O discurso novo do ferrenho defensor da nova matriz econômica, desenvolvimentista, seguramente não convencerá no primeiro momento o mercado financeiro nacional e nem mesmo o mercado internacional.
Afinal, se a intenção é persistir na mesma linha de austeridade, absolutamente necessária para o país nesta fase de caos na economia e em especial na política fiscal, não há justificativa para a troca de Ministro, já que há somente uma direção se efetivamente a intenção for colocar o país, ainda que não imediatamente pela total impossibilidade, com perspectivas de que possa a partir de 2017 ou 2018 estabelecer um programa crível de retomada do desenvolvimento sustentável.
É bem verdade que o Ministro Barbosa tem uma vantagem sobre o ex-ministro Levy. Este foi surpreendido pelo estado deletério da economia no seu todo e pela dramática situação da política fiscal, que habilmente fora encoberta pelo governo para fins eleitorais. Barbosa, ao contrário, teve participação ativa na construção do caos encontrado, desenvolvido pelo ex-ministro Mantega, do qual era o colaborador maior e o Secretário do Tesouro.
Por isso há incertezas na sua determinação de desconstruir o desastre motivado pela nova matriz econômica, já que atualmente inexistem as condições que prevaleciam naquela oportunidade, que permitiram a gastança à larga e o estimulo descontrolado do consumo com acesso fácil ao crédito, afora benesses excessivas por parte do governo as classes mais baixas, que provocou, pela carência de recursos, a prática das denominadas pedaladas.
O “boom” das commodities é passado, as demandas reprimidas da população mais carente já foram exauridas e não se viabilizam novas demandas com crédito estimulando o consumo e as benesses se transformaram no grande pesadelo da inadimplência ao mesmo tempo em que as perspectivas para o emprego são efetivamente de desemprego crescente, com o PIB retrocedendo e a inflação aquecida.
O contexto atual é muito diferente, “o pior dos mundos”, e se for tentada a flexibilização do ajuste fiscal a resultante poderá ser traumática e levar o país a um estado de recessão muito mais intenso do que o atual e com perspectivas incontornáveis de agravamento ao longo de 2016.
Da euforia da conquista do grau de investimento vivenciamos agora a trajetória de volta com o downgrade do rating o país pelas agências especializadas. Embora um núcleo mais próximo do governo procure sempre desdenhar das agências de rating por seus equívocos em torno da crise instalada a partir de 2008, é inegável que não se pode deixar de considerar como fato relevante e altamente negativo à respeito do Brasil.
Ao ser confirmado por outras agências, promoverá a saída obrigatória por questões normativas de volume considerável de recursos estrangeiros e, também, por opção de risco, e, ao mesmo tempo, acentuará a contração de fluxos de recursos externos ao país.
O setor externo poderá sofrer um agravamento extremamente perturbador ao país, e o reflexo direto acabará repercutindo na formação do preço do dólar no nosso mercado.
A prática contumaz que vem sendo adotada pelo BC, venda de contratos de swaps cambiais para hedge e concessão de linhas de financiamento aos bancos para lastrear suas posições vendidas, através as quais geram liquidez para o mercado à vista, naturalmente têm limites de aceitabilidade pacifica pelo mercado, pois na eventualidade de ser ampliadas os agentes do mercado exigirão maior remuneração, pois o que ancora esta estratégia é a existência das reservas cambiais que atualmente já tem parcela considerável comprometida de forma indireta emprestando credibilidade.
Então, quanto menos deter o governo de reservas cambiais não comprometidas maiores terão de serem as remunerações ofertadas pelo BC, sendo inquestionável que isto será precificado na formação do preço da moeda americana no mercado interno.
Tudo leva a crer que a intenção da troca de Ministros tem por objetivo direto reduzir a política contracionista focando a recuperação da política fiscal com o intento de flexionar esta postura mixando com um programa de desenvolvimento.
Evidentemente, falar-se em programa de desenvolvimento neste momento é algo meramente semântico tanto quanto a propagação de que o Ministro Barbosa vá continuar cético na busca da austeridade focando a política fiscal.
O país ainda deverá ter um longo período de depuração que aprofundará a sua recessão e todos os malefícios, quais seja, queda do PIB, resistência da inflação, aumento do desemprego, com queda de renda e consumo, etc…. e elevação do conceito de risco no mercado internacional.
É praticamente impossível estabelecer um plano de desenvolvimento neste contexto, praticamente inexequível, mas é possível que tenhamos um para que o governo demonstre reação, muito embora fadado a tornar-se letra morta.
A reconquista da confiança e credibilidade no Brasil, por parte do empresariado brasileiro e internacional, é algo que demandará postura de extremo rigor por parte do governo e não é esta a percepção com a troca do Ministro.
O “status quo” da economia brasileira e sua política fiscal são extremamente dramáticos, não permitem, por mais que se anseie e deseje programa de restabelecimento da atividade econômica. Nada se pode fazer em concomitância sem que antes ocorra a depuração com todos os seus efeitos negativos. Por isso, se o governo e o novo Ministro perderem o foco na recuperação da política fiscal na busca de tentar reverter o sentimento crescente da população de que o pior está por vir, poderão provocar um agravamento muito mais sério no quadro atual.
Lamentavelmente, tudo indica que o rigor deverá ser menor.
Por isso, fica a questão: trocamos seis por …? Só o tempo dirá, mas os indicativos preliminares sugerem retrocesso na austeridade.