Os especuladores estão irritados por não ter a capacidade de exacerbar tanto quanto desejavam o preço da moeda americana, então procuram se prevalecer de um número infindável de pesquisas eleitorais, cada qual com indícios de viés ideológico, para num esforço quase final desafiar o BC a intervir no mercado e desta forma validar uma demanda que não existe em termos efetivos.
O BC tem consciência deste fato e se mantém ausente sabendo que está sendo provocado por um movimento fictício, construído pelos especuladores e que nada tem a ver com a realidade, e também que se intervir validará como verdadeiro esta ocorrência irreal e pontual.
É verdade que o que fomenta este movimento especulativo é a parcela da excessiva oferta de contratos de swaps cambiais que o BC vendeu ao mercado sem que esteja vinculado à qualquer passivo em moeda estrangeiro mas adquirido para pura especulação.
Temos exaustivamente, ancorado em fundamentos, defendido a ideia de que não há sustentabilidade no movimento de exacerbação do preço da moeda americana no mercado brasileiro.
O Brasil, como já salientado e especificado, tem uma situação bastante confortável na questão cambial, nenhum risco de crise cambial, nenhum risco de movimento de fuga de capitais intempestivo, visto que os detentores de recursos estrangeiros no país estão protegidos por “hedge”.
Este quadro de solidez cambial do país e o fato dos detentores de recursos externos estarem protegidos fazem com que o mercado em si quase que ignore o movimento especulativo que tinha intenções mais agressivas, mas que agora se revela impotente para aviltar especulativamente o preço do dólar não mais do que 10%, sem sustentabilidade que vai se tornando perceptível.
A problemática brasileira, suas fragilidades, concentra-se na questão da atividade econômica e expressiva crise fiscal que tem poucas perspectivas de superação nos próximos dois anos, seja quem for o Presidente eleito, com grande risco de ser mais longa se não houver foco reformista e gestão de rigor nos gastos governamentais.
A situação cambial brasileira está imune a ocorrência de crise, seja qual for o Presidente eleito, por isso as apostas que ultrapassaria o preço de R$ 5,00 ou mais não se confirmam, e diríamos, está mais propenso a retornar gradativamente ao ponto de equilíbrio de R$ 3,80, mesmo com ferrenha atividade dos especuladores focando conter a queda.
A dinâmica da atividade econômica, na realidade, é um foco pertinente e que tem potencial de impactar nas expectativas do comportamento da Bovespa, que é dependente dos bons resultados empresariais que por sua vez dependem do dinamismo da atividade econômica.
Os investidores estrangeiros estão, certamente, observando as tendências que agora passam a ser mais perceptíveis no cenário eleitoral, mas não tem, ainda, razões efetivas para a decisão de deixar o mercado acionário brasileiro, até porque não tem preocupações com o comportamento do câmbio.
Mas esta possibilidade de realização deve estar no radar do mercado.
O impacto imediato com as perspectivas menos favoráveis que já se vislumbram, mas ainda não se confirmam, ocorre no mercado de juro que já sinaliza expressiva alta. Esta, sim, é uma consequência que já se antecipa consubstanciada numa visão negativa em torno da sucessão presidencial.
A volatilidade no câmbio deve persistir, visto que não decorre de movimentos operacionais efetivos, mas sim construídos com este objetivo e esta é uma provocação a autoridade monetária, que, contudo, tem demonstrado sensatez e perfeita compreensão sobre o que ocorre.
É perceptível pelo nível de oscilação que há um viés de baixa do preço e um esforço presente de evitar, o que até provoca oscilações atípicas que ajudam a desacreditar o movimento.
O desmanche deste movimento sobre o preço do dólar é uma questão de tempo, e deverá retornar ao entorno de R$ 3,80.
Reiteramos que a comunicação do BC continua falha, já que a autoridade monetária deveria ser mais incisiva em atitudes para desacreditar de forma fundamentada o movimento especulativo instalado.
Por mais irônico que possa parecer, quando o engraxate, o feirante ou o dono da padaria fazem do dólar os seus temas de conversas, tenham certeza, está na hora de vender.
Já chegamos a este estágio.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO