A estratégia adotada pelo BC de programa de oferta de liquidez mínima com ‘swaps cambiais” no mercado futuro e com oferta de linhas de financiamento (venda à vista com recompra futura) no mercado à vista, para que os bancos ancorem suas posições vendidas, revela-se eficaz passados os primeiros 25 dias.
Na realidade, a autoridade monetária após o período de enfrentamento operacional mais clássico contra os especuladores com baixo sucesso, com a nova estratégia mais pragmática, visou com precisão fustigar os focos especulativos de forma contundente. A especulação se estimulava nas perspectivas de que o BC seria levado a um “corner” devido aos fluxos de ingressos de recursos virem com desempenho desapontador e com a intensificação dos movimentos de saídas de recursos estrangeiros do país, levando o déficit em transações correntes a números bastante elevados, fomentando a percepção de que o país não conseguirá recursos externos suficientes para financiá-lo, o que imporia ao BC a venda ao mercado à vista de parte das reservas cambiais do país.
A visão prospectiva rigorosamente não mudou em termos de fluxo, mas a antecipação de que a disponibilidade adequada para a formação da liquidez do mercado estará disponível fragiliza a base que ancorava a especulação.
O BC, até 21 de agosto, vinha buscando conter o forte movimento especulativo que estava sendo montado com intervenções incertas de oferta de “swaps cambiais”, que até de certa forma, passaram até a promover movimentos voláteis para realização de lucro pelos especuladores, sem conter, entretanto, o viés de alta, já que a especulação ocorria com base num fator não inibido de incerteza e, por vezes, ancorada em análises precipitadas que previam o preço da moeda americana em entorno de R$ 2,70, sem exposição dos fundamentos.
Acreditamos que o “momento” para que o movimento especulativo fosse efetivamente detonado seria quando o BC fosse levado a realizar leilão de venda de dólares no mercado à vista, sinalizando a fraqueza insuperável pelo próprio mercado perante os fluxos de recursos estrangeiros adversos, impondo a utilização efetiva como venda final de divisas pela autoridade de recursos da reservas cambiais.
Adotando uma estratégia simples, porém inteligente, a autoridade monetária tirou as incertezas presentes no mercado de câmbio quanto à liquidez que fomentavam a especulação, com a introdução de um programa mínimo, já que pode ser elevado em seus valores, de oferta para o mercado futuro de “swaps cambiais” e com “linhas de financiamento” em moeda estrangeira para os bancos, possibilitando que pudessem adotar a prática de operar com posições vendidas, ancoradas nestas linhas, promovendo liquidez no mercado à vista.
Algo muito simples e objetivo e um tiro certo no ponto que alicerçava a especulação, que desta forma fragilizou-se ao perder a sua causa motriz do movimento especulativo.
Esta decisão do BC veio em linha com as nossas inúmeras colocações antecedentes postas em nossos comentários diários, nos quais sugeríamos a “massificação” da oferta por parte da autoridade monetária, promovendo mudança brusca sobre as expectativas que eram fomentadas sugerindo problemas para o país com o fluxo cambial que conduziria o BC a vender reservas ao mercado à vista.
Desde então, até o último dia 12, as posições no mercado futuro de dólar sofreram mutações relevantes.
Bancos reduziram suas posições líquidas vendidas em dólar futuro de US$ 14,3 Bi para US$ 9,9 Bi, algo em torno de US$ 4,4 Bi.
Investidores institucionais nacionais passaram de posições compradas líquidas de US$ 5,8 Bi para posições vendidas de US$ 1,6, um movimento reversivo de aposta contra o real de US$ 7,4 Bi.
Investidores estrangeiros elevaram suas posições compradas líquidas de US$ 6,9 Bi para US$ 9,1 Bi, um aumento de US$ 2,2 Bi, mantendo-se firmes na aposta contra o real, seguramente relutando para renunciar a parte dos ganhos e mantendo a expectativa sobre os reflexos decorrentes das decisões do FED.
Bancos reverteram suas posições “compradas” no mercado à vista de US$ 1,675 Bi no final do mês de julho para “vendidas” em US$ 4,190 Bi no final de agosto, em decorrência da geração de liquidez para o mercado, que foi ancorada por vendas de linhas de financiamento com recompra pelo BC no montante de US$ 4,110 Bi a partir do dia 22 de agosto até o final do mês.
Os dados mais recentes do BC indicam que em 6 de setembro os bancos já deveriam estar “vendidos” no mercado à vista em US$ 6,3 Bi e haviam tomado mais US$ 986,0 Mi em linhas do BC.
Com esta estratégia o BC procurou atenuar ao máximo o conteúdo especulativo na formação do preço da moeda americana, deixando-a em parâmetros compatíveis com os fundamentos efetivos presentes impactantes no mercado de câmbio.
É extremamente importante entender que no programa que está sendo desenvolvido não há redução das reservas cambiais brasileiras, no conceito de liquidez internacional, salvo pelo conceito de caixa já que há desembolso dos dólares emprestados aos bancos e que será retornado posteriormente.
Não há, portanto, o que alguns analistas denominaram como “torração” das reservas cambiais, até porque “swap cambial” não envolve moeda física e sim seu preço como referência versus juros e é liquidado por diferença em reais.
O que ocorre é que levando os bancos a operar com posições vendidas, mediante fornecimento de linhas de financiamento, que certamente estão sendo objeto de “hedge” por parte dos mesmos, o BC trabalha com a expectativa de melhora dos fluxos de recursos externos, em especial oriundos das licitações/concessões, para recuperação da infraestrutura do país.
Os jornais destacaram que os “players” do mercado futuro na ponta de “swaps cambiais” tiveram, até quinta, perdas da ordem de R$ 5,5 Bi, visto que o total de depósito de ajustes do BC foi reduzido de R$ 7,2 Bi para R$ 1,7 Bi.
Mas esta é uma consideração que tem vasos comunicantes com outros aspectos. Por exemplo, o TN/BC perde com a apreciação do real, pois impacta sobre o estoque das reservas cambais, etc.
O que é relevante é que o preço da moeda americana, que teve depreciação em torno de 6% no período, está sendo operacionalizado dentro de parâmetros simétricos com os fundamentos, o que atenua as pressões exacerbadas sobre a inflação.
O país efetivamente convive com um cenário adverso nas suas contas externas. Os fluxos de recursos para IED´s revelam forte tendência de insuficiência para cobrir o total do déficit em transações correntes e não encontram nos demais fluxos respaldo para a complementaridade necessária da necessidade de financiamento externo e este é um fator de impacto na formação do preço da moeda americana.
Afora este fator de direta influência na formação do preço, temos uma política econômica pouco clara, consequência da necessidade do país crescer e estar convivendo com alta inflação, o que torna inviável dado o conflito decorrente do antagonismo entre as medidas pró-crescimento e pró-contenção da inflação. A resultante previsível nestas circunstâncias, em que não há escolha do que será priorizada é o insucesso, revelado pelo baixo crescimento e continuidade da alta inflação.
O crescimento brasileiro tende a um PIB de 2,0% e uma inflação muito próxima do teto da meta que é 6,5%, mas na realidade é notório que estaria em torno de 8% ou pouco mais se não estivessem sido represados aumentos no setor de energia e combustíveis, afora um grande esforço implementado de desonerações.
O país precisa de investimentos, por isso, há grande expectativa, também passando pelo câmbio, quanto ao sucesso das licitações/concessões para a recuperação da infraestrutura do país, visto que o modelo de crescimento baseado na demanda atrelada ao crédito mostra exaustão.
No nosso entendimento, os fundamentos face ao contexto do país no setor externo dão sustentabilidade a taxa cambial entre R$ 2,25 e R$ 2,30, podendo haver alguma pressão de demanda com impacto no preço caso o FED adote alguma medida dando início ao desmonte do seu programa de incentivo monetário à economia americana. Se isto vier a ocorrer, o BC precisaria ofertar volumes maiores de linhas de financiamentos aos bancos, ao mesmo tempo proporcionar-lhes “hedge” com oferta de “swaps cambiais”, afora a necessidade de rolagem das linhas e destes instrumentos até que o fluxo cambial entre em ritmo de recuperação.
Não vemos, mantida a estratégia da autoridade monetária e a disposição dos bancos em operar no mercado à vista com “posições vendidas”, riscos de exacerbação da taxa cambial para o final do ano. No máximo até R$ 2,35, mas há possibilidade de que possa até fechar o ano mais próximo dos R$ 2,30.