Diferentemente do que se possa imaginar, a manutenção da estratégia de vender dólares à vista combinado com oferta de swaps reversos pode ter o objetivo de dar sustentação ao preço do dólar estável no entorno de R$ 4,15 pelo Banco Central do Brasil, entendendo que este seja o “nível de normalidade”, já pontuado recentemente pelo Presidente da instituição em palestra, atendendo a conveniência de momento, enquanto a maioria, inclusive nós, ficamos com o entendimento de que a autoridade esteja efetivamente buscando o ajuste da mesma.
Em tese pode não ser crível esta premissa, mas a atitude pode induzir a este entendimento, tendo ao fundo a busca de uma dinâmica que motive o setor produtivo a exportar, ainda que com o cenário externo pouco favorável, buscando tirá-lo do desalento e visando repor vitalidade a retomada a atividade econômica.
Se procedente a ilação, naturalmente pode se entender também que estão sendo reduzidas as possibilidades de cortes tão incisivos, como enfatiza o mercado financeiro, na taxa SELIC, conduzindo-a de 6% para 5% aa., que promoveria uma proximidade com a taxa de juro do FED americano, o que se tornaria preocupante pelos entraves que poderá ocasionar nas operações derivativas do mercado de câmbio, a partir do custo do cupom cambial, e desta forma seria mitigada com a manutenção da SELIC.
O que poderia ser mais útil no momento, o dólar com preço exacerbado para tentar reanimar as exportações brasileiras e a partir daí dar à atividade econômica o dinamismo que o mercado interno não está dando, mesmo se sabendo do momento global desfavorável, ou a SELIC baixa para estimular investimentos internos com o setor produtivo se configurando pouco reacionário ao fato, dada a inércia da atividade econômica?
Seria um esforço para redinamizar as exportações brasileiras e encarecer as importações e com isto conquistar a recuperação do fluxo cambial comercial?
Na sequência dos dias ou semanas haverá melhores condições para a aferição desta hipótese.
Enfim, cada vez mais se vê o preço da moeda americana distante dos R$ 3,80 que ainda tem sido projetado para o final deste ano.
Por outro lado, a manutenção da SELIC num ambiente que envolva uma redução da taxa de juro do FED americano pode desmotivar os nacionais detentores de dívidas externas do intento de trocá-las por dívidas nacionais e assim contribuírem para a piora do fluxo cambial financeiro.
Enfim, dada à intempestividade das ações intervencionistas do BC deixarem dúvidas quanto a efetiva estratégia, até as ilações aparentemente absurdas podem ser validadas.
O exposto pode não ser crível, mas não inimaginável.
Afinal, a questão do câmbio mudou estruturalmente em decorrência de inúmeros fatos novos inseridos no contexto, por motivos internos e externos, e num tempo em que o uso das paridades monetárias já foi sinalizado como factíveis de envolvimento nas disputas de competitividade no mercado internacional, inclusive até com o fator juro também e que tem sido enfaticamente reivindicado pelo Presidente americano por parte do FED, não seria tão descabido imaginar que o Brasil, cuja atividade econômica revela inércia, possa estar tentando motivar o setor produtivo pela oportunidade de exportar.
Contudo, à margem da hipótese levantada estilo “Maquiavel”, acreditamos, retomando a sensatez, que o BC deva agir efetivamente focando mitigar a expressividade da depreciação do real frente ao dólar por acreditar que há um “valor agregado na taxa” decorrente da disfuncionalidade que atinge neste momento a formação da taxa cambial.
Com a mudança do patamar da taxa cambial no Brasil face às mudanças estruturais no entorno da formação de preço, acreditamos que o novo piso fundamentado estaria em torno de R$ 4,00, até porque são fatores técnicos sujeitos a ajustes e que não passam por carência de reservas cambiais ou risco cambial, mas tão somente pela queda acentuada do fluxo cambial, e exatamente neste ponto que entendemos que o Banco Central do Brasil precisa agir com contundência e de forma pontual, ofertando considerável (diferença entre posições vendidas dos bancos e total de linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra “em ser”) volume de dólares à vista.
Ao BC não compete “construir” a taxa cambial que deve decorrer da confluência dos inúmeros vetores de influência, contudo cabe ao BC agir “profilaticamente” para conter fatores atípicos que possam estar distorcendo o preço.
O câmbio é uma peça extremamente importante no contexto da economia dos países, e, no Brasil igualmente, e se desestruturado pode causar repercussões desestabilizadoras, como a contenção do corte da SELIC, num ambiente que sugere isto, e não haverá até quem, contraditoriamente à opinião predominante, levante a voz postulando a sua elevação para mitigar os efeitos danosos na formação da taxa cambial.
Em tempos de normalidade o câmbio fora do ponto seria altamente influenciador da alta da inflação, o que pode não ocorrer no momento dada a inércia da atividade econômica que inibe os repasses aos preços, porém inevitavelmente impactará nos custos dos transportes, fato relevante já que o modal brasileiro de transportes é 70% rodoviário, que poderão se expandir em grande parte dos preços relativos.
O que ocorre no câmbio no momento, a despeito de ter-se uma boa noção sobre as causas, é uma incógnita dada a postura de “mais do mesmo” por parte do BC, que já permite inúmeras ilações.
Hoje é dia da PTax, taxa referencial para os ajustes dos contratos referenciados em moeda estrangeira, e, como sempre, se espera disputa entre comprados e vendidos, o que causa volatilidade e afeta as convicções sobre tendências.
Setembro chega com o anúncio de que o BC ofertará US$ 11,6 Bi de dólares no mercado à vista combinado, casado, com oferta de swaps cambiais reversos.
No nosso entender deveria ofertar os US$ 11,6 Bi no mercado à vista, mas sem operação casada com oferta de swaps cambiais reversos.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO