Era quase consensual o corte de 0,25% na taxa de juro americana pelo FED, assim como era absolutamente consensual o corte de 0,50% na SELIC pelo COPOM, mas os hedge funds, tanto interna quanto externamente, apostavam num FED mais agressivo cortando 0,50% e não 0,25% e ainda revelando-se neutro sobre perspectivas como ficou sinalizado ao não deixar peremptória indicação de continuidade de cortes, fato evidenciado até no resultado dos votos decisórios.
O massivo movimento de venda de dólares no mercado futuro nos últimos dias conteve a taxa cambial no Brasil, deixando-a no intervalo de R$ 4,05/4,10, quando esperávamos que se situasse um pouco acima deste patamar para que o COPOM tivesse tranquilidade para reduzir a SELIC em 0,50% sem riscos de atropelos no mercado de cupom cambial e, eventualmente, ocorrência de disfuncionalidade.
Chegamos até a entender que o movimento denotava uma melhor percepção exterior a respeito do Brasil, a ponto de alterar as perspectivas de curto prazo, sinalizando uma expectativa de fragilização do dólar frente às moedas emergentes.
Mas, as sinalizações imediatas após os fatos consumados denotam que será necessária avaliação com maior acurácia, visto que existem muitos vetores externos e internos que poderão influenciar doravante a formação da taxa cambial local, mas de imediato a depreciação do real deverá ser a tendência.
A decisão do COPOM veio em linha com as expectativas e sinalizou bem a perspectiva de novos cortes, causando alguma surpresa a aparente despreocupação do Comitê com a questão fiscal, que entendemos ainda ser um ponto perturbador e não bem solucionado no curto prazo, mas está ancorada na baixa inflação e inércia da atividade econômica, se bem que no Brasil a questão é um pouco maior do que o juro baixo, pois há problemas pontuais como a ausência do, digamos, “espírito animal” por parte do setor produtivo um tanto quanto desmotivado para investimentos face à capacidade ociosa existente, com baixa perspectiva de recuperação mais aguda do emprego, renda e consumo.
A questão no momento é o mercado definir se vai adotar o viés de alta para o dólar num patamar mais elevado do que R$ 4,10 ou não e se vai manter o viés projetado de dólar ao preço de R$ 3,85 ao final do ano.
Acreditamos que de imediato o viés de depreciação do real frente ao dólar seja retomado para neutralizar a perspectiva de um percentual elevado de desvalorização cambial na composição do custo do cupom cambial já que o CDI já estava ajustado aos níveis da SELIC reduzida.
Se não ocorrer a depreciação ocorre a pressão advinda do cupom cambial que, acreditamos, provocaria a sua ocorrência e impactaria na taxa do mercado de câmbio à vista, com risco de disfuncionalidade, ainda que o BC continue com a sua oferta de dólares no mercado à vista, que seria fomentadora da apreciação do real não fosse combinada com oferta de swaps cambiais reversos no mercado futuro.
À margem do fato consumado em torno do juro americano e brasileiro, o que poderá ter impacto gradual no Brasil é o sentimento de que a percepção sobre as perspectivas para o país parece melhor externa do que internamente, fato que, contudo, ainda não se transformou em fluxo de recursos, mas sinalizam que há reconhecimento valorizando os avanços que vêm sendo obtidos pelo governo, internamente ainda muito neutralizados em propagação dado o acentuado ambiente de conflito ideológico, que, na maioria das vezes, tem levado o menos importante a preponderar neutralizando o mais importante.
Instituições estrangeiras importantes têm destacado que o país está no “caminho certo”, embora em velocidade lenta, o que pode ser uma evidência de retorno gradual da atratividade num momento em que o contexto mundial está absolutamente complexo.
O Brasil vinha até então sendo criticado pela inexpressividade do crescimento do seu PIB projetado em 0,85%, mas quando se observa grandes economias em situação pré-recessão já há algum conforto no Brasil, que detém excelente CDS, risco baixíssimo, juro baixo e inflação baixa, e que precisa de investimentos para gerar retomada da atividade econômica, envolvendo a recuperação do emprego, renda e consumo, e todos sabem a força do mercado consumidor brasileiro.
Não acreditamos em grandes impactos decorrentes da redução da SELIC, já precificada pelo mercado, e que, como todos sabem, não fomenta consumo já que as taxas de juros neste segmento são totalmente díspares e sem nenhuma sinergia com o fato, mas a queda de tão somente 0,25% no juro americano neutraliza um pouco as perspectivas de fluxos para os ativos emergentes.
Enfim, o mundo vem se acomodando com mudanças intensas nas políticas monetárias da grande maioria de países com peso na economia mundial, por isso assertivamente não há tendências consolidadas, mas momentâneas e efêmeras.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO