FED sancionou os “cinco frágeis” com o Brasil incluso! Difícil contestar

O governo brasileiro tem uma declarada repulsa quanto à inclusão do Brasil, por inúmeros analistas no mundo todo, no grupo dos “cinco frágeis” tendo como parceiros a África do Sul, Indonésia, Índia e Turquia, contra argumentando que tem reservas cambiais superiores as dos países citados, sem destacar tudo o mais que tem de negativo e os outros nem tanto.

Porém, a propensão à saída de capitais do Brasil é absolutamente maior por ter sido beneficiário de volumes de ingressos mais expressivos, e a tendência de ingressos é de absoluta redução, o que sugere que esta capacidade de solvência poderá vir a ser exigida efetivamente num quadro de agravamento de fluxos retirantes de capitais, já que não se vislumbra oportunidade de recuperação dos volumes de reservas cambiais que forem gastos no curto prazo.

 É notória a baixa propensão de dispêndio destas reservas por parte do governo, pois deve ter esta percepção bastante presente, visto que mesmo com fluxos insuficientes no mercado à vista tem optado por utilizar os bancos como tomadores de financiamentos de linhas de empréstimos geradas a partir das reservas cambiais, fazendo-os geradores da liquidez com a constituição de posições vendidas no mercado à vista, procurando preservar o estoque das reservas, considerando uma parca possibilidade de melhora dos fluxos para o país.

Contudo, quem destacou esta percepção negativa a respeito dos emergentes, chamados de cinco frágeis, entre os quais está incluso o Brasil com inúmeras menções, foi nada menos nada mais do que a nova Presidente no Federal Reserve americano, Janet Yellen, enfatizando-os como fonte de “vulnerabilidades econômicas e financeiras significativas”.

O FED reconhece que, desde meados do ano passado, quando sinalizou que iniciaria o processo de redução do programa QE envolvendo compra de ativos, houve aumento considerável nos juros de títulos dos emergentes. Salienta que este movimento acabou cedendo e os juros desses papéis se estabilizaram na maioria dos casos. Destaca, no entanto, que em alguns emergentes vulneráveis, os juros continuaram apresentando aumentos exagerados, especialmente Brasil e Turquia.

Mas, pontualmente, o FED destaca que as tensões observadas nos emergentes são reflexo de fatores, não só da decisão de sua decisão de reduzir as compras mensais de ativos pela instituição.

Observa ainda que no ano passado e mais recentemente, a deterioração nas condições financeiras variou entre as economias dos mercados emergentes, sugerindo que, mesmo com o “sell off” de ativos tendo ocasionado por fatores comuns, investidores estão respondendo de forma diferente, e assim Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia denotam que estão entre os mais afetados.

O diagnóstico do FED para o Brasil é preciso, embora não destaque de forma objetiva o que chamou de deterioração nas condições financeiras, mas o faz tão somente de forma sutil (citou “fatores”). Naturalmente seria deselegante e inoportuno o BC de um país detalhar com minúcias o que pensa do “status quo” deste ou aquele país, sinalizou contudo que tem a correta percepção das repercussões das medidas que está adotando na economia mundial e mais especificamente no emergentes, e que nem tudo que ocorre nestes países emergentes se pode atribuir como consequências das suas ações.

Evidente que há enormes diferenças entre os emergentes, e no caso brasileiro há significativas fragilidades no desempenho da economia que apresenta baixo crescimento; na politica econômica que sofre muitas criticas e restrições por ser ambígua e conflituosa; na politica fiscal que está deteriorada e continua expansionista; na dimensão do déficit em transações correntes, na deterioração da capacidade do país auto financiar este déficit com o ingresso de fluxos de recursos estrangeiros; na baixa capacidade investimentos para resolver as deficiências de infraestrutura que corroem a competitividade do país; na expressiva carga tributária que faz o país ser considerado caro, etc…

Isto tudo afeta negativamente a atratividade do país perante aos investidores estrangeiros, abrindo franca tendência de que os IED´s em conta capital sejam cadentes mais uma vez neste ano de 2014 como já o foram em 2013 em relação a 2012 e que os empréstimos “intercompany” não repitam 2013, num ambiente em que o déficit em transações correntes deve ficar no entorno de US$ 80,0 Bi, com a balança comercial dando sinais prematuros de que poderá repetir a mesma fraca performance de 2013 e, na ponta final, afetando também a atratividade de capitais voláteis, que já dão sinais de migração para as economias desenvolvidas e até emergentes em condições mais favoráveis.

Quando se observa o contexto geral, conclui-se sem muito esforço que o simples fato de determos reservas cambiais não é bastante para não considerarmos o país vulnerável.

O Brasil tem capacidade de solvência, mas têm enormes inviabilidades neste momento, o que só poderá ser superado com reformas, mudanças na política econômica, rigor na política fiscal, etc., nada solucionável no curtíssimo/curto prazo.

Por isso, a perspectiva de saídas mais intensas de recursos tem fundamentos sustentáveis e não há muito que fazer, havendo também em perspectiva a efetiva possibilidade do governo ter que vir utilizar as reservas cambiais para gerar diretamente liquidez ao mercado de câmbio.

Muito em razão disto, é que temos questionado em nossos “posts” diários: se o BC deve utilizar as reservas cambiais ou deixar o dólar ser apreciado, evitando um enfrentamento na busca de conter a valorização da moeda americana e simplesmente agindo para monitorar a liquidez sem buscar interferir no preço.

Por outro lado, colocamos ainda ontem a questão se o FED de Janet Yellen está pensando como o mercado. Na sua manifestação de ontem, Yellen deixou bastante evidente que a redução do QE continuará tendo sequência e que os resultados pouco favoráveis recentes não foram suficientes para alterar os conceitos sobre a evolução da economia americana, mas ressaltou que na questão do emprego ainda há um período longo para a acomodação satisfatória.

Mas, na sexta-feira próxima Janet Yellen terá oportunidade de colocar de forma mais abrangente seus posicionamentos a respeito da política monetária e, poder-se-á ter uma ideia das perspectivas em relação à elevação do juro americano, que tudo indica não ocorrerá no curtíssimo prazo.

Em suma, o Brasil tem problemas relevantes internos que o afasta do radar dos investidores estrangeiros e a queda de liquidez no mercado global provocada pela redução gradual do QE americano capitaneado pelo FED e a recuperação da economia americana e o fato de que há outros emergentes despertando atratividade para investidores estrangeiros, fomentam o movimento de saída de recursos.

Este contexto severamente adverso fundamenta de forma sustentável a tendência de depreciação do real este ano, podendo superar todas as projeções feitas, inclusive a nossa de R$ 2,50 ao final do 1º trimestre e R$ 2,60 ao final do ano.

 

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