Quando o Ministro Levy sinalizou que não desejava que o preço da moeda americana deixasse de ser artificializada, a reação foi imediata e houve relevante correção.
Naturalmente o Ministro visava fazer do preço ajustado do dólar o instrumento impulsionador da atividade industrial combalida, ao proporcionar-lhe maior competitividade com os produtos importados no mercado interno e, também e principalmente, no comércio exterior, que deveria ter como reação imediata investimentos para aumentar a produtividade.
Afora isto, havia um beneficio às commodities agrícolas e metálicas que sofriam um debacle nos preços externos e assim teriam uma relativa compensação com uma taxa de conversão dos valores de suas exportações para a moeda nacional.
E mais, provocaria maior atração pelo país pelos capitais especulativos externos, de vez que eliminaria boa parte do risco cambial que a moeda americana com seu preço artificializado continha para os investidores estrangeiros.
Passados 5 meses desde o inicio deste governo vemos a indústria em franca retração sem apresentar a reação esperada pela nova equipe econômica; a fase das exportações agrícolas está passando e os investidores especulativos externos, a despeito da excelente taxa de juro e oportunidades na Bovespa, não demonstraram excessivo interesse por estes atrativos, de vez que a correção havida e que potencialmente ainda deve ocorrer tornam arriscados os ganhos efetivos em moeda estrangeira.
O que se presencia é que a inflação se fortaleceu devido a inúmeros fatores, um dos quais o preço ajustado do dólar que, contudo, não proporcionou os retornos esperados em termos de maior atividade econômica e fluxos cambiais.
O país continua precisando ancorar a credibilidade da moeda nacional com um estoque relevante de contratos de swaps cambiais da ordem de US$ 110,0 Bi; bancos com posições vendidas de US$ 13,0 Bi gerando liquidez no mercado à vista e fluxos cambiais líquidos com tendência cadente e balança comercial com desempenho frágil.
Com este cenário desapontador face às expectativas nutridas ante valorização do dólar, não é possível se descartar a hipótese do BC estar “administrando” o preço da moeda americana mantendo-o abaixo de sua tendência para mitigar pressões inflacionárias mais fortes.
O BC, por seu Diretor Awazu, garantiu que o BC persistirá sendo vigilante ante a inflação e o propósito de obter a convergência do índice para a meta, e pode ser que isto já não seja mais um objetivo de conquista somente com a alta da SELIC, mas também com a retirada de pressão do preço do dólar.
A economia brasileira persiste em gerar cada vez mais dados desalentadores, apontando para a realidade de que não terá condições de responder aos anseios do ajuste fiscal por pura incapacidade, e por isso não se descarta que o dólar esteja agora sendo administrado para exercer menor pressão inflacionária.
Há espaço excessivo para volatilidade, como se verificou ontem, deixando a impressão de que ocorre excesso de contratos de swaps cambiais no mercado de câmbio futuro e, também, que parte do capital especulativo que vem adentrando o país tem breve estada e está permanecendo aqui sem realizar “hedge” ainda que parcialmente valendo-se dos movimentos de apreciação e depreciação estimulados.
Ontem houve razões para pressão maior desvalorizando o real, seja pelos novos números ruins em torno do emprego industrial, folha de pagamentos, etc.., sejam pelos excelentes números na área de moradia nos Estados Unidos.
Houve também o anuncio de criação de um Fundo de US$ 50,0 Bi Brasil/China para obras de infraestrutura, mas é importante observar que este é um recurso que se dilui no tempo e mais, os recursos são para FINANCIAMENTO de projetos de infraestrutura e não para o investimento direto, portanto precisam aparecer os empreendedores.
O fato é que a volatilidade inibe os negócios e não permite que se estabeleçam estratégias já que gera insegurança.
Todo o contexto induz o real a maior depreciação nesta fase em que as expectativas estão altamente contaminadas por incertezas.
O sucesso ou insucesso das medidas de ajuste é que determinarão o preço futuro e de final do ano.