescemos pouco, temos inflação alta, política fiscal deteriorada que não permite incremento de investimentos estruturais indispensáveis e nem redução do custo Brasil, juros elevados, etc. que deixam bastante evidente que as causas dos problemas são quase que totalmente de origem interna.
Precisamos olhar e analisar mais o contexto interno do Brasil e deixarmos de buscar atribuir ao exterior as nossas mazelas.
Parece-nos ser inevitável que o câmbio terá que atravessar ao longo deste 2º semestre período de volatilidade no câmbio, com tendência de alta do preço da moeda americana, o que ao afetar a inflação com nível maior de pressão poderá exigir do BC elevação da SELIC.
Continuamos com a convicção de que o setor externo será o grande desafio da política monetária do governo neste período até o final do ano.